28 de fevereiro de 2006

A escola a tempo inteiro disfarça a ausência de educação a tempo inteiro!

O artigo de opinião de Vital Moreira (VM) [Público POL nº 5816 | Terça, 28 de Fevereiro de 2006 – serviço reservado a assinantes] vem exaltar as medidas governativas que foram denominadas junto da opinião pública por “Escola a tempo inteiro”.
Considera VM que:
“[…] O primeiro sucesso foi o de colocar a educação e a escola no centro da agenda política governamental e da discussão pública, o que é um prodígio num clima obsessivamente dominado pelos temas do défice orçamental, da crise económica e do pessimismo social. O segundo êxito é o aplauso generalizado que as medidas governativas nesta área têm suscitado na opinião pública (com as excepções previsíveis). São várias as razões para esse duplo êxito: atacar os problemas concretos, tal como sentidos pelas pessoas; avançar com soluções praticáveis e coerentes; colocar os utentes, e não os profissionais, no centro das preocupações; revelar coragem e determinação em levar de vencida as resistências corporativas e os interesses estabelecidos.”
Estará a educação e a escola no centro da agenda política governamental e da discussão pública? Não estaremos a confundir problemas escolares com problemas educativos? Não estaremos a confundir opinião pública com opinião publicada? Os efeitos da opinião publicada na opinião pública são conhecidos; Para além das produções discursivas apresentadas na imprensa e nos mass media por observadores e analistas políticos generalistas e com grandes audiências, quem é que intervém nesta discussão? Não será uma prova de miopia analítica desprezar o contributo da investigação das realidades socioculturais ao afastar dos órgãos de comunicação social e da discussão pública os verdadeiros especialistas em educação?
Serão merecedoras de aplauso as medidas governativas que resultaram numa campanha populista de imolação da credibilidade dos profissionais da educação [cuja resistência será sempre entendida como uma resistência corporativa mesmo que essa resistência seja motivada por outra razões, nomeadamente, o seu entendimento do que é o interesse e o bem das crianças e jovens], sob a bandeira da eficiência, coragem e acerto das medidas?

Serão demasiadas perguntas que confluem numa resposta: O aplauso generalizado que as medidas governativas nesta área têm suscitado na opinião pública deve-se, unicamente, à argúcia política deste governo, potenciada pelo namoro aceso com a comunicação social e não pela substância das próprias medidas.

“A escola a tempo inteiro” é uma retórica dos políticos e de muitos comentadores “especialistas em generalidades” que procuram a legitimação de certas escolhas políticas utilizando argumentos científicos [das ciências humanas e sociais] e que tentam disfarçar a supremacia das políticas economicistas. Os critérios para a constituição de turmas, a rigidez da gestão do crédito horário dos professores pelas escolas, são dois exemplos inequívocos que colocam no centro da decisão política os interesses económicos e não o interesse dos alunos.
A retórica “A escola a tempo inteiro” serve para ocultar o défice de “Educação a tempo inteiro” do nosso modelo de organização política e social. A apropriação perversa nos discursos políticos do discurso científico faz-me desconfiar da credibilidade das visões monocromáticas que defendem o interesse e o bem dos utentes [não gosto do termo aplicado à educação… mas percebo a oportunidade da utilização], ou seja, as crianças e jovens; da arrogância ideológica que considera a singularidade do interesse e do bem dos utentes; da sobredeterminação ideológica em detrimento do conhecimento factual; das corporações de arautos do bem comum.

Como dizia uma estimada colega: “Eles não brincam em serviço... e nós não podemos dormir em serviço... ou isto vai acabar muito mal.”

Adenda:
Aconselho vivamente a leitura deste texto no crackdown.

25 de fevereiro de 2006

Professores de segunda…

"O PSD quer que os professores desempregados possam ajudar nas escolas, no combate ao insucesso escolar, e junto das comunidades de imigrantes, para integração na sociedade, contando esse trabalho para o tempo de serviço."

Ajudar nas escolas? Ajudar a fazer o quê? Um professor ajudante é um professor ou um auxiliar da acção educativa? Se é um professor e tem condições de desempenhar a função para a qual está habilitado, por que razão há-de ser remunerado com o subsídio de desemprego? Se a moda pega, ainda veremos um programa nacional para a promoção do desemprego.
Proponho que a moda comece no próprio governo e se estenda até à Assembleia da República: Seria uma grande contribuição para a diminuição do défice!

