27 de abril de 2006

Divulgação versus propaganda…

Inexplicavelmente, a divulgação das “boas práticas educativas” tem sido uma medida preterida no rol das tentativas de obstar a má imagem publicada dos docentes e das escolas. Assistimos diariamente nos órgãos de comunicação social ao desbaratar do exíguo capital de confiança que a escola e o docente eram depositários, pela acção executiva que se deixa ordenar por políticas de “terra-queimada”, pela acção mórbida de uma comunicação social acomodada à notícia fácil do quanto pior melhor, pela acção dos próprios actores educativos que vivem virados para dentro dos muros das escolas insistindo numa atitude defensiva autofágica.
Parece-me claro que é pelo lado da divulgação das “boas práticas”, preferencialmente na comunidade local, que se requalifica a imagem do professor e da escola. É na escola situada que este desafio terá de se colocar. As “boas práticas” têm de saltar os muros das escolas para contagiar a comunidade local. E se há espaço em que os manga-de-alpaca e aos “fazedores de opinião” se sentem desconfortáveis é esse mesmo, bem longe dos seus gabinetes. É nesse terreno que se constrói o edifício da credibilidade.

25 de abril de 2006

As nossas queridas professoras

"As nossas queridas professoras

Não posso deixar de vir aqui publicamente expressar a minha profunda indignação pelo ataque que está a ser infligido às nossas queridas professoras, no sentido de as obrigar a cumprir o horário de trabalho.
Trata-se de enorme violência para as próprias, para os alunos, suas famílias e população em geral.

Sim, porque não são só as professoras que sofrem com esta despudorada medida, que lhes coarcta o legítimo direito a dar umas voltinhas pelo shopping para espairecer de terem de aturar a cambada de energúmenos que se sentam nas carteiras das salas de aula e lhes limitam fortemente a possibilidade de desenvolver acções de formação permanente mediante o visionamento na televisão de vários programas instrutivos e outros que espelham bem o sentir da sociedade em que nos inserimos, como é o caso das telenovelas e dos concursos onde os docentes iam actualizando os seus conhecimentos.

Aos alunos a medida também não agrada, já que o grau de irritação dos professores tende a aumentar exponencialmente, diminuindo o nível de tolerância às graçolas e aumentando a repressão que sobre eles se abate.

A população em geral tem também vindo a sofrer as consequências, já que não há família em Portugal que não tenha no seu seio uma prima ou uma tia pertencente à prestimosa classe docente que lhes seringa constantemente os ouvidos com a injustiça que sobre eles recaiu. Toda a gente sabe que a grande motivação para passar uma vida a aturar miúdos malcriados era a possibilidade de ter umas férias decentes e de não gastar mais do que meio dia nas aulas ficando com o resto do tempo por conta. Se querem agora obrigar os desgraçados a picar o ponto de sol a sol lá se vai o interesse da função. Uma das grandes preocupações das professoras em relação a este novo regime que as obriga a ficarem na escola para além das aulas é não saberem muito bem como é que poderão ocupar aquelas horas, já que, como é óbvio, ninguém está interessado em usá-las a trabalhar, quanto mais não seja por pirraça e para chatear o ministério.

Para minorar a sua dor, posso dar aqui algumas sugestões para o melhor uso do tempo disponível. A actividade mais apropriada é a de curtirem com outros professores do sexo oposto, que também andam por ali sem saber o que fazer.
As escolas são em geral pródigas em recantos escuros e salas vazias que propiciam o desenvolvimento da prática. O único óbice resulta do reduzido número de homens, pelo que a coisa só pode ser feita em regime rotativo ou fica reservada só para as mais dotadas, com exclusão dos camafeus e das que esgotaram o prazo de validade. Uma outra actividade a que se podem dedicar é ao jogo da lerpa. Para além de ser de fácil aprendizagem, propícia um grau de excitação próximo da sugestão anterior com a vantagem de o sexo dos jogadores ser irrelevante. Para os que não são capazes de uma coisa nem de outra posso alvitrar umas sessões de espiritismo com uma roda de professoras efectivas à volta de uma mesa pé-de-galo, a estabelecerem comunicação com almas penadas vindas do além."

Manuel Ribeiro
Economista
in notícias magazine

O direito de resposta...

