28 de fevereiro de 2007

Pezinhos de lã…

As agressões a professores sucedem-se com tal frequência que ninguém, e muito menos um ministro, poderá alegar desconhecimento do assunto.
Esperar-se-ia, se estivéssemos perante um membro do governo responsável, uma tomada de posição pública inequívoca, um anunciar de medidas urgentes para remediar os efeitos desta onda de brutalidade que se alastra pelas escolas. No mínimo, exigir-se-ia uma palavra de solidariedade.
Mas não. O silêncio desta ministra é exasperante e, paradoxalmente, ensurdecedor!

O cerco

“A professora que ontem contou, na TSF, como lhe apontaram uma faca, em plena escola, diz-nos afinal, que a cidadania tem de ser defendida, sem pezinhos de lã, mesmo com rudeza. Antes que cada escola sem transforme em Escola do Cerco. Antes que a escola fique cercada e entregue ao medo, à negligência e às estatísticas.”

Fernando Alves

(ouvir aqui, na TSF - Procurar em Destaques - Sinais)

25 de fevereiro de 2007

Penduras

O presidente da câmara de Santo Tirso, na sua breve aparição num canal televisivo após a assinatura do protocolo de colaboração com o governo a respeito do encerramento da urgência hospitalar, não perdeu a oportunidade para retirar dividendos políticos. Extasiado pelo facto de ser um dos raros eleitos do governo para se sentar à mesa das negociações, o autarca justificou o pretenso êxito com o facto de se ter mantido em silêncio, enquanto os outros autarcas protestavam; de preferir a negociação à manifestação. Como se uma e outra coisa fossem incompatíveis; como se a manifestação fosse um direito a abolir porque incomoda quem governa; como se o silêncio, apenas o silêncio dos inocentes, fosse ouvido no céu.

Duas ideias emergem desta intervenção:
  • A ideia subliminar contida neste tipo de discursos, que nos fazem lembrar o período do Estado Novo e a apologia da submissão e da subserviência, é um cancro para a democracia. Ninguém ousa negar o direito à indignação mas começa a ser demasiado evidente que os partidos políticos, sem excepção, lidam mal com a contestação. O que não deixa de ser paradoxal.
  • A ideia de que vale a pena adoptar um estilo “pendura” porque é menos arriscado politicamente [não existindo qualquer comprometimento com uma decisão favorável ou desfavorável não há perdas] e permite ir a reboque dos ganhos colectivos.
Deploravelmente, é este estilo pendura que tem feito escola na escola.
Vejo este estilo, nos docentes críticos da pretensa inacção sindical que se recusam [legitimamente] aderir ao movimento; vejo este estilo, nos docentes que insistem nos apelos à intervenção de forças exteriores à escola [procurando apoios nas elites…] demitindo-se da participação política no interior da escola; vejo este estilo, nos docentes que se lastimam pela inexistência de uma Ordem de professores aguardando que ela surja por geração espontânea, não dando um passo, sequer, para persuadir os colegas sobre as vantagens deste movimento.

Os fedorentos diriam que falam, falam, mas não os vemos a fazer nada…
Nem é preciso, digo eu, alguém abrirá o caminho por eles!

O que sobra em «diagnósticos» falha em «acções»…

O debate, que mobiliza os professores na blogosfera e nas escolas, não contribuiu para construir uma inteligência colectiva [creio que esta expressão é do professor António Nóvoa] que dê resposta ao imobilismo e à resignação da classe docente face aos ataques à escola pública, engendrados por este governo e seus acólitos na comunicação social. Sobejam teses acerca do destino da escola e da profissão docente, assinalam-se as incongruências nos discursos e nos argumentos usados para justificar o absurdo, fabricam-se textos cristalinos que identificam as peças do enigma que, qualquer leigo, incluindo aquele leitor cujo cérebro funciona apenas com um neurónio, pode perceber sem dificuldade e até opinar acerca do estado da educação. Não chega! É insuficiente!
A resposta ao imobilismo e à resignação tem de ser dada através da ACÇÃO. Construir uma inteligência colectiva passa pelo reforço da colegialidade e os professores não devem recear “fazer política”. A construção da inteligência colectiva tem de ser edificada em responsabilidades assumidas na escola situada.