24 de fevereiro de 2006

Afectividade como matéria de ensino…

"… a afectividade não se ensina, pratica-se. Não pode nem deve ser encarada como se fosse um conteúdo…"
Esta afirmação do adkalendas foi enunciada após um prolongado debate que se seguiu ao excerto de Hargreaves. Não seria congruente com as ideias de escola que defendo que deixasse este assunto sem um pequeno acrescento.
Creio que a afirmação foi proferida num contexto em que se coloca a formação académica dos professores no centro das preocupações educativas. A ideia que subjaz à afirmação é, a meu ver, que a deficiente formação académica dos professores no domínio da sócio-afectividade legitima a demissão da escola da sua função formativa.

Parece-me claro que a afectividade é aprendida e desenvolve-se como todas as outras capacidades humanas. Se a escola busca o desenvolvimento integral dos alunos como poderá a afectividade ser destituída de conteúdo? Vejamos: quando um aluno se envolve ou é envolvido num conflito com um colega e/ou com o professor numa sala de aula, quando degrada material escolar, quando hostiliza um parceiro pela ideias que este defende, quando recusa os valores da solidariedade, da cooperação e da entre-ajuda,… o professor deve ou não encarar estas problemáticas como conteúdo/matéria de ensino? Deve ou não incluir no seu plano de trabalho actividades orientadas para o desenvolvimento afectivo? Serão as capacidades sócio-afectivas sensíveis ao treino e à exercitação? Uma formação inicial de professores centrada numa pretensa formação científica que menospreze a integralidade do sujeito pode ou não legitimar a desresponsabilização da escola face ao desenvolvimento afectivo dos educandos? O que é afinal um conteúdo de ensino?

Chegamos, uma vez mais, à balcanização disciplinar!

23 de fevereiro de 2006

Revista à blogosfera adiada

É uma pena que o José tenha interrompido a sua participação na blogosfera. É que esta entrada vem mesmo a calhar:

Uma DÉCIMA sobre a INSTRUÇÃO
Décima atribuída ao “tio” Belchior, (falecido), Estação de Ourique, Castro Verde, in A ESPIGA – uma publicação Nº 1 de 1982, da Escola Preparatória de Beja, coordenada por Abílio, Maria do Carmo, Maria da Conceição Teixeira e Maria Joaquina.

MOTE

A INSTRUÇÃO (NÃO) É PRECISA
A INSTRUÇÃO NÃO CONVÉM
QUE A INSTRUÇÃO EMBRUTECE
A QUEM MUITA INSTRUÇÃO TEM.

Duques, marqueses, morgados
Família de igual medida
É tudo gente instruída
Alguns em direito formados
Lentes e deputados
A morte os harmoniza
Sabe Deus quem autoriza
A conhecer o bem do mal
Para a base fundamental
A instrução não é precisa.

Se todos pudessem estudar
E todos pudessem saber
Quem havia exercer
Por aí tanto lugar
Ninguém queria trabalhar
Cuidar dos gados de alguém
O estudo para quem não tem
Não é útil o seu ensino
Para quem é pequenino
A instrução não convém.

O rico por ter estudado
Não faz trabalhos de peso
Nem encargos de desprezo
Quem os faz é gente rude
O que não sabe faz tudo
é o que menos merece
É àquele que não conhece
De que serve ter aprendido
Há tanto homem instruído
Que a instrução embrutece

Ver-se o pobre ignorante
Não causa admiração
Ele não recebeu instrução
Não vê os erros por diante
Admira é o estudante
Que vai a Coimbra e vem
Não é um são mais de cem
Se a gente os for a contar
Isso é que é para admirar
A quem muita instrução tem.


Adenda:
Professora, posso falar consigo? ... A IHARAH regressou à blogosfera;
O António mudou de endereço. O Tratado das Paixões está aqui -http://www.tratalma.blogspot.com/

20 de fevereiro de 2006

Pausa

Interrompo até 4ª feira a minha participação na blogosfera.
Não é um sinal de protesto pela recente declaração ao jornal Público do Engenheiro José Sócrates: “Aulas de substituição obrigatórias no ensino secundário a partir de Setembro”.
Também não é um sinal de regozijo pela votação nos Blopes.

É uma peregrinação gloriosa e não decorre das cerimónias de Fátima! ;)

Adenda: Ao percorrer este exercício reflexivo da Isabel, fui tomado por um cocktail de sentimentos antagónicos: um mesclado de nostalgia, euforia, cólera e inquietação.

