30 de junho de 2007

Dizer bem…

Há iniciativas que merecem grandes auditórios...
Esta é uma delas!

São alunos de uma turma que irá passar para o 8ºano de escolaridade na ESCOLA BÁSICA 2,3 DE AZEITÃO.

(Mais informações aqui...)

28 de junho de 2007

Dizer bem

“Compromisso Portugal diz que Governo corre risco de falhar objectivos para a educação.” (In: Público, 28.06.2007)
O Henrique e a Maria Lisboa merecem o meu apreço: pela persistência em denunciar sucessivos atropelos a direitos fundamentais; e pela astúcia que denotam ao desmontar discursos "do lobo em pele de cordeiro".
Bem hajam!

27 de junho de 2007

(I)Lógicas…

Há lógicas que me escapam, como por exemplo, a lógica que subjaz à elaboração dos planos de estudo.
Sei que não é despicienda a organização curricular, a gestão da carga horária, a duração do curso, a tipologia da certificação. Não irei por aí para não transformar esta entrada num labirinto conceptual.

O que me deixa intrigado, e espero não estar a meter a foice em seara alheia, é a diferenciação da carga horária semanal nas disciplinas de Língua Portuguesa e de Educação Física, por exemplo, em diferentes cursos de educação e formação (CEF). Não discuto a relevância destas duas disciplinas na componente de formação sociocultural (este nome pomposo não fui eu que o inventei) nem procuro “homogeneizações” que se imponham através do primado do administrativo sobre o pedagógico.
Eu quero perceber as razões pelas quais a disciplina de educação física tem apenas uma carga horária semanal de 30 horas num curso de electricidade e de 48 horas num curso de jardinagem.
Eu estou curioso para saber por que razão a língua portuguesa tem de ser mais ou menos exigente num e noutro curso.
Eu sei que os cursos estão classificados com tipos e níveis diferentes. E daí?

As minhas 7 maravilhas da blogosfera

Ora aqui está mais uma iniciativa que vem mesmo a calhar nesta semana do v(b)em-dizer. E se há momentos em que não me importo de ser repetitivo é no momento de elogiar. O João Paulo do Diário de um professor considera este cantinho uma das 7 maravilhas da blogosfera. Ora vejam lá! É uma nomeação simpática, que me lisonjeia, mas que é uma qualificação claramente desmedida e que eu irei relativizar.

A ideia partiu daqui e visa reconhecer publicamente o esforço, a dedicação e o talento para a arte de blogar de alguns dos nossos congéneres. Passarei ao lado do concurso [com regulamento ;)] para reforçar apenas o lado positivo da iniciativa.

Porque eleger é excluir, vou excluir todas as outras maravilhas que o meu leitor de RSS assinala sempre que ocorre uma actualização [refiro-me a todos os links da barra lateral e uma dúzia de blogues que ainda não tive oportunidade de actualizar mas que se encontram dentro da pasta dos meus favoritos], vou excluir também [esta exclusão é táctica ;)] as minhas mais que maravilhas que partilham alguns dos meus cantinhos [o Miguel, a Maria Lisboa, as Teresas, a Isabel, o Henrique, a Tit, a Ana e o tsiwari], as minhas 7 maravilhas da blogosfera são as seguintes:

O Manel é a maravilha cúmplice, que vem de longe
O Paulo é o “menino” maravilha da blogosfera, é o Ronaldo cá do burgo ;)
O JMatias é a maravilha da (in)formação diversa
A Idalina é a maravilha efervescente
O Henrique é a maravilha acutilante
O Zé Manel é a maravilha da ruptura
O Karadas é a maravilha que se divide em dois cantinhos, o cantinho do glorioso e o cantinho da educação

Adenda: Estou à espera que as minhas mais que maravilhas tenham entendido a acção táctica… Vamos lá dar a conhecer outras maravilhas aos congéneres! (esta do congéneres dá uma ar mais sério à coisa eheheh;)

26 de junho de 2007

20…

Não é todos os dias que atribuímos 20 valores!
Hoje, estou ainda mais feliz … :)

25 de junho de 2007

Pelos alunos…

Depois da piada asséptica da entrada anterior, é tempo de falar de coisas sérias.
Passo ao lado da entrevista Público/RR/RTP2 de Fernando Adão da Fonseca, consultor do conselho de administração do Millennium BCP e presidente do Fórum para a Liberdade de Educação. Não quero destacar as incongruências de um discurso conservador travestido de neoliberal. Também não irei comentar a reportagem, no mesmo jornal, de viagens de finalistas que virou moda nos infantários e escolas do 1º ciclo. E muito menos me prenderei com estas declarações de António Pinheiro, director do Jardim-Escola João de Deus, de Matosinhos, que este ano levou os alunos do 4.º ano quatro dias à Eurodisney: "Às vezes penso se não estaremos a exagerar. Mas houve uma mudança social, hoje estão a queimar-se etapas. As crianças de dez anos são muito mais adultas e muito mais inteligentes do que nós éramos na nossa altura".

É tempo de abrir este período, este estado de graça, para louvar o trabalho dos meus alunos do curso tecnológico de desporto, que tão bem souberam interpretar o seu papel em contexto de estágio. Os convites, que alguns deles receberam das entidades de acolhimento para dar continuidade ao seu trabalho, têm um significado especial, pelos constrangimentos vividos, pelos preconceitos vencidos… E por aqui me fico…

Bem-dizer…

Aderi com agrado à proposta da Idalina e penso cumprir escrupulosamente a semana do bem-dizer. Não sei se a escolha do período foi intencional mas, a meu ver, o momento não podia ser mais oportuno depois da festança são-joanina. Creio que precisarei de uma semana para deixar que o antiácido cumpra a sua função... é um 1 em 2… ;o)

24 de junho de 2007

Uma má governação!

Antes de entrar num período de “estado de graça”, há que responder à questão do Manel: qual a analogia que fazes, a partir deste relatório, com a escola, com a nossa escola?

Se os princípios de uma boa governação são transversais e independentes da organização, o ME tem governado mal o sistema escolar.
Porquê?