24 de fevereiro de 2007

Sugestão de leitura

Questões de Pedagogia, no Educare. As crónicas são assinadas pelo Professor Albano Estrela.

Imperdível!

23 de fevereiro de 2007

Vampiros

No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

[...]

ZECA AFONSO

Motivação?… dão-se alvíssaras!

Enquanto lia a regulamentação do 1º concurso para professor titular, ocorreu-me o tema da motivação. À luz das mudanças introduzidas pelo novo ECD, que razões encontram os professores para promover o seu auto-aperfeiçoamento profissional? Será que os motivos que levam os professores a buscar a excelência profissional foram devidamente identificados pelos responsáveis da aberração legislativa?

Não me proponho avançar para um estudo exploratório para saber se os motivos que levam os sujeitos à prática docente aumentaram ou diminuíram nos últimos anos. Nem tão-pouco me interessa saber como se vai regenerando o mosaico motivacional ao longo da vida profissional de um docente.

Fico-me pelas questões mais simples. Fico-me pelo óbvio: Não adianta escamotear a influência dos factores motivacionais exógenos, nomeadamente, os incentivos monetários, as expectativas de progressão na carreira e o reconhecimento dos outros não pares.
O que vemos? Uma carreira mal paga, encurtada coercivamente e sem qualquer perspectiva de valorização social.
Qualquer político que não padeça de insanidade mental, que não se deixe alienar por resultados favoráveis de sondagens inócuas, que não olhe para a escola com a mesma lente que é utilizada para observar uma fábrica de chouriços, perceberá o óbvio: a escola será amanhã, mais do que ontem, uma escola do faz-de-conta.

O que me desagrada profundamente, mais do que o desgaste por persistir na defesa das minhas crenças, é que começam a rarear os argumentos para animar os que me estão próximos.

22 de fevereiro de 2007

A montanha pariu um rato!!

Graças à emn, tomei conhecimento da 2ª versão do 1º concurso para professor titular.
Está aqui.

Adenda: Nada de novo quanto à lógica que subjaz ao documento. Os chefes de secção manterão o seu lugar na linha de montagem, na enorme empresa educativa.

E foi assim que a montanha pariu um rato!!

Adenda II: É verdade que ainda não perdemos a memória.
“ O Ministério da Educação foi, pela quarta vez, condenado por um tribunal administrativo e fiscal a pagar a um professor as actividades lectivas de substituição de colegas como serviço extraordinário.”

21 de fevereiro de 2007

...

Há muito tempo que não ouço falar...... do árbitro(*)...
E não me refiro, obviamente, ao processo "apito dourado"...

[(*) pode ser escrito no feminino]