"Caro Manuel Ribeiro,

Li, entre atónita e indignada, o seu artigozinho ? o diminutivo, acredite, não é um mimo. Li, reli e só não decorei porque esse tipo de escrita é indigesta e corrompe a credibilidade jornalística.
Assim, querido Manuel Ribeiro ? amor com amor se paga ? senti-me na urgente necessidade de responder à sua croniqueta com piropos semelhantes àqueles com que, jocosamente - senilmente ? - resolveu mimosear as docentes ? no seu vocabulário deve apenas existir a palavra (in)decentes - deste país.

Para ser absolutamente sincera, o meu primeiro impulso foi votá-lo ao desprezo. Os seus escritos, e não apenas este, revelam a sua principal característica ? o senhor é ? ou julga ser ? um marialva provocador, engraçadinho e digno de figurar, como herói topo de gama, nas revistas aos quadradinhos. Rara é a crónica em que não desabafa e deixa sair esse complexo de Édipo tão exacerbado que até mete dó. Raro é o texto onde não se constata que a suprema felicidade para si ? e a solução para os muitos problemas que a sua personalidade apresenta ? passa pela abolição dos direitos das mulheres ? todinhos ? e por uma carência doentia de acolher o maior número possível de ?escravas? ? moças desvalidas é como costuma apelidá-las, certo? ? no seu ?abrigo? ao qual, liricamente, chama de paraíso. Se eu não tivesse a certeza de que o meu amigo é um refinado idiota, seria tentada a crer que seria uma nova versão da madre Teresa ou, no mínimo, convertido ao poder de sedução das palavras do psicólogo Eduardo Sá, passara a ter como lema ? chega-te a mim e deixa-te estar.
Num ponto estamos de acordo, amigo Manel: na profunda indignação que, ao que parece, ambos evidenciamos. A sua, pelo que li, resultante de um qualquer recalcamento tido na infância ou na adolescência ? Freud explicar-lhe-ia melhor; a minha? provocada pelo seu impudor, má formação, falta de nível , falta de carácter e, sobretudo, por um ego balofo, repugnante e anémico.
Refiro-me ao seu, claro.
Sinto-o uma espécie de intelectual naftalinado a necessitar urgentemente de ser reconhecido pelo notário, acredita? Um beija aqui, beija acolá, pegajoso e incompreendido, predestinado à glória do? esquecimento. Ah? a só-literária vulgaridade!
Por outro lado, o desconforto que me causou o seu blak-out à minha profissão assenta num terrível receio que, em abono da verdade, me está a provocar náuseas e tonturas. Muito mal vai o país cujos jornais mais conceituados permitem que um qualquer aprendiz de aprendiz a jornalista se outorgue o direito de insultar, caluniar ? a título de provocação? Não me faça rir? -
com toques virulentos de sordidez e pouca vergonha, profissionais que, ao que tudo indica, não estiveram presentes no seu longo e penoso processo de aprendizagem? à distância. Tão à distância, amigo Manel, que nem uma gotícula de educação transparece no seu sebáceo discurso.
Dar-se-á o caso de esse complexo, essa raiva desmedida contra as professoras deste país ter a sua origem em algum caso mal resolvido com alguma delas? A minha curiosidade aguça-me o espírito e a maledicência. Teria sido com uma dessas a que, carinhosamente, cataloga de camafeu ? Seria com uma , segundo as suas vernáculas palavras, com prazo fora de validade? Ou, pelo contrário, com uma, seraficamente, apelidada de bem dotada? Assim a modos que mente sã em? corpo são, não? Creio que me faço entender? Não adianto mais este meu interessante périplo porque, pelo que li, cowboys que gerem de um modo diferenciado os seus afectos não fazem parte da sua lista? Honni soit qui mal y pense!

