28 de julho de 2008

Pausa mais que merecida ;o)

Fica marcado o reencontro para a 3ª semana de Agosto. :o))

27 de julho de 2008

Cuidado! Esta gente sabe como enformar o voto!

Um amigo meu comprou um frigorífico novo e para se livrar do velho, colocou-o em frente do prédio, no passeio, com o aviso:
"Grátis e a funcionar. Se quiser, pode levar".
O frigorífico ficou três dias no passeio sem receber um olhar dos passantes.
Ele chegou à conclusão que as pessoas não acreditavam na oferta. Parecia bom de mais para ser verdade e mudou o aviso:
"Frigorífico à venda por 50,00 €.
No dia seguinte, tinha sido roubado!
Cuidado! Este tipo de gente vota!
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Ao visitar uma casa para alugar, o meu irmão perguntou à agente imobiliária para que lado era o Norte, porque não queria que o Sol o acordasse todas as manhãs. A agente perguntou: "O sol nasce no Norte?"
Quando o meu irmão lhe explicou que o sol nasce a Nascente (aliás, daí o nome e que há muito tempo que isso acontece!) ela disse: "Eu não estou actualizada a respeito destes assuntos".
Ela também vota!
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Trabalhei uns anos num centro de atendimento a clientes em Ponta Delgada - Açores. Um dia, recebi um telefonema de um sujeito que perguntou em que horário o centro de atendimento estava aberto.
Eu respondi: "O número que o senhor discou está disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana." Ele então perguntou: "Pelo horário de Lisboa ou pelo horário de Ponta Delgada?" Para acabar logo com o assunto, respondi:
"Horário do Brasil."
Ele vota!
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Um colega e eu estávamos a almoçar no self-service da empresa, quando ouvimos uma das assistentes administrativas falar a respeito das queimaduras de sol que ela tinha, por ter ido de carro para o litoral. Estava num descapotável, por isso, "não pensou que ficasse queimada, pois o carro estava em movimento."
Ela também vota!
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A minha cunhada tem uma ferramenta salva-vidas no carro, para cortar o cinto de segurança, se ela ficar presa nele. Ela guarda a ferramenta no porta-bagagens!
A minha cunhada também vota!
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Uns amigos e eu fomos comprar cerveja para uma festa e notámos que as grades tinham desconto de 10%. Como era uma festa grande, comprámos 2 grades. O caixa multiplicou 10% por 2 e fez-nos um desconto de 20%.
Ele também vota!
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Saí com um amigo e vimos uma mulher com uma argola no nariz, ligada a um brinco, por meio de uma corrente. O meu amigo disse:
"Será que a corrente não dá um puxão cada vez que ela vira a cabeça?"
Expliquei-lhe que o nariz e a orelha de uma pessoa permanecem à mesma distância, independentemente da pessoa virar a cabeça ou não.
O meu amigo também vota!
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Ao chegar de avião, as minhas malas nunca mais apareciam na área de recolha da bagagem. Fui então ao sector da bagagem extraviada e disse à mulher que as minhas malas não tinham aparecido. Ela sorriu e disse-me para não me preocupar, porque ela era uma profissional treinada e eu estava em boas mãos."Agora diga-me, perguntou ela... o seu avião já chegou?"
Ela também vota!
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À espera de ser atendido numa pizzaria observei um homem a pedir uma pizza para levar. Ele estava sozinho e o empregado perguntou se ele preferia que a pizza fosse cortada em 4 pedaços ou em 6. Ele pensou algum tempo, antes de responder: "Corte em 4 pedaços; acho que não estou com fome suficiente para comer 6 pedaços."
Isso mesmo, ele também vota!
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O amigo que me enviou o email dizia que "agora é mais fácil entender porque a maioria chega lá."Devolvi-lhe o comentário dizendo:
Agora é mais fácil perceber por que motivo a Educação é um espaço de luta política. Ao condicionar o acesso à cultura, mais, ao condicionar o tipo de cultura de massas, os políticos sabem muito bem como perpetuar a velha ordem no poder!