Este estado solidário decorre da minha profunda admiração pelos verdadeiros actores educativos que resistem ao assalto dos pára-quedistas da educação. E quem são? Refiro-me concretamente a um grupo hegemónico de analistas muito bem retratados por Licínio Lima e Almerindo Janela Afonso, no mapeamento das políticas educativas em Portugal:

“De facto, a visibilidade social de muitos analistas e o seu paradoxal afastamento (e muitas vezes desconhecimento) das realidades e especificidades socioeducativas e organizacionais a nível local e institucional, bem como dos processos educativos e pedagógicos concretos, não superado através de uma actividade sistemática de trabalho de campo e de recolha e análise de dados empíricos em contextos específicos de acção, condena-os a visões apenas panorâmicas, tendencialmente englobantes e homogéneas das realidades educativas (e, por essa via, muitas vezes, a análises daquilo que não conhecem, ou só muito parcialmente podem conhecer). Ensaiam, assim, um olhar constante de cima para baixo, sem a procura do desafio inverso (e da eventual vertigem resultante), isto é, sem interrogar as grandes decisões políticas e legislativas (centrais), pretensamente reproduzidas nas diversas unidades de gestão (periféricas), a partir da centralidade da acção educativo-pedagógica que ocorre em contextos e por iniciativa de actores concretos, com a força que lhes advém da acção e com a respectiva margem de autonomia relativa, e por vezes com o interesse e a capacidade de não reproduzir apenas as directivas centrais mas também de lhes conferir, na/pela acção, um estatuto periférico ou marginal.” (p. 11)

[o negrito é meu]

18 de fevereiro de 2006

Abraços

Deixo aqui um largo abraço que envolverá os colegas e amigos, da blogosfera e fora dela, que participam nesta viagem.

Agora, há que aproveitar o fim-de-semana.

PS: E se houver tempo para a escola ainda voltarei às Reformas da Educação Pública.

17 de fevereiro de 2006

:)

Hoje importa falar da vida. Hoje, evoco o momento em que fui lançado para ela. E quando penso na vida, penso nos modos de a enriquecer e de a qualificar. É aí que entra a humanidade que é algo que depende em boa medida do que fazemos uns aos outros. É aí que entra a aprendizagem do trato humano, dos seus significantes e significados. A humanização e todas as formas do trato são um processo recíproco em que ao tornarmos a vida boa para nós não deferirá muito de tornarmos boa a vida. Para os outros, para todos, como diria Savater.
O legado que recebi há 41 anos ultrapassa um cenário de sobrevivência. É um projecto que pretende ir mais longe. É um projecto balizado por padrões éticos e estéticos que desejo ver cada vez mais elevados envoltos por uma matriz hedonista…

14 de fevereiro de 2006

Enredado…

Ainda bem que o adkalendas decidiu retomar a discussão acerca da função da escola e do professor porque permite revisitar a “velha” questão: instrução versus educação.
[Esta pequena entrada não dispensa a leitura do Enovelado.]

Um professor só ensinará aquilo que o aluno estiver na disposição de aprender. Sem entender o aluno, sem estabelecer uma relação afectiva favorável à aprendizagem, sem personalizar o acto educativo, de que vale ao professor o saber específico? É fácil cair em dualismos herméticos claramente desfasados do que é a relação educativa. E a relação educativa é o acto educativo, que terá de ser personalizado. Se assim não fosse, o professor seria prescindível até porque existem outras formas de o aluno aceder ao conhecimento, porventura, mais capazes e mais actualizadas.
Não creio que a ênfase na questão dos afectos minimize a qualidade do acto educativo. Bem pelo contrário, legitima o trabalho do professor. E reduzir o trabalho do professor ao acto instrutivo é, a meu ver, regredir na profissionalidade docente. Ser educador é apostar no desenvolvimento da pessoa do educando e assumir-se a si mesmo como pessoa. Apesar de assistirmos à exigência exacerbada de mais educação na escola, há que procurar retirar da pressão benefícios que se traduzam em melhor escola.
Malogradamente, não tem sido possível encontrar formas de creditar a exigência e a responsabilidade que recai na escola no reforço da qualidade educativa [que não dispensa o reforço dos recursos educativos].

Adenda I – Obrigado pela deixa, Teresa e Isabel.

“Resumindo: continuamos de acordo.E agora? O que fazemos com isto tudo?”