Ó Manuel Ribeiro, então o meu amigo pensa que os professores deste país andam por aí a jogar à lerpa? Está muito enganado. Logo o senhor que se diz um exímio conhecedor de almas e de... professoras e professores. Citando Saramago ? o do prémio Nobel? não sei se conhece? - ? O professor, hoje, é um herói. Precisa de ser corajoso, por vezes até a nível físico?. E como o grande escritor está coberto de razão! Ser professor, nos dias que correm, é uma verdadeira missão. Sem estímulos adequados, sem remunerações compatíveis e muitas vezes sem condições nenhumas, os bons professores são todos aqueles que não desistem de ensinar. E de aprender. Que é uma coisa que um aprendizeco a jornalista não pode compreender porque lhe falta inteligência. E muita sensibilidade. E carradas de polimento. E montanhas de originalidade e de talento.
Por outro lado, orgias e outros bacanais afins estão mais indicados a serem praticados em pasquins e, de preferência, tendo como jogadores economistas maníaco-depressivos e com um trauma compulsivo contra? mulheres.
Quer um conselho de amiga? Se fosse a si, não vá uma dessas queridas professoras dar-lhe um pontapé igual ao que escolheu como marca prestigiosa dos seus artigos ? o que demonstra que o meu amigo além de asno, é um asno violento - fazia como o Dâmaso Salcede. À cautela, ia-me raspando para o Iraque! Acredite, as queridas professoras, reconhecidas, agradeciam!

De uma fervorosa admiradora,
Ana Rodrigues

Nota: Concordo quando afirma que, no ensino, predomina o sexo feminino. Às mulheres sempre coube a graça de dar à luz e de ser fonte de luz. Espero que, de igual modo, concorde com o meu atento reparo ? economistas, em Portugal, é carreira onde predomina o chamado sexo forte. Será que com tanta crise ? basta ver-se a nossa economia ? os tais jogos de sedução que nos
aconselha não se aplicarão mais a quem - habituado a números que nada dizem - usa as palavras como o prelúdio de uma grande façanha amorosa que, invariavelmente, se resume a? nada vezes nada?!"

É uma professora do Norte, carago! Um cumprimento especial para ti, Ana.

?

Será uma heresia reconhecer que não tive pachorra para ouvir o primeiro discurso do novato Presidente da República?

Se entenderem que é, de facto, uma blasfémia, eu tenho uma atenuante:
É que este homem nunca nos deu cavaco!...

32 anos depois

... não faltará muito.

24 de abril de 2006

Há uma pulga atrás da orelha

Inesperadamente[?], tenho encontrado alguns colegas preocupados [refiro-me àqueles que acumulam o seu papel de encarregados de educação nas próprias escolas onde leccionam]. O alvoroço começa a alastrar pelos corredores para acabar num recanto da sala de professores. De facto, já ouvi este eco em fóruns de discussão:

“…e não é que a nota de Educação Física conta para a média de acesso ao Ensino Superior?! Valha-me Deus!”

É a "razão visceral" a mais falar alto.

23 de abril de 2006

A paranóia lectiva…

Colégio britânico vai dar aulas de felicidade aos alunos
Um dos mais conhecidos colégios privados do Reino Unido vai ensinar os seus alunos a serem felizes. Os estudantes (entre os 14 e os 16 anos) terão já no próximo ano lectivo, uma vez por semana, aulas de felicidade. Como gerir sentimentos como o medo, a frustração, a solidão ou a vergonha? - são apenas algumas das perguntas a que estas lições tentarão dar resposta."As escolas têm uma profunda responsabilidade de ajudar os seus alunos a transformarem-se em seres humanos felizes e realizados", justifica o Wellington College, em Berkshire, no seu site na Internet
.” (Público de hoje)

Hummm… uma vez por semana, aulas de felicidade?
Posso deduzir que no restante tempo escolar nada se faz para gerir esses sentimentos?

Será que esta gente não se enxerga?

22 de abril de 2006

Fóruns da treta…

O fórum “Ensino Secundário em Debate” é uma iniciativa da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular. No momento em que escrevo esta entrada estão inscritos 240 participantes, distribuídos por 71 temas de discussão, e a entrada mais concorrida mereceu apenas 23 comentários [uma média de 3 comentários por assunto]. Os temas incidem preferencialmente nas questões relacionadas com os exames, acesso ao ensino superior, exames, cálculo de médias de exames, exames desta ou daquela disciplina e mais exames. As preocupações com o ensino superior reflectem, por um lado, um determinado perfil de participante no fórum [encarregados de educação e professores de alunos orientados para o prosseguimento de estudos], e por outro, um evidente desinteresse pelos cursos tecnológicos. É sobre este desinteresse que me ocupo.