Participação - Todos devem ter voz nos processos de tomada de decisão, quer directamente, quer através de instituições que representam os seus interesses. Esta participação alargada é baseada na liberdade de associação e de expressão, bem como na capacidade de participar de forma construtiva.
Comentário: As sucessivas tomadas de posição dos sindicatos da frente comum durante as negociações do ECD e a recente trapalhada que envolveu a APM são reveladoras do modo como o ME se posiciona na negociação: tem estado orgulhosamente só. E mesmo a CONFAP, um parceiro importante para o ME no período inicial da ofensiva contra a classe docente, parece ter perdido a chama depois dos problemas com os exames nacionais do ano transacto.

Orientação de consensos - Mediar diferentes interesses de modo a atingir um consenso alargado naquilo que é o melhor interesse do grupo, e quando possível, nas políticas e nos procedimentos.
Comentário: Quem é que não se lembra da frase: “perdi os professores para ganhei a população”? O lema parece ser o dividir para reinar…

Visão estratégica - Perspectiva de longo prazo, tendo em conta os aspectos históricos, culturais e as complexidades em que é baseada, na boa governação e no desenvolvimento humano, tomando por referência o que é necessário para tal desenvolvimento.
Comentário: Visão estratégica ou a falta dela. Onde nos levam os modelos neoliberais na educação?

Resposta - As instituições e os processos tentam servir todos os interessados.
Comentário: Paradoxalmente, o ME deixa os professores no “lugar do morto” (uma expressão utilizada pelo professor António Nóvoa para explicar os processos de exclusão dos professores) nos processos de racionalização do ensino.

Efectividade e eficiência - Os processos e as instituições produzem resultados que satisfazem as necessidades, tendo em conta a melhor utilização possível dos recursos.
Comentário: É evidente que este ME foi capaz de gerar resultados que satisfazem as necessidades de redução da despesa. A obsessão pela eficácia acabará por transformar a escola numa cadeia de montagem de activos profissionais para necessidades de curto prazo. Atendendo à volatilidade do mercado profissional, esta ideia de escola mercantil estará condenada ao insucesso.

Prestação de contas e responsabilização - Os agentes de decisão (governo, sector privado, sociedade civil organizada) são responsáveis perante a população bem como perante os interessados institucionais.
Comentário: Há algum político ou ex-político que tenha reconhecido um erro de governação? Humildade política é um conceito que não tem lugar no léxico político. E no sector educativo nem precisamos de recuar muito no tempo: onde está(ão) o(s) responsável(eis) pelo erro da repetição dos exames nacionais do ano transacto?

Transparência - Os processos, as instituições e a informação estão disponíveis para aqueles que estejam preocupados. É fornecida informação suficiente para os entender e monitorizar (fluxos livres de informação).
Comentário: Basta um exemplo, o actual processo relativo ao concurso dos professores titulares: porque razão não são disponibilizadas online as listas das vagas a concurso?

Equidade - Todos têm oportunidades de se envolver nos processos de decisão para melhorar e manter o seu bem-estar.
Comentário: O modo unilateral como se fracturou a carreira docente. Como disse atrás, ao contrário do que sucedera no passado, o governo rompeu unilateralmente um acordo que os governos antecessores se comprometeram a cumprir e a respeitar. Como “pessoa de bem”, o Estado deve respeitar os contratos com os cidadãos do mesmo modo que deve exigir aos cidadãos o cumprimento das suas obrigações contratuais com o Estado, podendo inclusivamente exigir esse cumprimento de forma coerciva.

Primado da lei - O enquadramento legal deve ser justo e imparcial, particularmente as leis dos direitos humanos.
Comentário: Será melhor aguardar pelo desenlace do caso Charrua...

22 de junho de 2007

A competição (desportiva) em exame…

“[…] É natural que os alunos não gostem de exames. Os professores também não. Mas os exames, aqui ou em qualquer parte do mundo, são necessários. Mais: são indispensáveis para ver o que é que se aprendeu. No nosso ensino superior, temos exames a mais. Em contraste, no nosso ensino básico e secundário, temos decididamente exames a menos. Os exames nacionais têm estado quase reduzidos aos do 12.º ano (as chamadas "provas de aferição" não são exames: eram feitas apenas por amostragem, são anónimas e não contam para o percurso escolar do aluno; e os exames do 9.º ano são muito limitados, contando só 30 por cento para a nota). E, o que é pior, os poucos exames que há têm sido mal concebidos: às vezes não passam de meras charadas e chegam a conter erros grosseiros (o mais famoso ocorreu num exame de Geometria Descritiva, no qual uma recta só poderia ser tangente a uma circunferência com o auxílio de um "lápis grosso"!). Em resultado dessa escada com um só degrau, os alunos chegam ao ensino superior sem o traquejo que apenas pode ser dado por um sistema de avaliação progressivo e rigoroso. Como podem jovens que não fizeram treinos nem suficientes nem suficientemente árduos entrar de repente em jogos de alta competição? […]” [Carlos Fiolhais, Público, 22/06/2007]
Este destaque foi retirado de um artigo de opinião, no jornal Público, do blogger Carlos Fiolhais. Vou servir-me da sua analogia (jogos de alta competição e exames escolares) para demonstrar precisamente o contrário do que é defendido neste artigo: que os exames devem fazer-se porque é preciso dar o traquejo às crianças e jovens para a realização de exames no ensino superior. Ora, a meu ver, a defesa dos exames no ensino básico e secundário sustentada pelo argumento de que na competição desportiva de crianças e jovens as competições obedecem aos mesmos quadros de referência das competições realizadas pelos adultos é equívoco como se perceberá mais adiante.

Observemos algumas referências a investigadores que se dedicam ao estudo da competição no desporto para crianças e jovens:

A competição é intrinsecamente positiva e a participação em actividades competitivas dá a oportunidade para desenvolver as competências, na procura da excelência, da superação (Drewe, 1998).
No desporto de alto rendimento a competição é o quadro de referência para a organização do treino; no desporto de crianças e pubescentes, a competição deve constituir uma extensão e complemento do treino” (Marques, 1999: 26). As competições devem servir os propósitos da formação, e por isso, devem estar ligados não só no plano organizativo, como nos conteúdos (Weineck, 1983).

As competições devem ser encaradas numa óptica de progressão, mesmo num quadro que visa a preparação de atletas para o alto nível. Nas primeiras fases, o divertimento e o prazer são os objectivos primeiros, existindo de seguida uma evolução posterior até se chegar às competições olímpicas (Bompa, 2000).
O que se pretende é introduzir alterações na competição de forma a torná-la mais adequada aos objectivos de formação: por um lado, contribuindo para o desenvolvimento da multilateralidade, não só uma multilateralidade geral – competições múltiplas (Rost, 2000) – como uma multilateralidade específica – adequada às necessidades de cada desporto (Marques, 1997); e por outro lado, estimular o desenvolvimento de pressupostos de prestação que já são treináveis nas primeiras fases da preparação desportiva – desenvolvendo preferencialmente os pressupostos coordenativos.