Ora aqui vai uma ideia psicadélica: A luz que radia dos holofotes dirigidos para a escola [pensei num sistema de recuperação da energia solar… ;)] tem sido mal aproveitada sobretudo pelos actores educativos. Usando uma analogia futebolística [e há quem não goste deste tipo de analogias ;)] é preciso saber viver com a pressão. Entrar em pânico nos momentos decisivos [recordo que estamos prestes a renegociar o estatuto da carreira docente que reconfigurará, digo eu, o papel do professor] dificulta a expressão do potencial de cada um [da equipa ou do grupo profissional]. Curvar-se nos momentos em que é necessário assumir riscos [e não podemos esquecer que há divergentes perspectivas e interesses quanto ao papel da escola] é uma fragilidade que afastará os professores dos lugares de decisão da orientação educativa.
Deste modo, é necessário exigir dos nossos representantes associativos [sindicais ou associações profissionais…demarcando as questões laborais das pedagógicas (será possível?)] firmeza e clareza nas posições que adoptarem em sede de negociação ou reivindicação. Obviamente que a tibieza das acções dos nossos representantes legítimos deve ser penalizada pela via da desvinculação ou através da criação de outras alternativas cívicas [a meu ver, a Ordem não é uma alternativa exequível] nomeadamente, as iniciativas do tipo apartidário - Estados Gerais da Educação (???).
Mas não chega exigir dos outros mais responsabilidade. Há que procurar, através das iniciativas locais, sensibilizar e mobilizar as comunidades educativas agregando-as às nossas causas. E isto não depende dos outros. Depende da acção de cada um de nós na escola situada.

Adenda II: Aproveito a oportunidade para deixar o reflexo do colega Delfim Peixoto http://transparenciasereflexos.blogspot.com/ . Bem-vindo.

13 de fevereiro de 2006

Desafios…

A onda mais recente da blogosfera [e se ainda não a apanhou ou foi apanhado o mais provável é que a onda morra na praia] é um desafio "cândido" cujo propósito será: dar a conhecer uma faceta mais pessoal dos bloggers. Exceptuando o caso dos blogues mais intimistas, a discussão dedicada à coisa educativa é mais ou menos hermética ao mundo das emoções e nem sempre revela [e por que teria de revelar?] a face humanizada [peço desculpa pelo palavrão] do blogger. Não atribuo um significado especial a este tipo de actividades, mas reconheço que interferem no CLIMA da blogosfera. Em doses moderadas, estas iniciativas podem promover a agregação de uma comunidade, enredar uma teia de discussão, fidelizar grupos de interesse.
As ondas são como as modas: Só as apanha quem quer! E só participa quem reconhece alguma vantagem nessa participação.
Isto a propósito do desafio que correu a blofosfera, tema da entrada anterior, e da ideia [alegre] da Isabel que sugere uma metamorfose do concurso de “manias”, agora observadas sob o ponto de vista educativo…
Seria um intróito deste género:
Olhar para o professorado entretido com as suas rotinas e destacar as manias MAIS e MENOS proveitosas [hummm… para quê?] para o exercício profissional.
A ideia não passará por reeditar as Virtudes capitais do professor e os Pecados mortais do professor, assuntos muito bem tratados no blogue da Lucília. Seria um olhar mais descomprometido e idiossincrático. Será possível? E como é que isto se faz?

Uma adenda para duas boas notícias:

  1. Parece que os problemas que me ocuparam o espírito durante os últimos dias estão debelados. Há que recuperar energia e a disposição…
  2. O regresso do Manel à blogosfera, De cabeça, vai enriquecer esta excelente tertúlia que se deixou embalar pela coisa educativa.

9 de fevereiro de 2006

Elos…

[Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue.]

Olhei para dentro e encontrei algumas rotinas, mais ou menos esotéricas.
A Lucília foi o elo de uma cadeia que percorrerá, num ápice, a blogosfera. Alguns dos seus hábitos também são meus, o que não me surpreendeu. Será a excentricidade plural? Será possível caracterizar uma mania sem denunciar um espaço e um tempo revelador?
Avancemos… excluo das minhas preferências rotineiras o gosto pela escrita e as viagens pela rede porque serão os elementos aglutinadores da teia que ajudo a engrossar diariamente.

# mania de argumentar…
… e buscar fragilidades no argumento.

# mania de usar canetas de aparo…
... e de passar uma boa parte do tempo a encontrar a sua morada.

# mania de considerar a actividade física indispensável à minha sanidade mental.
Eu sou o meu corpo!

# mania de me deixar enlear por um conversa que desagúe num problema educativo…
… e quando não desagua modificar-lhe o curso.

# mania de um sorriso sarcástico ao avistar os cromos snobe e subserviente…
… designadamente, o tipo académico empolado e o “boy” que esfola sete gatos pelo “job”.

# mania de privilegiar o olhar em detrimento do ouvido…
... o que não deixa de ser paradoxal atendendo à insensibilidade cromática e ao ritmo afinado.

# mania de ser excessivo…
…nos afectos, na profissão, nas paixões, nos desencantos, nas virtudes e nos defeitos… e nos desafios.