Os cursos tecnológicos são, efectivamente, o refugo do ensino secundário. Acompanho com bastante proximidade uma turma de alunos de um curso tecnológico e não encontro um aluno, um apenas, que não deseje prosseguir estudos. Paradoxalmente, não encontro um aluno que projecte no curso tecnológico um ingresso para uma profissão. São raros os casos [obviamente que me reporto a alunos do ensino secundário] em que a saída de um aluno do sistema escolar é concretizada por iniciativa própria. O que eu encontro são muitas saídas compulsivas desencadeadas pela intervenção [tardia?] dos encarregados de educação que desesperam quando tomam consciência que os seus educandos vagueiam sem norte no sistema educativo.

Os cursos tecnológicos sofrem de um problema intransponível: não são vocacionados para a formação profissional [e concorrem com as escolas profissionais que estão melhor apetrechadas e recebem os alunos mais motivados para a saída profissional] e não são vocacionados para o prosseguimento de estudos [porque limitam o acesso dos alunos a determinados cursos do ensino superior]. É o tal refugo que dava conta mais em cima.

Mas voltemos ao fórum. Como instrumento de aferição dos problemas de aplicabilidade de uma dada reforma ele é muito débil por três razões principais: Pelo reduzido número de participantes que mobiliza, pelo deficiente alcance da tecnologia utilizada que ainda é inacessível a um elevado número de interessados pelo processo educativo, pela falta de visibilidade nas comunidades educativas. É um facto que o ME tem realizado [poucos] encontros através das direcções regionais de educação com alguns professores e representantes dos conselhos executivos. É um facto que as estruturas intermédias do ME são pouco eficientes porque são pesadas e pouco ágeis na relação com as escolas. É um facto que as lógicas burocráticas atrasam os processos de mudança. Por tudo isto e sabendo de tudo isto, o ME terá de desconfiar das auscultações que faz e das aferições que resultam dos processos que ele próprio engendra. Por tudo isto, e enquanto não ocorrer um SIMPLEX na educação [tem direitos de autor esta expressão], o ME estará condenado a um “autismo endógeno”.

Que triste sina!

20 de abril de 2006

O conflito é uma oportunidade…

Desloco o foco que norteia a minha reflexão para a escola situada. É que já me doía o pescoço de tanto procurar fora da escola motivos para reflectir a minha prática profissional. É difícil determinar com exactidão [até porque a memória já me atraiçoa… esta lamechice era escusada] o número de conflitos que ocorreram em apenas três dias de aulas. A proximidade da relação educativa foi ainda maior: Os alunos viveram durante estes três dias um enorme stress competitivo que lhes fez emergir o bom e o mau que carrega o seu carácter. Aprender a lidar como a derrota e com a vitória, conviver com o prazer do sucesso e com a dor do insucesso, é um treino que urge intensificar na escola e na família.
Se não fui suficientemente claro, deixo-vos alguns exemplos que marcam a tipologia dos conflitos:
Jogadores autoritários que não deixam jogar os outros; Que ocupam, habitualmente, maior espaço nas instalações desportivas sem justificação; Que mostram condutas violentas (gritos, insultos, empurrões, pontapés nas bolas, etc.) diante os seus próprios companheiros o diante elementos da equipa contrária; Que não respeitam as regras estabelecidas; Que prescindem das normas de cortesia uma vez finalizado o jogo; Que simulam faltas e recorrem a comportamentos anti-regulamentares como forma de evitar golos; Que não escutam conselhos, instruções e decisões do professor; Que quando se sentam no banco amuam e não incentivam os seus companheiros; Que não aprenderam a aceitar os resultados negativos e encaram a derrota como um fracasso pessoal ou colectivo que afecta e condiciona a sua vida quotidiana;…
Não faltam oportunidades para fazer uma Educação para a nãoviolência!

Agora, preciso de um fim-de-semana para recuperar.

Adenda: O gajo tem intermitências. Isto é, são as intermitências ou o novo [por enquanto] blogue do Miguel Sousa.