Se as alterações na estrutura e regulamentos das competições começam a deixar de gerar resistências por parte dos responsáveis pelas actividades físicas dos mais jovens, a alteração do conteúdo das competições já é defendida por um número crescente de especialistas (Rost, 2000; Lima, 2000).
No que diz respeito à relação entre o treino e a competição, importa sublinhar o facto de a competição servir para ajudar os jovens a prepararem-se para as exigências do desporto de alto nível. Segundo Tschiene (1995, cit. por Marques, 1996), no estádio de treino de base, as competições devem constituir-se como forma de treino e de carga, e servirem como reforço da motivação para o treino. Ao longo da etapa de especialização aprofundada, vamos assistindo a uma alteração progressiva nos objectivos das competições. Se inicialmente as competições continuam a constituir-se como formas de treino especializado, vão com o tempo, assumindo o seu papel de comparação de rendimentos. Um quadro de especialização acelerado do sistema de competições promove a especialização precoce dos jovens desportistas, que de uma forma legítima procuram alcançar o sucesso nas competições em que participam. Por esta razão, a especialização progressiva no sistema de competições deve ser feita em estreita compatibilidade com o grau de especialização do treino (Marques, 1999).

Martin (1999) considera que os objectivos de treino não podem ser orientados para os melhores resultados individuais alcançados no momento, em termos de rendimento. “Aquilo que é importante é respeitar as tarefas de cada etapa de treino, os seus objectivos e os seus conteúdos e procurar alcançar os níveis previamente determinados da capacidade de rendimento e dos pré-requisitos. (...) Uma vez que o treino de jovens tem um carácter e funções de perspectiva, os objectivos e conteúdos de treino devem atender à multilateralidade e à especialização temporal” (Martin, 1999:57).

Regressando ao tema de entrada, os exames devem subordinar-se aos objectivos de formação das capacidades dos alunos do mesmo modo que a competição desportiva deve subordinar-se aos objectivos da formação das competências psico-motoras dos jovens praticantes.

Bibliografia consultada:
Bompa, T. (2000). Planeamento a longo prazo: o caminho para a alta competição In: Adelino, J.; Vieira, J.; Coelho, O. (Coord.) Treino de Jovens. pp. 139-150. Ed. CEFD. Lisboa.
Drewe, S. (1998). Competing Conceptions of Competition: Implications for Physical Education. European Physical Education Review. 4, (1), 5-20.
Marques, A. (1997). A preparação desportiva de crianças e jovens – O sistema de competições. In: Guedes, O. (Org.). Atividade Física: Uma abordagem multidimensional. João Pessoa, Ideia. Brasil.
Marques, A. (1999). Crianças e Adolescentes Atletas: entre a escola e os centros de treino... entre os centros de treino e a escola! In: Adelino, J.; Vieira, J.; Coelho, O. (Coord.) Treino de Jovens. pp. 17-30. Ed. CEFD. Lisboa.
Martin, D. (1999). Capacidade de Performance e Desenvolvimento no Desporto de Jovens In: Adelino, J.; Vieira, J.; Coelho, O. (Coord.) Treino de Jovens. pp. 123-134. Ed. CEFD. Lisboa.
Lima, T. (2000). Competições para jovens. In: O melhor da revista treino desportivo. pp. 235-248. Ed. CEFD. Lisboa.
Weineck, J. (1983). Manuel d’Entrainement. Vigot, Paris.

21 de junho de 2007

Procura uma boa governança?...

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) tem como finalidade proporcionar [..] uma análise precisa, periódica e independente da evolução do sistema de saúde português e dos factores que a determinam. O propósito é facilitar a formulação e implementação de políticas de saúde efectivas. […] O OPSS produz anualmente um relatório síntese da evolução do sistema de saúde português (Relatório de Primavera), e elabora e publica trabalhos técnicos relacionados com este tema .
O Relatório de Primavera 2006 faz uma análise exaustiva de um conjunto de conceitos (governação, boa governação, governação em saúde, e stewardship) e procura chamar a atenção para as múltiplas dimensões da governação.

[...] Princípios de boa governação
Em termos gerais, a governação é definida como o conjunto de acções e de meios adoptados por uma sociedade para promover a acção colectiva e para lançar soluções também colectivas na procura de objectivos comuns. A governação engloba, assim, todos os métodos — bons e maus —, que as sociedades utilizam para distribuir poder e para gerir os recursos públicos e os problemas comuns.

[...] é fundamental definir os princípios da boa governação e proceder à sua medição. Contudo, continua a existir um grande debate sobre a melhor forma de medir a governação. Apesar da controvérsia, o PDNU enuncia um conjunto de princípios que, com algumas ligeiras alterações, aparecem na maioria da literatura desta área (ver quadro 2 para uma descrição destes conceitos).

Quadro 2 – Princípios de boa governação – perspectiva da UNDP
(faça um clique em cima da imagem para ler melhor)

Existe uma forte evidência de que os princípios do PDNU (United Nations Development Programme) colhem um reconhecimento universal. A boa governação é, como tal, uma instância da governação, onde os recursos e os problemas são geridos de forma efectiva e eficiente, como resposta às necessidades mais críticas da sociedade. Nesta óptica, os princípios da boa governação das Nações Unidas mencionadas anteriormente, pelo seu carácter quase universal, podem ser utilizados para balizar a boa governação nas sociedades e nas organizações.” (In: Relatório de Primavera, 2006)

Sinto-me convocado a pensar o sistema educativo e a organização escolar para deixar um desafio: escolha uma lente (macro ou micro) para observar uma organização. Se escolheu o ME pode facilmente verificar que está mal governado. Se escolheu uma organização bem governada, é melhor aguardar pela próxima semana para me responder ao desafio… ;o)

UMA CORRENTE DIFERENTE…

... porque há correntes que não quero quebrar!...