26 de julho de 2008

Reforma ;o)

Quando apresentei a minha documentação para a merecida reforma na Segurança Social, a senhora que me atendeu, pediu-me o bilhete de identidade para confirmar a minha idade. Procurei e percebi que me esquecera do documento em casa.
- "Vou buscá-la e já cá volto".
A mulher disse-me:
- "Desabotoe a camisa."
Abro a camisa, revelo o meu tórax cheio de cabelos grisalhos e ela comenta:
- "Esses cabelos brancos são prova bastante para mim" - e processa o protocolo da reforma, recebendo a documentação.
Quando chego a casa e conto à minha mulher sobre a experiência na Segurança Social, ela disse-me:
- "Devias ter baixado as calças. Ias conseguir uma reforma por invalidez!"

(obrigado pela laracha, Nelson)

25 de julho de 2008

Leitura de férias

Não sendo capaz de se mudar a si próprio, o País parece que foi capaz de um extraordinário feito: mudou o Mundo!

Esta capacidade empreendedora exógena é uma visão de Martin Page que só é passível de ser corroborada em tempo de férias.

O livro já está na bagagem!

Porta entreaberta...

Estou oficialmente de férias apesar de ter meia dúzia de assuntos pendentes, de somenos importância, que podem ser resolvidos por telefone.
Como sempre, acabo com um turbilhão de ideias e de projectos para implementar no próximo ano, na próxima década. A escola será demasiado pequena para tamanha ambição...

23 de julho de 2008

Quotas para os acólitos predilectos...

Concordo com este olhar do fjsantos lançado sobre o despacho das quotas.

Adenda: A tutela presume que as escolas são todas más, até que uma avaliação externa prove o contrário, merecendo uma atribuição minimalista de menções qualitativas de “Excelente” e “Muito Bom”, respectivamente, 5% e 20%.
(Culpadas) Más, até prova em contrário!?
Ficou surpreendid@ com esta revelação?

Diarreia normativa

22 de julho de 2008

Quotas - A aberração está normalizada!

Li agora mesmo no Terrear o despacho das quotas. Os comentários que por lá se fizeram sobre esta aberração legislativa instigavam uma alternativa ao modelo “pseudo meritocrático” materializado no diploma.

A alternativa parece-me evidente: há que fazer prevalecer as lógicas da avaliação formativa, que dispensam a ordenação dos desempenhos individuais. O problema não está na dificuldade em justificar a emergência de um modelo alternativo porque, como sabemos, a retórica política insiste em defender o primado do pedagógico sobre o administrativo. O problema está em assumir a recusa de um modelo normativo/sumativo de avaliação do desempenho. Isto é, o problema não é saber “qual o modelo(?)” mas sim “como deixar cair este modelo(?)”.

19 de julho de 2008

Recobro

Para que o texto anterior faça algum sentido, direi que o conteúdo funcional do professor tem alguns apêndices embrutecedores. Depois de convocados para desempenhar essas malfadadas funções, aos professores impõe-se um período de recobro. No meu caso pessoal, um ou dois dias é período de tempo necessário para lavar a alma. Como? Regando-a com um maduro do Alentejo (ou Douro) [beemm... não é totalmente verdade], com os pés debaixo de uma mesa [esta é parcialmente verdade ;)], obrigatoriamente bem acompanhado [é verdade]. É evidente que a estupidificação vai deixando as suas marcas. Mas aprendi um pequeno truque na blogosfera para disfarçar a minha fúria primária: nunca escrever nos picos da insensatez. Reconheço que nem sempre é possível. Nem sempre tenho o discernimento de o evitar. Não se trata de evidenciar algum tipo de auréola até porque não sou aspirante a político de carreira. Trata-se apenas de uma gestão assertiva do fel.

17 de julho de 2008

Estupidificação...

... do trabalho docente.

Por pudor e atendendo ao facto de o título sugerir um sentimento de autocomiseração, ficarei por aqui...

14 de julho de 2008

Ambivalência

O CCAP (conselho científico para a avaliação de professores) acaba de produzir três documentos: Recomendações N.º 2 – Princípios Orientadores sobre a Organização do Processo de Avaliação do Desempenho Docente); Recomendações N.º 3 – Princípios Orientadores para a Definição dos Padrões Relativos às Menções Qualitativas; Recomendações N.º 4 - Princípios Orientadores sobre o procedimento simplificado a adoptar na avaliação de docentes contratados.