20 de fevereiro de 2007

Federações de pais em luta pelo poder na Confap

“Há quem fale em “loucura”, outros dizem que é “pouco dignificante”. As várias federações regionais de associações de pais estão em guerra e os últimos dias têm sido de trocas de acusações entre dirigentes. Tudo por causa das eleições do próximo fim-de-semana para a Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap).” [Correio da manhã ]
Pedro Silva (Escola Superior de Educação de Leiria) pergunta bem:
“Associações de pais ou para pais? […] o que são associações de pais? Por que existem? Para quem? Como desempenham o seu papel? Como são elas encaradas pelos outros actores sociais, nomeadamente os próprios pais, mas também os docentes e os discentes? E como encaram elas os outros actores? Que prioridades lhes conferem? Que formação têm os seus elementos? E os que com elas interagem? Estas são algumas das questões-bússola que poderiam despoletar um interessante programa de pesquisa. Na impossibilidade de encontrar respostas para elas neste espaço, aqui deixo algumas notas soltas.
Em primeiro lugar encaro as APs como organizações que podem desempenhar um importante papel cívico. Encaro-as numa perspectiva de potencial promoção da cidadania, de possível forma de participação dos cidadãos na coisa pública. Como um acto de exercício quotidiano de uma concepção não burocrática de democracia. Como uma forma de aprofundamento da democracia. Como uma via de articulação entre democracia representativa e democracia participativa. Como um meio de instituir uma relação não passiva e não autoritária entre o Estado e o cidadão. Como uma dimensão de actuação colectiva. Como enformando uma certa concepção de sociedade. Em suma, como um acto político.
Esta perspectiva e este leque de possibilidades não significa que eles se realizem. Sabemos que a realidade social é fértil em efeitos perversos. Considero que há, desde logo, uma confusão, de origem semântica. É que falar em associações de pais não significa que elas efectivamente desenvolvam actividades para os pais. Por outras palavras, não significa que os representem. Há uma diferença, que se pode revelar incomensurável, entre o ?de? e o ?para?. O que nos diz o termo ?associação de pais?? Apenas que estamos perante um grupo organizado de pais. Que pais? Pressupõe-se que os pais dos alunos daquela escola (ou agrupamento de escolas) (1). E os estatutos é normalmente para este tipo de definição de membro de AP que apontam. Daí a se pressupor que elas representam automaticamente o restante grupo de pais vai um passo que, não raras vezes, se revela ser de gigante.
Num estudo etnográfico a que já tenho feito referência (2) procurei analisar, entre outros aspectos, qual o papel desempenhado pelas associações de pais em duas das escolas onde conduzi a minha pesquisa (na terceira escola só no final do trabalho de campo é que se constituiu uma AP). Aí constatei que, num dos casos, a AP só desempenhava tarefas directamente para o corpo docente e a pedido deste, nunca representando os pais, mesmo aquando da emergência de problemas. Pelo contrário, no outro caso deparei-me com uma AP claramente autonomizada do corpo docente e que desenvolvia todo um conjunto de actividades para as crianças, para os pais e para as professoras, mas com uma prioridade de acordo com a ordenação aqui descrita. Estamos perante um daqueles casos em que não se pode tomar a nuvem por Juno. […]” [In: Jornal "a Página" nº 136]


“[...] A investigação empírica vai tornando cada vez mais claro que o ser dirigente associativo dos pais corresponde, grosso modo, a um “ofício” de classe média. Daqui podem decorrer sérios problemas acerca do modo de relacionamento entre uma AP e o respectivo grupo de pais que ela é suposta representar. As barreiras de ordem sociocultural são tão mais fortes e eficazes conquanto a sua existência não seja sequer reconhecida (por uns e por outros, mas em particular pelos que denotam uma maior capacidade de iniciativa: os dirigentes da AP). Assumindo que existe uma clivagem sociológica (Silva, 2003) na relação escola-família (em termos de classe social, de género e de etnia), este aspecto revela-se tão mais pertinente quanto estivermos perante grupos que apresentam uma distância cultural significativa face à cultura escolar.
Como se processa a interacção entre a direcção de uma AP (em regra constituída por elementos da classe média) e os pais de meios populares? E os de minorias étnicas e/ou linguísticas? Será que estamos perante uma relação “natural”, que ocorre livremente, sem qualquer espécie de barreiras? Será que a condição de pais é suficiente para esbater todo e qualquer obstáculo? Sabemos, por exemplo, que não existem grupos étnicos homogéneos, apesar de eles tenderem a ser assim mitificados pelos “outros”.
Se tivermos em conta que as relações entre culturas são também relações de poder – por onde perpassam as desigualdades sociais, de índole económica, política ou outra (cf, por exemplo, Stoer e Cortesão, 1999; Wieviorka, 2002; Silva, 2003) – entendemos que o modo como o papel de uma AP é interpretado por quem a dirige pode contribuir quer para reproduzir desigualdades sociais, quer para as atenuar. […]” [In: Jornal "a Página" nº148]


[o destacado é meu]

Brincadeiras de Carnaval…

Alberto João Jardim apresenta demissão para forçar eleições antecipadas.
O presidente do governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, anunciou esta tarde a sua demissão do cargo, para forçar eleições antecipadas, em protesto contra a aprovação da Lei das Finanças Regionais.
É apenas ignorância: O processo eleitoral na Madeira é pago com os fundos do orçamento regional, ou não?