“Ainda acredito que qualquer revolução do futuro terá início na livre propagação das ideias que a Internet acelera.
Nesse aspecto, a blogosfera constitui para mim o berço ideal para o germinar das soluções ideológicas para o vazio que se instala aos poucos onde antes existiam convicções inabaláveis.
O mundo mudou e em muitos aspectos para pior. E se antes era possível contar com o filtro apertado de valores que obrigavam mesmo os piores a imporem limites para os desvios nas respectivas condutas, nestes dias isso já não acontece da mesma forma.
Cada um no seu espaço privado, ficamos mais à mercê das bizarras associações de interesses que se formam com facilidade neste meio virtual.
E por isso urge despertar de novo a ideia de que a união faz a força.
Essa união existe nas redes cada vez mais complexas que se formam entre aqueles que visam dar largas às suas taras hediondas e, por sua vez, atraem as habituais seitas sem escrúpulos que aproveitam o ensejo para lucrarem das formas mais impensáveis com a “mercadoria” mais vulnerável que a sociedade produz.
As crianças são o alvo da cobiça desta gente que rapta, viola, escraviza e, no topo da desumanidade, chega a roubar-lhes os órgãos internos para comércio clandestino.
Esta insanidade tem que acabar e depressa.
Nós, os que blogamos, temos na mão um instrumento poderoso de divulgação de tudo quanto nos aprouver. Ou seja, podemos constituir-nos num grupo de pressão com visibilidade suficiente para, em esforços colectivos, atrair a atenção mediática e, em última análise, influenciar a opinião pública em torno de temas que de outra forma podem perder-se no meio do bombardeio de informação.
Uma das mais conhecidas ferramentas de propagação seja do que for na blogosfera são as correntes que tantos abominam. E na maioria dos casos com toda a razão.
Porém, esse mecanismo de sucesso comprovado é utilizado quase em exclusivo para a divulgação de testes, questionários e paródias várias, por norma concebidos para inflacionar os contadores do blogue de origem.
E eu gostava de ver esses nossos esquemas a funcionarem de uma forma mais útil para o mundo que integramos e ao qual podemos oferecer contribuições importantes para o tornar melhor.
Gostava de conseguir dar origem a uma corrente que espalhasse pela blogosfera portuguesa o rosto e o nome do Rui Pedro e a causa que ele simboliza.
Tão simples quanto publicar um post com o nome do Rui Pedro no título e a foto do que se presume ser a sua actual aparência.
Porquê? Acima de tudo pelo sinal que isso enviaria aos pais das crianças desaparecidas quanto à capacidade dos seus conterrâneos de se solidarizarem e de darem algo de si pela causa.
Essa causa é a recuperação das crianças e jovens caídos nas garras dessas organizações medonhas, a criação de mecanismos de protecção legislativos, policiais e civis eficazes, o apoio sustentado, permanente, às vítimas que são também as famílias de quem desaparece sem deixar rasto.
E a guerra informática sem quartel a tudo quanto esta ameaça à escala planetária produz.
Só mantendo a questão num plano mediático, nas prioridades de um país que se move ao sabor das modas e das correntes que a Imprensa cria e os vários poderes aproveitam, só assim se reúnem as condições necessárias para que algo de bom aconteça.
E é preciso acabar com a ilusão de impunidade que o excesso de passividade fomenta.
Se as pessoas conseguem unir-se para expulsar da sua comunidade as ovelhas ranhosas que as importunam no plano analógico, acredito que poderão fazer o mesmo no domínio virtual.
Eu gostava de ver erradicados deste meio todos quantos ameaçam a vida e a felicidade das nossas crianças com as suas salas privadas de partilha de imagens abjectas.
E porque alguém tem que dar passos nesse sentido, peço encarecidamente aos seguintes espaços que publiquem um post com a foto acima e o nome do Rui Pedro e tentem convencer outros tantos (ou menos, ou mais) a fazerem o mesmo.
Vamos mostrar ao país que a blogosfera reúne pessoas de bem e capazes de encontrarem no seu tempo a motivação necessária para lutar pelas causas mais prementes destes dias que partilhamos em comum.
Vamos dar um sinal de esperança às vítimas e um sinal de alerta aos seus algozes.”


A Educação do meu Umbigo, do PGuinote
Terrear, do JMatias
Tempo de Teia, da 3za
O Cartel, do Cartel

que a passem a outros e digam aqui, para enviar para ali.

20 de junho de 2007

O sistema embrutece

Um serviço de vigilância reteve-me numa sala de exame durante 2 horas. Nada de extraordinário não fosse a situação insólita de estarmos dois vigilantes a vigiar um aluno. Na sala ao lado, 2 vigilantes e 2 alunos. Nas restantes salas, o cenário era semelhante.
Passaram apenas 30 minutos e o aluno terminava o seu trabalho colocando a prova num canto da mesa e iniciava uma indeterminável odisseia de rabiscos na folha de rascunho. Pelo seu ar de enfado só posso presumir que se terá arrependido de ter entrado na sala…mas nem isso fui capaz de averiguar. E ali ficámos os três, calados, mumificados, absortos nos pensamentos.

Esta situação atípica e estupidificante retrata fielmente a rigidez da organização escolar. Qualquer organização que cuidasse da gestão eficiente dos seus recursos humanos não permitiria tamanho desperdício de tempo e de inteligência. Mais, se a organização escolar valorizasse as qualificações dos seus quadros nunca permitira que os professores se ocupassem deste tipo de serviços… que deveriam ser realizados por auxiliares da acção educativa. Mas não é por aqui que pretendo ir… já que nos remeteria para a definição do conteúdo profissional do docente.

O que quero relevar é falta de agilidade da organização escolar que decorre da excessiva centralização da decisão.

19 de junho de 2007

Semana do dizer bem

A Idalina sugere e eu aprovo:
"Este foi mais um ano difícil para os professores. Não vale a pena sequer descrever toda a natureza das nossas frustrações, preocupações, desânimos, revoltas.
Contudo, muitos de nós, na blogosfera manifestam a resiliência, o optimismo, o bom humor essenciais a uma profissão que lida com a juventude.
Sem perdermos o nosso olhar crítico sobre o que se vai passando, e os primeiros exames aí estão para anunciar novos temas de debate, proponho a semana de 25 a 31 de Julho para a semana do dizer bem: de um aluno, de um colega, de uma iniciativa...
Sempre há-de ter havido razões que nos fizeram sentir que, apesar de tudo, vale a pena.

Se concordar, passe a palavra."

hummm... de 25 a 31 de Julho?... creio que já terei comigo a máscara das férias ;)

Adenda: Ateração de última hora. SEMANA DO DIZER BEM, de 24 a 30 de Junho.