Adenda II: Educação e Críticas... No plural. É o blogue do Henrique Santos.
Ao ler os discursos de várias entidades sobre a educação e os seus vários actores, deparo com duas atitudes muito generalizadas: -generalizações abusivas, tipo: os alunos de hoje são...; os professores...; -afirmações peremptórias e arrogantes, da parte de quem pouco conhece do que fala. É para combater um pouco estas atitudes (que considero erradas e enquistadas), e tentando não cair nelas que o autor criou este blog. Daí o seu nome.

19 de abril de 2006

Semana aberta

Desgraçadamente, as escolas curriculares só se deixam abrir uma semana por ano lectivo. Abrir a quem e para quê?
Será que esta brecha, timidamente consentida por um sistema educativo retrógrado, pretende demonstrar que a festa e alegria são incompatíveis com o rigor e a excelência apregoados pelos arautos da escola mercantil?

Há dois anos que procuro acrescentar ou porventura alterar o texto. Não sou capaz!

16 de abril de 2006

Espaço e tempo…

Durante este curto período de descanso reencontrei alguns colegas de infância. Creio todos nós já experimentámos sentimentos ambíguos de intimidade e estranheza, de cumplicidade e mistério. Recuperámos imagens através das quais vemos um tempo e um espaço vivido em conjunto enquanto que somos sobressaltados pelas mudanças que o ambiente social e cultural suscitou em cada um de nós.

Fico com a sensação de que nem todos teremos a capacidade de compreender por que motivo manifestávamos diferentes formas de ser nesses momentos temporais. É como se de repente se abrisse um fosso de espanto…

13 de abril de 2006

Um breve olhar para a actualidade educativa

Manuais adoptados pelas escolas vão ser válidos por seis anos.

[…] todos os editores terão de submeter os seus manuais a comissões de peritos (integrando docentes, investigadores, membros de associações pedagógicas e sociedades científicas), a quem caberá certificar os livros. O processo será supervisionado por um conselho de acompanhamento, a ser criado no âmbito do Conselho Nacional de Educação.

Com este sistema, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, diz ficar «assegurada a efectiva qualidade dos manuais escolares, garantindo a sua adequação ao currículo nacional e aos programas em vigor, assim como as regras de rigor científico e pedagógico».”

Notas soltas:

  • Seis anos de ciência bolorenta [na prática serão oito anos - como relembra Vasco Teixeira da Comissão do Livro Escolar da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros - se atendermos aos dois anos para a concepção, certificação e produção do livro escolar, mais seis anos de vigência no mercado]?
  • Seis anos sem alterar programas e planos de estudo? Ficamos a saber que o alargamento da escolaridade obrigatória conservará os actuais planos de estudo do ensino secundário.
  • Era escusado o teor paternalista das declarações da Sra. Ministra quando refere que esta comissão “deslocalizará” [o vocábulo invoca um período político circense…] a pressão exercida pelas editoras. Hummm… creio que se enganou na prescrição… que disparate… na corporação.

Adenda:

7 de abril de 2006

:)

O meu disco, de dois em dois meses, tem de ser formatado. Nem todos os discos conhecem este processo. Morrem como nasceram. E nunca deram oportunidade ao tempo para lhes inscrever algo de novo. Vivem iludidos de que ainda conservam o seu estado puro e que esse estado lhes basta para enfrentar as exigências do quotidiano.

O meu disco, cedo se convenceu de que seria pequeno para abarcar as possibilidades da vida. Tenho de formatar o disco! Tenho de varrer uma enormidade de lixo que o distrai e faz desperdiçar energia.

Voltarei para a semana. Boa Páscoa!

5 de abril de 2006

Contra-relógio…

As reuniões de avaliação estão transfiguradas. O professorado foi, paulatinamente, envolvido em autênticas provas de contra-relógio. O objectivo é simples: preencher formulários no menor tempo possível. Diante de resmas de papelada para despachar, o professor vê escassear o tempo e a paciência para discutir o que realmente importa discutir - o aluno.

É óbvio que para um burocrata zeloso, enformado por uma visão maniqueísta, este tipo de prova [contra-relógio] permitirá separar o trigo do joio: Há que conter o professor negligente e tudo fazer para que as más práticas não incidam na classificação do trabalho do aluno. Porém, neste contra-relógio cuja distância [entenda-se… monte de papelada] não pára de aumentar, há um convite dissimulado à desistência dos corredores. E só alguns aguentarão!