Irei ler criticamente os documentos tendo presente que o CCAP é um órgão consultivo do Ministério da Educação, que tem por missão implantar e assegurar o acompanhamento e a monitorização do regime de avaliação de desempenho do pessoal docente.
Convém relembrar que “O CCAP é um órgão que foi criado para acompanhar o desenvolvimento do processo de avaliação do desempenho do pessoal docente e a aplicação do respectivo regime jurídico, identificando as boas práticas e contribuindo para encontrar soluções adequadas à melhoria da qualidade do sistema”. Além de acompanhar o processo de aplicação do processo de avaliação, o CCAP deve “produzir informação relevante para a inventariação das necessidades de formação do pessoal docente e a identificação dos factores que influenciam o desenvolvimento profissional docente; e deve “promover a divulgação do conhecimento científico sobre avaliação do desempenho do pessoal docente, designadamente sobre o desenvolvimento geral dos modelos e técnicas existentes nesta matéria, a nível nacional e internacional.

Ora, com este enquadramento legal, o CCAP não pode assumir um posicionamento neutral porque está funcionalmente comprometido com o modelo imposto pelo ME. Irá zelar para que tudo corra bem. Todavia, é requerido que o CCAP aponte outros caminhos, que faça emergir outros modelos, que, paradoxalmente, abra a cova para enterrar o nado-morto modelo de avaliação do desempenho docente.

É por este carácter ambivalente e por esta missão impossível, que o CCAP estará condenado a viver no fio da navalha... Até que a missão final seja cumprida!

13 de julho de 2008

Evidências

"[...] seria desejável transformar a Educação Física na disciplina nuclear de acesso ao ensino superior, fosse qual fosse o curso! Claro que as outras seriam seleccionadas em função do destino de cada um. Ao dar importância a esta disciplina, desde a infância até ao décimo segundo, e mesmo a nível superior, permitiria obter ganhos inimagináveis com investimentos mínimos.
Vejamos: a maioria das doenças, ditas da civilização, têm a ver com um sedentarismo crescente. Enfartes do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, hipertensão arterial, dislipidémias, diabetes, obesidade, algumas formas de cancro, doenças músculo-esqueléticas, osteoporose, depressões, ansiedade e agressividade, só para citar algumas, estão relacionados com a falta de utilização do corpo. Passamos a maior parte do tempo, sentados ou deitados. A falta de mobilização corporal é uma verdadeira praga. Ao criarmos uma consciência para a prática desportiva, desde tenra idade, e valorizando-a, tal como disse, como a prova número um de acesso ao ensino superior, obteríamos uma sociedade com características muito diferente da actual.
Como combater com mais eficiência a toxicodependência? Praticando desporto. Como combater o consumo de tabaco? Praticando desporto. Como combater o alcoolismo? Praticando desporto. Como combater a diabetes e a obesidade? Praticando desporto. Como tornar os jovens e adultos mais solidários e generosos? Praticando desporto. Como ensinar os jovens a serem mais respeitadores das normas e das leis? Praticando desporto. Como melhorar a aprendizagem escolar? Praticando desporto. Muitas outras perguntas de importância capital teriam a mesma resposta. E porquê? Porque os que praticam desporto têm uma vida mais longa e saudável, são mais generosos, mais simpáticos, menos agressivos, com menor tendência para o crime, têm menos depressão e ansiedade, suicidam-se menos, são mais felizes, mais ordeiros, mais produtivos, mais competitivos, com mais auto-estima e muito mais...
As consequências imediatas e a prazo traduziriam-se, além das já enunciadas, numa economia difícil de quantificar, com menos recursos às consultas, menos hospitalizações, redução do consumo de medicamentos e uma maior produtividade a todos os níveis, enfim mais riqueza.[...]"
[in: Quarta República]

Coragem ou esperteza saloia?

“6. A Área de Estudo Acompanhado deve ser assegurada pelo professor titular de turma, no caso do 1.º ciclo e, preferencialmente, pelos grupos de recrutamento de Língua Portuguesa e de Matemática, nos 2.º e 3.º ciclos.”