Porque...

... este artigo tem de extravasar as páginas do Jornal Público. (Obrigado APais)

«Demitam-se depressa

Público, 19.06.2007, Santana Castilho*

Acuso os corações gelados que roubaram a uma colega a dignidade de morrer na paz possível e grito o que me vai na alma

1. O Tribunal Constitucional, em acórdão da semana passada, declarou inconstitucionais as trapalhadas de Valter Lemos, que propiciaram a repetição de exames do 12.º ano. Olimpicamente, contra tudo e contra todos, a ministra sustentou a tese do seu secretário de Estado. Foi cilindrada na Assembleia da República, onde ouviu até uma acusação de falta de dignidade intelectual. Em artigo que aqui escrevi em 31 de Julho de 2006, demonstrei a arrogância, o autismo e a incompetência com que o processo foi conduzido e previ as batalhas judiciais que se seguiram. Ao que julgo, foram 10 decisões dos tribunais sempre desfavoráveis ao Ministério da Educação, embora sistematicamente recorridas, que antecederam este acórdão.
É impossível corrigir o mal feito. Não temos meio de ressarcir os 10.000 alunos prejudicados. Mas, em nome da dignidade do Estado de Direito, recomendo aos tristes protagonistas: demitam-se depressa!
2. Viram o mesmo que eu vi, não correram mais que escassas semanas? O primeiro-ministro, braço desnudo e garrotado oferecido à pica, a inscrever-se como dador de medula?
Leram o mesmo que eu li? Manuela Estanqueiro, professora, 63 anos de idade, 30 de serviço, morreu em sofrimento evitável, uma semana depois de um comité de burocratas a ter coagido a regressar às aulas, ela que tinha uma leucemia certificada por junta médica e que, triste fado o seu, nenhum transplante de medula pôde salvar?
Achei acabrunhante a ideia de se convocarem as televisões para propagandear um acto de Sócrates, que deveria ter ficado protegido pela discrição. Todavia, concedo que a decadência moral desta sociedade seja mobilizável por tais iniciativas. Por isso me calei. Mas agora acuso os corações gelados que roubaram a uma colega a dignidade de morrer na paz possível e grito o que me vai na alma. Por uma questão de coerência e para acreditar que foi genuíno o interesse do primeiro-ministro pelos que a leucemia condena, seria preciso que ele, ou alguém a seu mando, se tivesse já apressado a mandar apurar por que assim se fez com a defunta professora e convocado de novo as televisões para nos garantir que assim não se voltará a fazer. Este silêncio dá-me náuseas. Maquiavel tinha razão: na política não há moral!
3. "Pela primeira vez, o país associará os resultados não apenas à performance dos alunos, mas também ao trabalho das escolas e dos professores, para o melhor e para o pior". Assim falou a ministra da Educação, a propósito dos resultados que o exame de Matemática do 9.º ano dite e referindo-se ao Plano da Matemática. Esta frase é um assassino disparate. Disparate, porque traduz uma visão epidérmica que não se permite a uma ministra da Educação. Com efeito, ninguém de bom senso pedagógico espera que escassos meses de trabalho removam problemas de décadas ou pretende que os exames, sendo importantes, dêem fé de tudo o que é relevante. Assassino, porque descarrega sobre a escola e sobre os professores o todo de uma responsabilidade que é partilhada por muitos outros, a começar pela própria ministra. Com efeito, à massiva disponibilidade voluntária dos professores e das escolas não respondeu o Ministério da Educação com o que lhe competia. Porque o ano lectivo começou sem que os planos apresentados pelas escolas estivessem aprovados. Porque os professores acompanhantes só em Janeiro de 2007 estavam recrutados. Porque os financiamentos, para além de diferirem do que as escolas orçamentaram, pingaram parte em Dezembro e o outra parte com Abril entrado. Porque, em muitos casos, requisitos pedagógicos e científicos necessários só foram disponibilizados no terceiro período lectivo. Porque, como a ministra bem sabe, além daquela a que se referiu, há outras medidas que nem sequer saíram do imobilismo dos papéis. O Plano da Matemática tem um órgão de acompanhamento, do qual fazia parte a APM (Associação de Professores de Matemática). Porque esta associação disse em público mais ou menos o que acima afirmei, diligente funcionário superior teve a inferior iniciativa de indicar à APM a porta de saída. Bem doutrinou Bush: "Quem não está connosco está contra nós".»

*Professor do ensino superior

18 de junho de 2007

Destaque…

É, muito provavelmente, um dos meus blogues favoritos…
Este Blogame mucho é imperdível ;o))
Grossuras

Não devia haver férias.
Devia haver "time-outs", mais "time-outs", os que fossem necessários. Férias não.
As férias são longas demais, curtas demais, cansativas demais e criam, ainda por cima, antes de acontecerem, expectativas demais.
As férias são uma espécie de intervalo dum jogo em que estamos a levar cinco a zero na peida e já nos enfiaram, ainda por cima, duas bolas nos postes: passamo-lo, ao intervalo do jogo, a cismar na merda que vai ser suportar a segunda parte, enquanto o "mister" tenta conservar o emprego gemendo "força, rapazes!, vamos a eles!". Fininho.”

Medalha de cortiça…

O regime de permeabilidade entre cursos de nível secundário de Educação permite ao aluno alterar o seu percurso formativo e prosseguir estudos, em outro curso no ano subsequente, desde que haja afinidade de planos de estudo. A atractividade dos cursos tecnológicos [Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março] assenta num princípio que se traduz na flexibilidade da escolha do percurso formativo do aluno. Este princípio consubstancia-se na possibilidade de organizar de forma diversificada o percurso individual de formação em cada curso e na possibilidade de reorientar o próprio trajecto formativo. Isto é, as regras de acesso ao ensino superior piscam o olho aos alunos dos cursos tecnológicos, colocando-os numa situação de vantagem concorrencial relativamente aos seus colegas que optaram pelos cursos gerais no 10º ano. Esta ultrapassagem pela direita foi legitimada pelo ME que contou com as lógicas de mercado que comandam as instituições do ensino superior, que se viram obrigadas a aligeirar a exigência no acesso [os alunos escolhem “à la carte” as disciplinas da sua conveniência].