Uma vez mais, o ME ao pretender atingir uma parte acaba por envolver o todo docente mas não deixa de revelar um sinal de desconfiança na capacidade profissional dos professores.

Se os responsáveis do ME estivessem realmente convencidos de que o incremento da burocracia em torno da actividade escolar é um factor essencial para a melhoria da qualidade das aprendizagens dos alunos, seria forçoso apetrechar as escolas de auxiliares administrativos. Nos departamentos disciplinares e nos conselhos de turma, os professores seriam assessorados por técnicos e concentrar-se-iam nas tarefas que envolvem a formulação de juízos acerca dos alunos, na investigação das causas dos problemas que afligem o acto educativo e na determinação das melhores estratégias para debelar esses problemas.

Se o ME estivesse interessado em melhorar a qualidade do trabalho docente preocupar-se-ia em garantir, como é seu dever, as melhores condições para o exercício profissional em vez de as deteriorar. Houvesse vontade!

Adenda: Tem 4 meses o blogue Estados d'alma. Segui-lo-ei bem de perto…

4 de abril de 2006

Abnoxio

Não conheço pessoalmente o Ademar. Não importa para o caso. Já comentei no seu blogue no tempo em que a caixa de comentários servia para trocar pontos de vista. Já trocámos por e-mail algumas impressões. Continuo a visitar com alguma regularidade o Abnoxio [vai na sua 3ª edição] e considero o Ademar um blogger genuíno. Escreve o que lhe vai na alma e não lhe noto qualquer fragmento de servilismo. Gosto de pensar que ainda existe gente deste tipo. E também não importa se concordo ou não com o que escreve. Basta-me gostar…
E porque gostei muito desta sua entrada, transcrevo-a integralmente aqui:

“Um problema de autismo (tributo a Mário-Henrique Leiria)...
No início do ano lectivo, o professor, fervendo de autoridade profissional, entrou musculadamente na sala de aula e, antes que disparassem, atirou logo a matar:
- Aqui, ficais já a saber, quem manda sou eu. Aprendereis o que eu quiser, quando eu quiser e como eu quiser! Esta é a minha pedagogia.
Alguma dúvida?...
A turma entreolhou-se ironicamente, ergueu-se à uma, disse em coro "PUTA QUE O PARIU!" e saiu da sala. Ficou, apenas, o Gabriel.
Foi o ano mais feliz da carreira do professor: tinha uma turma com apenas um aluno, que parecia beber em êxtase, todos os dias, os seus acetatos.Só no final do ano lectivo é que descobriu que o Gabriel, o aluno perfeito, era autista. Deu-lhe 5, a nota máxima. E atirou-se da Arrábida, com os acetatos...
Soube-se depois que já tinha pago as propinas do mestrado em administração escolar...”

Ademar Santos

3 de abril de 2006

Sentimento de injustiça (II)

Enquanto a C. implorava pelos objectivos [creio que se referia aos objectivos da matéria a incluir no bem-dito teste] revelava uma lógica hegemónica de preparação e treino de muitos alunos para as provas de conhecimentos. O teste escrito é um instrumento de avaliação normalizado envolto em rotinas que têm como horizonte os exames nacionais. Para além dos períodos agendados pelo professor e comunicados ao aluno com a maior antecedência possível, existe um manancial de pré-testes, exercícios, ou outras formas de automatismos que visam reduzir o grau de imponderabilidade do teste.
Fazer um teste sem pré-aviso é, para muita gente, um acto deplorável. É agir de má-fé, uma cilada, uma forma desleal de avaliar o aluno. Ao ver o problema através de uma única lente, C. foi assaltada por um sentimento violento de vitimação que enformou o seu comportamento.

E já que estamos num período marcadamente avaliativo, vejo alguma oportunidade nesta pequena questão:
Garantido o princípio da equidade, que limites devem nortear o aclaramento do processo de avaliação da aprendizagem do aluno?

Adenda:
Atendendo à falta de clareza no enunciado da questão anterior, sugiro esta simplificação:
Será legitimo que um professor apresente um teste escrito ou um teste oral sem avisar previamente o aluno?