18 de fevereiro de 2007

Desemprego bom?

Martim Avillez Figueiredo escreve no seu Diário Económico que os números do desemprego são uma boa notícia para o país. Diz o editorialista que “Desejavelmente, Portugal gostaria mesmo de gerar mão-de-obra tecnológica barata. Engenheiros, técnicos de informática, especialistas laboratoriais ou génios da logística, mas todos a preços de saldo para convencer esses gigantes mundiais a colocar boa parte das suas áreas de negócio aqui em Portugal. Ora, uma transição como esta não se faz sem custos.

1ª nota: Depois de ler estas coisas, fico com a sensação de que a fonte onde o ministro da economia vai beber a desfaçatez é a mesma que abastece a imprensa da especialidade. É pena que esta gente não use a mesma linha de pensamento na sua coutada. Ora vejamos. Se me guiasse pela bíblia neoliberal diria disparates deste tipo: atendendo aos lamentos de que se vende cada vez menos; que a quebra de vendas que aflige a imprensa escrita não se deve, apenas, à [má]qualidade dos jornais e dos jornalistas mas também ao preço dos diários e semanários; que urge mobilizar os leitores para a imprensa. A minha linearidade “economicista” levar-me-ia a afirmar que pagando a preços de saldo os ordenados dos directores e seus acólitos, alargando a contenção de despesas a toda a classe de jornalistas, seria possível colocar os jornais a um preço meramente simbólico e, assim, atrair para a leitura os leitores que engrossam as listas de desempregados.

2ª nota: Há algo que me escapa, caro Martim. Depois do engodo, depois de atrair os gigantes mundiais com a mão-de-obra tecnológica qualificada barata, as políticas de exploração dos trabalhadores seriam para manter eternamente ou seriam invertidas de modo a repor os salários justos? Admitindo que a primeira hipótese é escabrosa e que nada disto lhe passa pela cabeça, o que levará os gigantes mundiais a permanecerem por cá, não deslocalizando as suas áreas de negócio para outros países "terceiro-mundistas" "mais atractivos", depois da recuperação salarial?

Profilaxia.

Crónica

O Estatuto da Carreira Docente foi, durante o último ano lectivo, o tema aglutinador do debate sobre as políticas educativas no país. Há duas ideias perniciosas que impregnam o documento e que suscitaram, durante o período de discussão pública, fortes resistências dos professores pelos seus efeitos na degradação das condições de trabalho e, por via disso, na perda de qualidade da escola pública: a reconfiguração da função docente (tendencialmente proletarizada) e, de modo correlativo, a hegemonia de uma lógica taylorista na organização escolar. A intensificação do trabalho docente é o resultado mais visível da aplicação destas duas ideias. E basta entrar na escola situada para reconhecer sinais, indícios, de desgaste prematuro, físico e psicológico, atípico para a época do ano, sinais esses que podem degenerar no abandono do ensino, em problemas de esgotamento, no cinismo e outras reacções negativas. É neste quadro que evoco Hargreaves(1) (1988) para sugerir algumas soluções para lidar com os sentimentos de culpa que decorrem do acréscimo de trabalho:
" 1. Baixar as exigências de prestação de contas e de intensificação do ensino. (...) Deter a burocracia, reduzindo a ênfase que é colocada sobre os resultados dos testes e outras formas impressas de prestação de contas.
2. Reduzir a dependência em relação ao cuidado pessoal e ao tratamento dos outros, enquanto motivo primordial subjacente ao ensino elementar, em particular, ampliando a definição de cuidado, de modo a que este abarque não só uma dimensão pessoal, mas também uma dimensão moral e social, e equilibrando os propósitos educativos de importância equivalente.
3. Aliviar a incerteza e a natureza aberta do ensino, criando, ao nível do estabelecimento de ensino, comunidades de colegas que trabalham em colaboração, estabelecendo os seus próprios limites de exigência profissional e permanecendo ao mesmo tempo empenhadas num aperfeiçoamento contínuo. Tais comunidades também podem aproximar a vida profissional e pessoal dos professores, de um modo que apoia o seu crescimento e permite que os seus problemas sejam discutidos, sem receio de reprovação ou de punição."
Agir na profilaxia é uma medida sensata para o docente que procura identificar os constrangimentos que asfixiam a acção educativa.