Riria, se esta situação não configurasse uma situação de injustiça para os alunos que, mais cedo do que os seus colegas, escolheram a via do prosseguimento de estudos, a via mais difícil, mais exigente, mais natural.
Riria, se esta situação não retratasse as lógicas do “chico espertismo” nacional.

Isto a propósito de um desabafo [sarcástico] de um aluno de um curso tecnológico que acabara de fazer o seu primeiro e único exame nacional e que, muito provavelmente, entrará no curso de eleição:
- Não percebo os tipos que se matricularam nos cursos gerais… será que lutam por uma medalha de cortiça?

17 de junho de 2007

...

"[...] A forma mais feliz de prosseguir a carreira parece decorrer, como noutras profissões (Riverin-Simard, 1984, pp. 99-107), de: estar atento e aceitar a aventura, os riscos, os desafios; considerar e prosseguir grandes metas finais, distinguindo-as dos objectivos realizáveis a curto prazo; manter um certo grau de liberdade; analisar a experiência própria e reconhecer o valor dos erros e dos acertos; escutar e reconhecer a razão dos outros; repensar a sua vida e reviver cada dia. [...]" (1)(p.190)

(1)
Cavaco, M. (1995). Ofício do professor: O tempo e as mudanças. In: Nóvoa, A. (Org.). Profissão Professor. Porto Editora, Porto.

...

“[…] A estrutura da carreira profissional, como em outras profissões, não considera as necessidades intrínsecas de desenvolvimento pessoal — diferenciado mas potencialmente equivalente em todas as idades — e por isso dificilmente se ajusta à evolução da estrutura de vida. No entanto, desde o início da carreira é possível distinguir duas linhas orientadoras do sentido dado à profissão que parecem aprofundar-se e distanciar-se significativamente, por volta da crise da meia idade:
• uma que se caracteriza pela valorização dos aspectos burocráticos, pelo sentido de continuidade e de aceitação resignada das disposições hierárquicas; manifesta-se pelo isolamento na acção pedagógica, conduz ao fechamento em relação às mudanças, a um certo cepticismo e ressentimento em relação aos outros, à amargura em relação à profissão, à crença em determinismos cegos no desenvolver das situações;
• outra, que encontra sentido na inovação, no acolher da diversidade, e se alicerça na partilha nas experiências e no trabalho, no questionamento das situações; caracteriza -se pela capacidade de contextualizar os acontecimentos e os factos, de perceber os olhares dos outros, pela vontade de intervir nos processos, pela persistência na apropriação de conhecimentos favoráveis ao desenvolvimento profissional.[…]” (1)(p.189)

(1)
Cavaco, M. (1995). Ofício do professor: O tempo e as mudanças. In: Nóvoa, A. (Org.). Profissão Professor. Porto Editora, Porto.

15 de junho de 2007

Hipocondria

Crónica

Escrevi parte deste texto no dia 24 de Janeiro de 2004. A ameaça dos cortes cegos na função pública tinha-se concretizado e com os resultados que todos conhecemos: a diminuição da eficácia de um conjunto de sectores da administração pública, designadamente, os sectores da educação e da saúde. Os tempos que correm relevam a orientação do texto e observo que a alteração do quadrante político no poder do Estado não lhe constrange o sentido.
A redução do número de funcionários públicos tem correspondido a uma lógica de investimento e de negócio dos nossos "empresários" que buscam o lucro fácil dos serviços. Percebe-se muito bem a pressão que é exercida sobre os partidos políticos que se revezam no governo, no sentido de fazer desviar para a iniciativa privada os negócios da saúde e da educação. E para abrir caminho à privatização dos serviços, a estratégia passou por inculcar na opinião pública a ideia de que o corpo do estado é oneroso e mal governado. Vista do exterior, a imagem deste corpo é má, à qual não será alheia a hostilização continuada por "iluminados" neoliberais na comunicação social. O olhar na 3.ª pessoa não difere muito da representação que muitos funcionários públicos têm de si próprios. Isto é, o olhar na 3.ª pessoa não é substancialmente diferente do olhar na 1.ª pessoa, qual reflexo ambivalente.
A visão biológica do funcionalismo público, obviamente redutora e cartesiana, usa a metáfora do estado obeso para consolidar a imagem de um funcionalismo público dispensável. No entanto, e se prosseguirmos com coerência esta linha de pensamento, o Estado, ou melhor, o governo do Estado e as estruturas superiores do funcionalismo público, têm o dever de articular, com harmonia, o funcionamento do seu corpo: a mente também é corpo; o próprio governo é uma parte do corpo do estado. São entidades dependentes e comprometidas. Emagrecer o estado não pode implicar a auto-mutilação.
Imaginemos um quadro macabro: o que sucederia a um adolescente que, olhando para o seu corpo onde o ritmo de maturação das estruturas biológicas não é harmonioso, decidisse eliminar partes de si? Se evidenciasse vontade e revelasse sinais de que estaria disposto a concretizar essa intenção, teria de ser internado. Diria, mesmo, compulsivamente internado para seu próprio bem.
Ora, o problema maior é que se crê que a solução para resolver os problemas do Estado passa pela amputação dos seus membros ou de outro qualquer elemento constituinte. Proponho, então, do mesmo modo que proporia ao jovem adolescente, o internamento do governo. E se não tivéssemos tantos problemas no sector da saúde, sugeriria, também, o acompanhamento clínico dos deputados (da maioria e da oposição) que padecem do mesmo mal...

13 de junho de 2007

Um outro olhar sobre o ECD

A revisão do estatuto da carreira docente não obteve qualquer acordo dos sindicatos representativos da classe docente. Ao contrário do que sucedera no passado, o governo rompeu unilateralmente um acordo que os governos antecessores se comprometeram a cumprir e a respeitar. Como “pessoa de bem”, o Estado deve respeitar os contratos com os cidadãos do mesmo modo que deve exigir aos cidadãos o cumprimento das suas obrigações contratuais com o Estado, podendo inclusivamente exigir esse cumprimento de forma coerciva. Não quero com isto dizer que os contratos não possam ser renegociados por iniciativa de ambas ou apenas de uma das partes. É esta a lógica que subjaz às negociações colectivas nos estados democráticos.