Quando se olha para este diploma pelo lado da prescrição, que é o lado da restrição da autonomia às escolas, é possível observar a falta de coragem do governo, e deste ME em particular, em assumir que as áreas acessórias do currículo (ACND) devem estar ao serviço de interesses políticos mais imediatistas, nomeadamente: a elevação instantânea dos resultados a duas das áreas disciplinares, que têm servido de barómetro à acção política na área da educação – o português e a matemática.

Sabendo que o governo usa e abusa da bandeira da determinação como sendo uma das suas imagens de marca, contra tudo e contra todos, a bem dos interesses da nação, por que razão não conduz até às últimas consequências o pseudo-arrojo e eleva a carga horária semanal destas disciplinas as vezes que forem necessárias para que o treino intensivo provoque os efeitos tão desejados?

Seria mais vantajoso para o sistema de ensino que o governo assumisse frontalmente esse seu desejo e actuasse em conformidade. Por um lado, discordando ou não da orientação superior, os professores e as escolas teriam de enfrentar um objectivo claro e não se dispersariam em actividades que, sendo importantes do ponto de vista pedagógico, buscam outras mudanças. Por outro lado, é necessário que a acção política seja consequente e verdadeira; concordando ou discordando, os professores e as escolas necessitam de recuperar a confiança nos processos que visam a mudança.

Como o horário semanal não é elástico, perguntar-me-ão, onde cortar?

Nas ACND, obviamente! E se se entender que é insuficiente, o horário dos alunos ainda tem margem para ser alargado. É evidente que o mercado das explicações iria reagir veementemente. E já estou já a visualizar o tom frenético do cardeal dos encarregados de educação a protestar contra mais um atentado à saúde mental dos educandos – o problema é que os alunos não podem chegar cansados à escola paralela. E não estou a pensar, ainda, na medida mais radical – a reorganização curricular.

E como atacar as temáticas: "b) Educação ambiental; c) Educação para o consumo; d) Educação para a sustentabilidade; e) Conhecimento do mundo do trabalho e das profissões e educação para o empreendedorismo; f) Educação para os direitos humanos; g) Educação para a igualdade de oportunidades; h) Educação para a solidariedade; i) Educação rodoviária; j) Educação para os media; k) Dimensão europeia da educação" (ponto 10)?

Esta conversa remeter-nos-ia para a escola cultural... e não temos tempo.

12 de julho de 2008

Assobiar para o lado

Aos 11 anos, as crianças portuguesas estão entre as mais baixas e gordas da Europa.

Como o ME não perde tempo, já se fazem notar as medidas de combate ao flagelo: convocou os professores das disciplinas “centrais do currículo”- Português e Matemática - pela via das ACND (Área de Projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica).

E esta hein?

11 de julho de 2008

Sem tento na língua

«Sou de um partido onde era impossível um líder dizer que o principal objectivo da família é a procriação» José Sócrates, secretário-geral do PS

Por aqui se vê o estado de alienação em que se encontra o secretário-geral do PS. Ele ainda não percebeu que pode dizer as maiores barbaridades políticas, pode inflectir para o lado que bem lhe apetecer, pode dizer e desdizer-se, pode ter ou não “tento na língua”, que será recebido em aclamação pelos seus apaniguados enquanto estes farejarem o poder.

Se o secretário-geral do PS não é capaz de reconhecer o seu partido, como poderá compreender o país?

800 cooontos? ou 40 por cento?...

Por momentos fui transportado para a história do Vasco Santana (para os mais novatos o homem foi um fantástico actor do velho cinema português) naquela cena em que o alfaiate (António Silva) fazia as contas à fortuna das tias durante uma prova, nas costas de um cliente. A ideia da fortuna fácil pairava na mente do alfaiate como a ideia de sucesso sem esforço paira no imaginário de muitos políticos.

“... e a prova? A prova (dos nove) faz-se já aqui ao lado!”

E a prova às notas dos alunos no exame de Matemática?