(1) Hargreaves, A. (1998). Os professores em tempos de mudança – O trabalho e a cultura dos professores na idade pós-moderna. Editora McGraw-Hill. Amadora.

17 de fevereiro de 2007

Porque SIM...



Depois de um breve passeio nafloresta encontrei esta pérola que há muito tempo não ouvia. Escolhi a versão mais recente por ser mais festiva embora encontre uma elevada carga simbólica na 1ª versão [com cheiro a vinil].
Apesar de... ainda há motivos para festejos... :)

16 de fevereiro de 2007

Assim NÃO!...

“Na ponderação do factor previsto na alínea b) do n.º 5 [refere-se à assiduidade ao serviço…] são consideradas todas as faltas, licenças ou dispensas, independentemente da sua natureza.” (Artigo 10º, ponto 9)
Há dias, deixei uma ligação para este “1º Concurso para prof. Titular – versão de 2007-02-09”. Ainda é a 1ª versão do regulamento. Não sei quantas versões se seguirão, mas dou como adquirido que o texto final rejeitará todos os erros grosseiros contidos neste esboço. Estou mesmo convencido de que alguns dos disparates, nomeadamente, o sinistro ponto 9 do Artigo 10º (Análise curricular), terão sido incluídos para cair logo na primeira emenda, o que suscita muitas reservas quanto à boa-fé negocial. É que não passa pela cabeça de ninguém, inclusivamente pela cabeça dos responsáveis pelo documento, que as faltas justificadas ao abrigo da licença de maternidade/paternidade, de doença, nojo, etc., pudessem ser duplamente penalizadoras…

Assim NÃO!

Sinais…

O PSD requereu um debate de urgência para ouvir a ministra justificar o fim das provas globais no 9º ano de escolaridade. Fico surpreendido com a dificuldade da ministra em justificar o que me parece óbvio: As escolas decidem, no quadro da sua restrita autonomia, se devem ou não usar as provas globais como instrumento de avaliação interna. A meu ver, esta medida é coerente com os discursos oficiais [e não só…] que exaltam o valor da autonomia da escola e que se afastam da perversa homogeneização de tudo o que é escolar. Quanto à amnésia da ministra, que nada disse sobre a possibilidade de substituição das provas globais por exames nacionais, o que eu vejo é prudência: a ministra fez muito bem em não comprometer o seu [muito] próximo sucessor. ;o)

Adenda:
«“As provas [globais] localmente construídas são localmente viciadas”, defendeu a ministra» [In: Sol – 17/02/07]
Ora, diga lá outra vez!?... Se as escolas viciam localmente as provas, também viciam localmente os concursos de professores, ou não?

15 de fevereiro de 2007

Contra-a-maré...

A “administrativite” é uma doença que merece outros olhares. É uma doença profissional que emerge da reconfiguração da função docente e está intimamente associada à degradação das condições da actividade docente. Não se confundindo com polivalência funcional, a “administrativite” exalta, indevidamente, a função de administração e gestão que integra o perfil ocupacional do professor.