Quando assinei o meu primeiro contrato de trabalho, tomei conhecimento das regras do jogo e aceitei-as de livre vontade. O Estado optou por pagar os meus serviços, num contrato que o mesmo Estado considerou definitivo [que só poderia ser rompido por incumprimento dos meus deveres profissionais], em 10 patamares de vencimento [corrijo para 7 patamares porque entrei, se a memória não me atraiçoa, no 3º escalão]. As vantagens para a entidade empregadora eram óbvias porque pagaria menos ao trabalhador no início da carreira mas que configurava uma exploração tacanha da mão-de-obra.

Mas, existia outra alternativa, o contrato poderia ter sido negociado de outro modo: poder-se-ia ter encontrado um valor fixo de vencimento calculado sobre um valor médio do tempo máximo de serviço [de 27 a 33 anos]. Este valor remuneratório seria sujeito a ajustamentos que teriam em conta o valor da inflação ou poderia, eventualmente, ser renegociado por ambas as partes. Este modelo não vingou como se sabe.

O que se sabe é que o Estado agiu nesta matéria com má fé negocial. Rompeu unilateralmente um contrato usando o anátema da avaliação do desempenho para desviar as atenções. O que sempre esteve em causa não era a avaliação do que quer que seja, o que esteve em causa era, única e exclusivamente, a degradação salarial dos professores.

Uma das reivindicações que os sindicatos devem incluir na sua agenda é a exigência da recuperação das perdas salariais para todos os docentes cuja progressão na carreira foi barrada pelo sistema de cotas!
Se a ideia desta alteração do ECD era introduzir alterações no sistema de avaliação dos professores, premiando os professores pelo seu desempenho ou penalizando os professores que não cumpram com as suas obrigações profissionais, não encontro motivos para quebrar o anterior contrato remuneratório e, mais grave ainda, não se percebe a introdução de uma fractura subversiva na carreira.

12 de junho de 2007

Basta!

“Uma professora da Escola D. Martinho Castelo Branco, em Portimão, foi esta tarde agredida na cara pelo pai de uma aluna daquele estabelecimento de ensino, tendo sido tratada no hospital local, embora os ferimentos sejam ligeiros, disse à Lusa fonte ligada à escola”.
É urgente proteger os agressores… atrás das grades, obviamente!

Falácia…

“[…] Este concurso (1º concurso) permitirá dotar as escolas, a partir do início do próximo ano lectivo, de um corpo de docentes com mais experiência, mais formação e mais autoridade que assegurarão em permanência as funções de enquadramento, coordenação e supervisão. […]”
Esta nota emitida no site do ME não encontra eco na realidade e poderá até confundir os incautos. É que este concurso não garante mais experiência e mais formação. Se assim fosse, a experiência profissional seria cabalmente contabilizada. E não foi!… Foram apenas considerados os últimos sete anos lectivos. Se assim fosse, a formação académica seria prioritária. E não foi!… Há inúmeros mestres e doutores preteridos neste concurso. Se há mais autoridade? Talvez… mas o que valerá essa autoridade se não for reconhecida pelos seus pares?…

11 de junho de 2007

Alguns colegas têm um entendimento estranho do cuidado com o outro
Ajudar um aluno não significa "andar com ele ao colo", derrubar todos os obstáculos para ele não tropeçar,... Bem pelo contrário!

Alguém é capaz de me explicar como é que se pode treinar o equilíbrio sem usar situações instáveis e precárias?

10 de junho de 2007

Colaboração artificial...

A cooperação e a competição não são conceitos opostos. E se pretendermos um exemplo concreto do modo como eles se expressam podemos sempre recorrer ao universo desportivo.

Mas façamos um paralelo para o trabalho escolar: agora que os professores vão ter opositores dentro do seu próprio departamento, faz algum sentido existir um coordenador? Será que é para tentar impor o trabalho colaborativo?

Adenda: Há momentos em que as ideias correm mais depressa do que o discernimento e a clareza. É que acabei de notar a omissão de um dado importante nesta entrada. Para os menos familiarizados com as regras deste 1º concurso de titulares convém dizer o seguinte: atendendo ao número de vagas abertas no 1º concurso, iremos ter um número elevado de grupos disciplinares sem coordenador. Isso está previsto no ECD e a solução passará por cooptar professores não titulares para desempenharem as funções dos titulares, nomeadamente, a avaliação dos seus pares. Ora, é aqui que eu encontro a perversão do sistema!

A pensar no professorado…

Coitado! que em um tempo choro e rio

Coitado! que em um tempo choro e rio;
Espero e temo, quero e aborreço;
Juntamente me alegro e entristeço;
Du~a cousa confio e desconfio.

Voo sem asas; estou cego e guio;
E no que valho mais menos mereço.
Calo e dou vozes, falo e emudeço,
Nada me contradiz, e eu aporfio.

Queria, se ser pudesse, o impossível;
Queria poder mudar-me e estar quedo;
Usar de liberdade e estar cativo;

Queria que visto fosse e invisível;
Queira desenredar-me e mais me enredo:
Tais os extremos em que triste vivo!

Camões

9 de junho de 2007

No fio da navalha…

“Uma faca pode ser usada para fins bons ou para cometer um assassínio.” (Santos Guerra)
A chave para o problema da diminuição da despesa pública na área da educação tem sido, para os reformadores imbuídos pelo paradigma da racionalidade técnica, a avaliação dos professores e a avaliação das escolas.
A reciclagem do ECD permitiu abrir caminho à redução dos gastos com o pessoal docente, só faltando, para compor o ramalhete, burilar o “novo” modelo de gestão escolar [que potenciará o sucesso escolar para fins estatísticos]. A avaliação aparece como a panaceia para os males educativos e é necessário questionar o que esta avaliação pretende, quem dela beneficia e quem a controla. Como diz e bem Santos Guerra (1993), “a avaliação pode ter finalidades positivas ou ser utilizada para graves e numerosos abusos”. Senão vejamos uma parte do que mudará: o anterior produto de avaliação, o relatório de reflexão, dará lugar a uma avaliação presencial realizada por um par (titular) que fiscalizará o cumprimento de alguns formalismos e assistirá a 3 aulas ao longo do ano lectivo. A mudança de orientação é clara: a exigência de um prático reflexivo (que Perrenoud definia "como alguém que transgride ou contesta os interditos […] [que] não reflecte por prazer; visa antes, a eficácia, a equidade, a qualidade, a consistência educativa e a coerência") dará lugar a um prático basista que se deve limitar a satisfazer as expectativas do titular que o classifica.

Insisto: caríssimos, há que procurar aclarar o que esta avaliação pretende, quem dela beneficia e quem a controla!