10 de julho de 2008

O Oportunismo

"O oportunismo é, porventura, a mais poderosa de todas as tentações; quem reflectiu sobre um problema e lhe encontrou solução é levado a querer realizá-la, mesmo que para isso se tenha de afastar um pouco de mais rígidas regras de moral; e a gravidade do perigo é tanto maior quanto é certo que se não é movido por um lado inferior do espírito, mas quase sempre pelo amor das grandes ideias, pela generosidade, pelo desejo de um grupo humano mais culto e mais feliz. Por outra parte, é muito difícil lutar contra uma tendência que anda inerente ao homem, à sua pequenez, à sua fragilidade ante o universo e que rompe através dos raciocínios mais fortes e das almas mais bem apetrechadas: não damos ao futuro toda a extensão que ele realmente comporta, supomos que o progresso se detém amanhã e que é neste mesmo momento, embora transigindo, embora feridos de incoerência, que temos de lançar o grão à terra e de puxar o caule verde para que a planta se erga mais depressa.

Seria bom, no entanto, que pensássemos no reduzido valor que têm leis e reformas quando não respondem a uma necessidade íntima, quando não exprimem o que já andava, embora sob a forma de vago desejo, no espírito do povo; a criação do estado de alma aparece-nos assim como bem mais importante do que o articular dos decretos; e essa disposição não a consegue o oportunismo por mais elevadas e limpas que sejam as suas intenções: vincam-na e profundam-na os exemplos de resistência moral, a perfeita recusa de se render ao momento. Depois, tempo virá na Humanidade - para isso trabalham os melhores - em que só hão-de brilhar os puros valores morais, em que todos se voltarão para os que não quiseram vencer, para os que sempre estacaram ante o meio que lhes pareceu menos lícito; eis a hora dos grandes; para ela desejaríamos que se guardassem, isentos de qualquer mancha de tempo, os que mais admiramos pela sua inteligência, pela sua compreensão do que é ser homem, os que mais destinados estavam a não se apresentarem diminuídos aos olhos do futuro.
Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'

Exames

Faço minhas as dúvidas do Paulo:
“São coisas difíceis de entender.

Mas para que é que servem, realmente, os exames?

Se confiamos no professor para leccionar as aulas durante o ano inteiro, porque é que no fim havemos de duvidar da classificação que atribui aos alunos?

Se o professor é mau e pode estragar os alunos, no fim o mal já está feito, com ou sem exame. Mas os alunos, que já não basta terem gramado com o mau professor, ainda têm de fazer exame para duplicar a sua azarada condição.

Se o professor é bom, bastava o processo das aulas, uma vez que os resultados dos exames nunca diferem muito da nota do professor e podem, quando muito, tramar os alunos que tiveram um dia mau.

Se o professor é assim-assim, acontece um bocado das duas coisas e estamos, por isso, conversados.

Então? Por que raio é que há exames?

Para aferir conhecimentos?

Bem, isso seriam provas de aferição e poderiam ser feitas, por amostra, e em qualquer altura.

Para os alunos estudarem mais?

Não, por aí também não podemos ir. A avaliação contínua assenta em vários exames realizados ao longo do ano lectivo. Mal do país que tem de pensar assim: ensinar, estudar e aprender tem de valer um bom bocado mais do que isso. E cada escola pode ser avaliada pela exigência e pelo rigor que coloca no seu ensino sem os exames. É mesmo decisivo que seja assim, parece-me.

Para estudos internacionais?

Bem, isso, e salvo melhor opinião, serve para alimentar tecnocratas que estão a milhas, a quilómetros, das escolas, mas têm de fazer os seu estudos. Não, para isso também não servem. Aceita-se uns testes por amostra, de quando em vez, para que o desemprego não seja praga também aí.

Para hierarquizar as escolas?

Não, já se viu que não. As escolas são, felizmente, muito mais do que examinar os saberes numa ou em duas disciplinas: e nisso, no muitíssimo mais que os exames, nem se auto-avaliam nem são avaliadas externamente; por sistema e com rigor.

Para hierarquizar os alunos na entrada para a universidade?

Claro, aí tem que ser. Mas não tem nada que ser. Já pensou nisso meu caro leitor? Há sítios em que no final do secundário a escola diz se o aluno está apto ou não e depois as universidades escolhem quem lá se matricula. Tão simples como isso.

Serão, portanto, os exames tão necessários assim?