Esta semana desempenhei actividades docentes, actividades lectivas conjunturais (actividades de projecto), actividades extra lectivas estruturais (clube escolar), actividades extra lectivas conjunturais (iniciativa assumidas pelos alunos do ensino secundário de âmbito extracurricular), actividades interactivas (actividades que implicam o relacionamento das actividades lectivas com as extra lectivas), actividades de gestão pedagógica (gestão de conflitos), actividades de administração (exacerbadas pela direcção de um curso), actividades de acompanhamento (alunos candidatos ao ES com necessidade de realizar pré-requisitos de acesso), actividades de manutenção de instalações e equipamentos (enquadradas na actividade de estágio dos alunos do tecnológico), actividade de investigação educacional (para responder às solicitações dos alunos), actividades de relacionamento exterior (com as entidades de estágio).
Das actividades realizadas nenhuma pode ser rotulada com um qualificativo de excepcional. Refiro-me apenas a um leque de actividades ordinárias que reflecte o carácter polifuncional da actividade docente. Não reclamo a redução do perfil ocupacional do professor porque, a meu ver, empobreceria uma função que é, pela sua natureza, complexa. O que importa reclamar é a atribuição de meios para viabilizar o cumprimento da função. Não defendo o esvaziamento da função docente de actividades aparentemente secundárias. Defendo a presença de técnicos administrativos nos departamentos curriculares e nos grupos disciplinares por considerar que é uma solução exequível e que minorará os efeitos da intensificação do trabalho docente.

Isto a propósito da carreira e da carreirinha, dos titulares e dos professores...

12 de fevereiro de 2007

Paradoxal...

É verdade, sou um homem de paradoxos, principalmente quando lido com a minha circunstância. Nem sempre a força dos argumentos e as lógicas que os ordenam determinam as minhas decisões e opiniões. Há olhares que derivam da experiência vivida e acumulada no palco educativo, que obedecem a outras lógicas, e que fundam os meus pontos de vista. Como o conhecimento bebe de várias fontes, seria insensato esbanjar e negar o conhecimento vivido e sentido; aquele conhecimento que resulta do contacto com os diversos actores que fazem a escola situada. Ora, isto vem a propósito de uma crítica que recebi do meu amigo Manel, que assinalou neste texto uma incongruência no meu discurso.
As minhas reservas à aparente descentralização do Estado central de competências para as autarquias não revelam, como se pode depreender do que escrevi, uma atitude defensiva e um receio de negociar poderes e novas formas de relacionamento entre os actores da “escola de fora e de dentro” [;o)]. Os meus receios revelam um dado inquestionável que compromete, a meu ver, o sucesso de qualquer mudança substantiva no sistema: as alterações no sistema escolar que estão a ser realizadas contra os professores afastam e não os envolvem, desresponsabilizam e não os comprometem. Ora, a meu ver, é este modo de gerir a mudança no sistema que legitima o “modus vivendi” instalado e cristalizado no interior das escolas e que balcaniza as relações profissionais. E se as minhas palavras denotam algum receio, então é este o meu receio.

11 de fevereiro de 2007

"As escolas que temos em Portugal são uma espécie de repartições públicas do Ministério da Educação"

«Ao Estado central e à tutela cabe "garantir um núcleo base de competências que têm de ser idênticas até como suporte da identidade nacional", cabendo depois às escolas "adaptar o seu projecto educativo ao tipo de comunidade em que estão inseridas".» (David Justino in: DN 11/02/07)
Não posso estar mais de acordo. Concordo com esta e com as restantes críticas, mais ou menos explícitas contidas nesta notícia, que foram remetidas pelo ex-ministro da educação ao actual governo. E que grande contributo daria ao país, caro Dr. Justino, se se notasse algum efeito prático do seu poder de influência junto do actual presidente da república no retardamento da actual política educativa... caótica.

9 de fevereiro de 2007

Pressão local, controlo estatal...

Este vírus provoca uma espécie de estado de embriaguez. Até as notícias ficam suspensas durante dias sem fazer mossa. Será a profilaxia que procurava para lidar com a entropia do sistema educativo?...
Hoje, não sei por quê, fui lembrar-me da notícia que dava conta do avanço dos 14 municípios do Grande Porto que disseram à ministra da Educação que aceitam alargar a todo o ensino básico as competências que já têm no primeiro ciclo. Parece-me claro que este recuo do Estado central não é ingénuo nem um sinal de enfraquecimento do uso de estratégias de regulação centradas na produção normativa e no controlo de procedimentos nas escolas. A ideia é forçar os actores locais na gestão dos fluxos escolares e abrir caminho à regulação das escolas por via dos resultados escolares. É de uma lógica mercantil que se trata...