8 de junho de 2007

Inquinado?…

Se este primeiro concurso de titulares não foi capaz de filtrar o mérito partindo do zero, o que esperar do próximo processo de avaliação?

Roteiro…

…para um (quase) fim-de-semana.

7 de junho de 2007

Esclarecedor!

A APM saiu da Comissão de Acompanhamento do Plano da Matemática. (continuar a ler aqui)

5 de junho de 2007

Saco roto…

"Portugal ainda não está preparado para a implementação da flexigurança.

Portugal terá de dinamizar o mercado laboral, promover a requalificação de competências e fomentar uma política de responsabilidade social, até poder implementar a flexigurança, afirmou hoje Poul Rasmussen, ex-primeiro-ministro dinamarquês."
Aparentemente, este conselho não veio mesmo nada a calhar… e até cairá em saco roto.

Mas pensando bem... é possível extrair outro significado político… É que nem sempre o que parece é!… Estão a pensar o mesmo que eu?

Adenda: Mesmo que o governo venha a reconhecer que é preciso retardar a implementação da flexigurança, esse “meia culpa” pode não conduzir a um retrocesso nas iniciativas destinadas a agilizar os processos de mobilidade e de despedimentos. Os defensores da precariedade continuarão a insistir na necessidade de continuar o processo e os opositores à precariedade insistirão na necessidade de proteger os trabalhadores, reclamando mais protecção social. O governo poderá sempre vir dizer que precisa de avaliar a situação; que precisa de mais tempo… Nesse caso, só há um perdedor. Fui claro? ;)

(I)legalidades…

[…]
2— A fixação dos lugares a prover no concurso referido na alínea b) do artigo 2º é efectuada por despacho do membro do Governo responsável pela área da educação, tendo em conta:
a) O limite previsto no nº 3 do artigo 26º do ECD [um terço do número total de lugares do respectivo quadro];
b) O número de lugares que, em cada agrupamento de escolas ou escola não agrupada, resultar da soma dos docentes dos quadros, em exercício efectivo de funções no estabelecimento de ensino no ano escolar de 2006-2007:
i) Nos grupos de recrutamento a que se refere o Decreto-Lei nº 27/2006, de 10 de Fevereiro, agrupados em departamentos, nos termos do anexo I ao presente decreto-lei que dele faz parte integrante;
ii) Nas disciplinas ou áreas disciplinares não incluídas nos grupos de recrutamento referidos na subalínea anterior, agrupadas em departamentos nos termos a fixar no despacho previsto no proémio.
[…]
Se se respeitar o que é dito em b), a cota de vagas a concurso terá de ser a mesma em todas as escolas do continente. Ou não?

Adenda: "DREN: Governo reconduziu Margarida Moreira".
Só não percebo a surpresa suscitada por esta recondução...

Porque importa recordar que...

"[…] o problema educativo já não pode ser reduzido ao simples insucesso de uma mão-cheia de alunos, por mais numerosa que seja essa mão-cheia, nem sequer à circunstância de a escola não cumprir satisfatoriamente as missões precisas que a comunidade lhe encomenda, mas revela-se de uma natureza preliminar e mais sombria: da incerteza ou da contradição presentes nas exigências correspondentes.

Deverá a educação preparar competidores capazes em vista do mercado do trabalho ou formar homens completos? Deverá potenciar a autonomia de cada indivíduo, muitas vezes crítica e dissidente, ou a coesão social? Deverá desenvolver a originalidade inovadora ou manter a identidade tradicional do grupo? Atenderá à eficácia prática ou apostará no risco criador? Reproduzirá a ordem existente ou instruirá os rebeldes que possam vir a arruiná-la? Manterá uma neutralidade escrupulosa perante a pluralidade das opções ideológicas, religiosas, sexuais e as outras diferentes formas de vida (droga, televisão, polimorfismo estético...) ou esforçar-se-á por demonstrar o preferível e por propor modelos de excelência? Poderão visar-se em simultâneo todos estes objectivos ou serão alguns deles incompatíveis entre si? Neste último caso, como e quem deverá decidir das escolhas a fazer? E outras perguntas aparecem, irrompendo na base destas e minando, por vezes, os alicerces que as fundamentam: será obrigatório educar toda a gente do mesmo modo ou devem existir diferentes tipos de educação, segundo a clientela-alvo? Será a obrigação de educar um assunto público ou antes uma questão privada que tem a ver apenas com cada um de nós? Haverá a obrigação ou sequer a possibilidade de educar todos e cada um, pressupondo-se a universalidade da capacidade de aprender? Mas vejamos: porque há-de ser obrigatório educar? […]" [pp. 20-21]

4 de junho de 2007

Vizinhança...

Questões de Moral
Pode-se chamar filho-da-puta ao Senhor Primeiro-Ministro?

Esta questão não pode deixar de se levantar face às recentes notícias segundo as quais um professor de Inglês terá dito a um conhecido «para teres um doutoramento só por fax» (na versão do próprio) ou «estamos num país de bananas governado por um filho-da-puta dum primeiro-ministro» (na versão do bufo que o delatou). […]”
[continuar a ler aqui…]

2 de junho de 2007

E quando o árbitro é jogador?

Desconheço o número de vagas que foram abertas para professor titular na minha escola. O ME fala de uma relação de 1 titular para 2 candidatos que não permitirá preencher as necessidades dos diversos grupos disciplinares, sendo inevitável o recurso aos professores “não-titulares”.
Até aqui estaria quase tudo bem se esta solução não fosse perversa, na medida em que os avaliadores estarão, no próximo concurso, em concorrência directa com os avaliados.

Estou a falar de equidade... obviamente!

Adenda: Quero reforçar o que já escrevi por aqui. É que continuam por esclarecer as verdadeiras razões para a divisão da carreira. Seria mais sério se o governo reconhecesse que só há um motivo para esta medida legislativa e que esse motivo não tem nada que ver com a escola e com a educação - a diminuição da despesa pública.
Quanto ao concurso dos titulares, a Maria Lisboa toca uma vez mais na ferida aqui.

Adenda II: Serviço público...

(3-4-5-2) = 14 vagas em 115 professores… hummm...12% de titulares! Quem é que disse que a cota é de 33%?

O que faz falta é animar a malta… bom fim-de-semana ;o)

Por intermédio do crack [já que fico com prurido quando leio o Expresso…] cheguei ao fedorento dos anos 60 ;o))