Parece que não. O problema é outro e bem mais profundo: somos uma sociedade desconfiada e em que os média promovem um verdadeiro caldo de "conversa da treta". E isso mina tudo: as relações entre as pessoas e a selecção dos melhores caminhos para construir o futuro.

Já por lá andámos e saímos: não tarda voltaremos. De outro modo, é seguro, já que as aprendizagens (processo demasiado desconhecido) individualizadas associadas às vantagens da ciência assim o exigirão. A escola da má burocracia morrerá aos poucos e muito lentamente, mas morrerá. As fábricas de ensino não sobreviverão. Na pior das hipóteses, os ricos pagarão a frequência dos novos módulos de ensino e os pobres arrastar-se-ão, com um controle férreo e burocrático, nas antigas unidades fabris em versão piorada: mais baratas e mas desqualificadas” (in: Correntes)

Adenda surreal: Negativas na prova de Matemática do nono ano caem quase 40 por cento num ano.
Beeemm... já parei de rir.

9 de julho de 2008

SEDES e a defesa da educação utilitarista

"Só através da dotação de conhecimentos habilitantes num mundo competitivo, se pode promover eficazmente a ascensão social, pelo que uma educação competente é o melhor, senão mesmo o único, meio de libertar duradouramente as pessoas da pobreza e das limitações da sua origem social. Por isso as atitudes de complacência e de rebaixamento dos padrões de exigência que têm dominado, nas últimas décadas, o nosso sistema de ensino são, no fundo, os melhores meios para tornar os pobres mais pobres e para perpetuar a sua situação de dependência. E não há nenhum discurso socializante que, por si só, inverta esta realidade." (SEDES)

Equívoco 1 – A ascensão social é possível pela via dos conhecimentos.
Com a classe média a desaparecer e o número de licenciados no desemprego a engrossar, a ascensão social é uma promessa conveniente. Por um lado, a miragem da ascensão social retarda as convulsões sociais que podem ser desencadeadas pela tomada de consciência das condições de vida assimétricas e irreversíveis. Por outro lado, a miragem da ascensão social permite ao modus vivendi instalado gerir com mais folga os interesses da casta.

Equívoco 2 – A educação competente é o único meio para libertar as pessoas da pobreza.
Depreendo que o conceito de educação aqui aplicado pretenda significar uma educação escolar, eventualmente, uma formação profissional. É certo que uma educação competente não se reduz à sua dimensão utilitarista. O problema é que a formação profissional parece ser a única dimensão valorizada pelos arautos do neoliberalismo. O que me leva a inferir que a educação competente defendida pela SEDES é incongruente com a ideia de libertação.

8 de julho de 2008

Formalismos e esquematismos...

Por intermédio do JMA, tomei conhecimento da 4ª reunião plenária do CCPA que, entre outras deliberações, “aprovou um conjunto de recomendações sobre princípios e estratégias destinadas a promover a adequada aplicação e utilização do sistema de avaliação do pessoal docente”.
Relembro que o CCPA decidira aprovar, em reunião plenária realizada em Lisboa, no dia 14 de Março de 2008, as recomendações formuladas pela Presidente em 25 de Janeiro de 2008.

Importa saber em que diferem as recomendações agora discutidas e aprovadas das recomendações aprovadas pelo CCAP em 14 de Março do corrente ano. Não busco uma resposta retórica. Nem pretendo ironizar sobre o processo desconexo da criação do CCAP. Quero apenas perceber o grau de fechamento ou de abertura dos princípios que enformam a avaliação. Quero perceber se as recomendações agora produzidas incorrem ou não no erro da “complexificação”.

Retiro

Devo uma explicação aos meus companheiros de viagem (para os novatos, para os bloggers com menos de 3 anos de estrada, a blogosfera é um caminho que se faz acompanhado, bem acompanhado de preferência ;)). Esta pausa mais prolongada do que é habitual decorre de uma estranha constatação: tomei consciência de que pouco há para dizer, há pouco para acrescentar...
É que nem a entrevista, surreal, da senhora ministra da educação foi suficientemente provocadora para me fazer abandonar deste retiro místico.
Mas, se há pouco para acrescentar por que carga de água estou aqui a encher chouriços? ;)

4 de julho de 2008

A gargalhada...