7 de fevereiro de 2007

Só para avivar a memória... ;)

Plano de Acção da Matemática... “cadê”?

6 de fevereiro de 2007

Maleitas...

As minhas intermitências blogoEsféricas têm uma simples explicação: acabei por ser infectado com o vírus da “administrativite”. Se desconhecem a doença sugiro que se informem junto dos directores de turma, directores de curso, elementos do conselho executivo, ou de um professor qualquer em final de período lectivo.

Não é fácil descobrir uma escola numa repartição pública... mas havemos de lá chegar!

2 de fevereiro de 2007

Bolonha dos pequeninos...

O outròólhar está cada vez mais minimalista: nas entradas, na discussão, no entusiasmo, nas temáticas. Não direi que o blogue se encontra num processo de simplificação porque a ambiguidade nunca deixou de estar presente. Também não arrisco a dizer que se encontra num processo irreversível de definhamento porque ainda persistem os motivos e as pontas que me ligam à rede.
Ao contrário do que se possa pensar, vejo nesta atitude [porque é de uma atitude que se trata], aparentemente mais distante e fria, um sinal de proximidade cúmplice e afectuoso com todos aqueles que por aqui passam e regressam. É como se nos valêssemos das discussões antigas, das conversas inacabadas, da memória.
Isto vem a propósito de um assunto que marcou a agenda do ensino superior nos últimos anos e que tarda(?) em ser introduzido nas discussões dirigidas ao ensino básico e secundário. Refiro-me às consequências do Tratado de Bolonha, ou melhor, a um dos efeitos do paradigma Bolonha: a reconfiguração das práticas de ensino. É aqui que entra a memória sob a forma de arquivo, que me dispensará, digo eu, de esmiuçar assuntos recorrentes.
Bolonha foi motivo de conversa de alguns colegas do superior num tempo em que ainda se acreditava [;o)] na benignidade dos políticos e das políticas. E evoco Bolonha porque temo que o paradigma se perverta pelas instituições de ensino superior ao aligeirar os níveis de exigência (e nesta perspectiva até se entende que o Estado desconfie das instituições “superiores” e exija dos candidatos a professores uma certificação de competências, por exame, antes da entrada na profissão) repercutindo-se nos níveis de ensino precedentes.
Ora, foi no debate de ontem na RTPN, sobre a Educação Sexual, e na sequência da intervenção do professor Daniel Sampaio (DS), que percebi das suas palavras uma tentativa de trazer Bolonha para o básico e secundário. O modelo, que é defendido por si e pela sua equipa de trabalho que quer ver a Educação Sexual (ES) “tratada” nas áreas curriculares não disciplinares, passará a depender mais da curiosidade dos alunos e das suas competências de pesquisa e menos do “saber” específico do professor. O professor monitoriza o trabalho dos alunos e a ausência de competência nesta temática não pode ser razão suficiente para que obstaculize [e isto sou eu a depreender das palavras de DS] a ES.

E como ando parco em palavras fico por aqui: A auto-formação como paradigma de aprendizagem no básico e secundário reclama mais responsabilização do aluno e da família e exime o professor no processo de formação do aluno. Ou não?

Adenda: detritus toxicus. «"Detritus" é o nome de um personagem de uma das aventuras de Astérix, o Gaulês. “Toxicus” é relativo àquilo que tem a capacidade de ser corrosivo. Como o humor. ”detritustoxicus” pretende ser um blog sobre vários assuntos - vários detritos sobre aquilo que vem à rede diariamente: música, política, educação, formação, ciência e filosofia. Sempre com uma pitada de humor corrosivo lá pelo meio.»

1 de fevereiro de 2007

Sucesso escolar? O que é isso?...

Chumbos e abandono escolar no 12.º ano aumentaram mais de 20% numa década”.

hummm… estou a ver…
Está para breve o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, não é verdade?!