"O Secretário de Estado da Educação reconheceu, esta sexta-feira, «alguma preocupação» com os resultados no exame nacional de Português e prometeu tomar medidas para inverter a situação."
Se há motivos para grande apreensão da parte dos responsáveis pelo ME, esses motivos não deveriam ser (creio que não serão) os resultados dos alunos no exame de português. Valter Lemos saberá melhor que ninguém como meter o Rossio na Betesga. O que justificará a apreensão da equipa maravilha do ME será a “missão impossível”: a recuperação da credibilidade, a recuperação da confiança, a criação de um clima de esperança no ensino.
Afinal, qual é o plano?

3 de julho de 2008

A mãe adoptiva dos conselhos municipais da educação...

A ministra da educação confessava, há dias, que “costuma aconselhar-se junto de antigos ministros da pasta, a quem costuma telefonar «muitas vezes» para ouvir as suas opiniões”.

Presumo que terá sido o Dr. Justino o último conselheiro ouvido pela ministra. Como bem me lembro, o Dr. Justino foi o pai dos conselhos municipais de educação, criados pelo Decreto-Lei n.º 7/2003, de 15 de Janeiro de 2003 (que regula as competências, a composição e o funcionamento dos conselhos municipais de educação, regulando, ainda, o processo de elaboração e aprovação da carta educativa e os seus efeitos) .
Creio que a actual ministra da educação pretende ser a mãe adoptiva do definhado documento. E o que hoje foi anunciado pelo secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, “que as autarquias podem assumir a gestão das suas escolas”, pode ser ter sido um passito mais adiante naquilo que foi a ambição do progenitor da descentralização de competências para as autarquias: a gestão das escolas pode ser, ou não (aguardemos para ver), a mão do autarca no interior das escolas. Pode ser uma mão que puxa as rédeas do poder situado. Como é evidente, os proletários da educação precisam, mais do que nunca, de controlo, de uma mão forte.

Espero estar profundamente equivocado. Como espero que a ilusão do controlo da acção situada seja isso mesmo: um erro de interpretação. Espero ainda que a ideia seja a de obrigar as autarquias a fazer o que deveria ter sido feito(ou se já foi feito não se notou): de coordenar e articular as políticas educativas com outras políticas sociais; de elaborar a carta educativa que gere a rede educativa municipal; de apoiar, no âmbito da acção social escolar, os projecto de inclusão das crianças com necessidades educativas especiais; de intervir na qualificação do parque escolar. Espero para ver!

2 de julho de 2008

Uma feira de vaidades ou um palco para a excelência?

«Galeria de Ministros» visa dar rosto e reconhecer trabalho desenvolvido

Parece-me bem que se reconheça quem merece ser reconhecido. Parece-me mal que a retórica de excelência não se aplique ao desempenho dos actores políticos. Parece-me mal que 95% de ministros se abeirem da excelência e lhes seja prestado reconhecimento público pelo desempenho político que a “ciência do mérito” (uma inovação deste ME que introduziu as cotas de acesso) contradiz.

Se a cultura da excelência fosse levada a sério, apenas 4 ministros da educação compartilhariam a «Galeria de Ministros». Não avaliando a eficácia das políticas, não considerando os erros da acção e da estratégia, esta iniciativa acaba por ser reduzida a uma "feira de vaidades". É que para haver coerência entre a retórica e a prática política, a «Galeria de Ministros» teria de visar o reconhecimento do trabalho de excelência que foi desenvolvido por cada um dos ministros da educação. Ora, não é disso que se trata. Ou será que estou demasiado intolerante com os principais responsáveis pelo estado, pretensamente mau, da educação?

1 de julho de 2008

Uma questão de flexibilidade...laboral

Da versão preliminar do relatório de análise dos resultados ao inquérito sobre as condições de exercício da actividade docente realizado pelo grupo parlamentar do BE destaco duas conclusões aparentemente irrefutáveis:
1. Os professores são explorados
Os docentes despendem, em média, 46 horas semanais no exercício da sua profissão (incluindo aulas, reuniões, actividades de direcção de turma, preparação de aulas na escola e em casa, correcção de provas, etc.). Cerca de 20% do tempo despendido no total de actividades de docência corresponde a trabalho realizado em casa.

2. Os professores são mal tratados
A avaliação das condições de trabalho ao nível das infra-estruturas existentes é muito negativa, não só em relação a espaços menos desadequados (como a Sala de Professores e a Biblioteca), mas sim quanto à generalidade dos espaços para realizar trabalho individual na escola.
Olhemos para este problema no quadro da revisão do código de trabalho e, sobretudo, na ideia de flexibilidade aplicada ao horário de trabalho. E se quisermos ir um pouco mais longe, pensemos na alteração do conteúdo ocupacional dos professores no sentido do incremento das funções de administração e gestão e função de extensão educativa (actividades de custódia), e na desvalorização das funções de docência e de investigação.
O que vemos?
Vemos o professor idealizado pelo professor João Freire e transfigurado no novo ECD [o PGuinote tem publicado alguns excertos desse famigerado estudo].

Desenganem-se meus caros colegas!
A adaptação à mudança que enforma a retórica oficial só tem um significado: se não estão bem com estas condições de trabalho, desamparem a loja: a bem do défice, claro.

Onde é que eu já vi isto? A despropósito, ou talvez não, evoco as declarações do bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, que comentava a deserção dos médicos do sector público para o sector privado:

"Pedro Nunes afirmou ainda que os hospitais públicos tornaram a sua cultura numa cultura de hospitais privados e que os profissionais de saúde agiram de acordo a oferta de melhores condições económicas.
«Quando resolveram que os hospitais públicos passavam a ter uma cultura de hospitais privados, começando a brincar à gestão dos hospitais públicos e retirando aquilo que apegava os profissionais ao hospital público que eram as suas carreiras».
O bastonário disse ainda que desta forma se colocou a «ênfase unicamente na produtividade» e que evidentemente «os próprios profissionais reagiram a essa mudança cultural e tenderam naturalmente a ir para onde lhes davam melhores condições económicas». (TSF)

Autonomia das Escolas na Europa

O Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE) acaba de publicar o estudo "Autonomia das Escolas na Europa, da autoria da Rede Eurydice (via Ramiro Marques).

Destaquei a negrito as conclusões mais... surpreendentes. Afinal, mais autonomia não requer mais controlo. Direi que mais autonomia requer mais... confiança, nas pessoas e nos processos!

"O presente relatório analisa igualmente a correlação que possa existir entre o grau de autonomia delegado e a força da aplicação das medidas de responsabilização das escolas. Será possível estabelecer uma relação entre o nível de autonomia concedido e a natureza e intensidade dos procedimentos de monitorização que incumbem aos órgãos e às pessoas a nível da escola? Também neste aspecto, prevalece a diversidade quanto à forma como é assegurada a responsabilização das escolas. De facto, a supervisão efectuada pelos organismos de inspecção ou de organização (incluindo as autarquias locais) ou a monitorização dos resultados (nomeadamente, dos resultados dos alunos em testes normalizados) não correspondem a um grau de autonomia específico. Os países com um elevado nível de autonomia (Bélgica, República Checa, Dinamarca, Suécia, etc.) recorrem todos a estes diferentes tipos de controlo. A diversidade explica-se pelo facto de os métodos tradicionais de supervisão (inspecção de professores, por exemplo) terem sido adaptados para integrar as novas responsabilidades delegadas nas escolas. Foram raros os países que, como o Reino Unido (Inglaterra), desenvolveram medidas de responsabilização associadas a políticas de autonomia das escolas e relacionadas com o grau de liberdade atribuído. Contudo, todos os países em que existe um elevado nível de autonomia desenvolveram formas de responsabilização, que variam consideravelmente quanto ao correspondente nível de controlo. Ao invés, os países que não possuem um modelo estruturado de avaliação das escolas são aqueles em que as reformas no sentido da autonomia são muito recentes, parciais ou ténues (Bulgária, Grécia, França, Itália, etc.).
Porém, esta abordagem da responsabilização começou a emergir em alguns deles. A Itália, por exemplo, decidiu recentemente desenvolver instrumentos de avaliação para medir o valor acrescentado por cada escola em termos de conhecimentos dos alunos."