Os cinco ;)(?) bloggers a quem passo o desafio são:

Miguel Sousa - Língua de trapos
Isabel - Memórias Soltas de Prof
Teresa – Tempo de teia
Manel Cabeça – Crónicas do deserto [provisoriamente]
Teresa - Talvez uma Península
adkalendas – Micómio
Henrique Jorge - Um prego no sapato
crack – crackdown
Tit – O canto do vento
MJMatos – Que Universidade?

Depois de nomear estes cinco cúmplices bloggers fiquei mais tranquilo: A onda prosseguirá o seu destino…

8 de fevereiro de 2006

Um breve passeio pela floresta...

"[…] na maioria dos casos, a relação entre o lado afectivo e o académico pesa infelizmente no sentido contrário. Muitos jovens não irão aprender os conteúdos académicos se não se ligarem afectivamente aos assuntos. Se se sentirem isolados, perdidos e à deriva na escola, eles vão desligar-se da aprendizagem. E sem aprenderem as competências, responsabilidades e recompensas do afecto e da cooperação com os outros, todo o desenvolvimento intelectual do mundo não fará deles melhores pessoas ou melhores cidadãos." (p. 80)

Aspectos positivos:

Teresa: “Não penso que a mensagem aqui deixada indique que o consumo de tempo com o afecto afecte o tempo de aprendizagem do "resto"”.

Teresa Lopes: “Aquele abraço que uma aluna me deu, passados dois ou três anos, quando me encontrou na rua, ainda o sinto”.

Joana: […] "ter/mostrar entusiasmo" e "preocupar-se (caring) com os alunos e com o que eles aprendem".

Constrangimentos:

Formação de professores
Tit: “Sentir a Escola e os Alunos... Algo que é difícil conquistar com Acções de Formação de "caça ao crédito"...

[É levantado o véu da formação contínua perversamente burocratizada.]

Divergências conceptuais – O que é a escola?
Adkalendas: “[…] Mas é preciso não esquecer a função principal da escola.”

[Qual é a função principal da escola? Atrever-me-ei a dizer, de forma simplista, que a principal função da escola é a promoção da aprendizagem conivente com o próprio processo de construção da pessoa. De que servirá uma aprendizagem que seja um enfartamento de um saber alheio à existência pessoal?]

Sistema de avaliação predominantemente orientado para o domínio dos conteúdos
Agostinho: "Mas infelizmente, depois temos os exames e os rankings do PISA que não levam os afectos em conta. Que fazer? "

Ruídos mediáticos e a devassidão do acto educativo
Ana: “Nos tempos que correm, com toda a história de pedofilias e afins, cada vez que toco num aluno, fico com a alma tremendo...”
____________________________

IC: “Qual o perfil do professor cooperativo?”

Tem de ser mais do que um técnico de ensino, tem de ser também um homem-de-pensamento. Tem de ser um intelectual transformador que ultrapasse os limites dos procedimentos de reflexão.

Mas, sem querer desviar-me da questão, será necessário marcar um caminho: Como diria o professor Manuel Ferreira Patrício, o perfil profissional do professor não se define, redefine-se. Depois de responder à questão suscitada pelo Adkalendas – Qual a função principal da escola? –, há que procurar, numa primeira fase, o perfil ocupacional, de seguida, será necessário definir o perfil profissional e por fim o perfil de formação.

É um trabalho árduo e complexo porque exige uma definição política, pedagógica e científica do professor que necessitamos.
E se não existir uma coordenação da definição política, pedagógica e científica?

5 de fevereiro de 2006

Será que vale a pena relembrar?

"O acolhimento afectivo (Hargreaves, et al., 2001. pp. 79-80)(1)

A maioria das reformas escolares parecem não atribuir importância ao afecto. E o trabalho emocional de dar suporte afectivo raramente é reconhecido como central na determinação do profissionalismo do professor. No entanto, conforme defendem autores como Noddings (1992), o afecto não é apenas um pré-requisito essencial para a aprendizagem, é ele próprio uma forma de aprendizagem:
Se a escola tem um objectivo principal, esse deve ser o de promover o crescimento dos estudantes como pessoas saudáveis, competentes, morais... O desenvolvimento intelectual é importante, mas não pode ser a primeira prioridade da escola (p. 10).
Os estudantes, segundo a autora, preocupam-se pouco com aquilo que têm que aprender (um problema do currículo). E queixam-se de que os professores não se preocupam com eles (um problema de apoio). A questão para a escola, sugere, não é o dançar ao ritmo do movimento da eficácia, perseguindo o princípio de que "todos os jovens podem aprender", mas perguntar-se antes o que é que os jovens devem aprender. Segundo Noddings, a afectividade, apreendida quer no currículo formal quer nas relações humanas, é um dos conteúdos mais importantes que os estudantes devem reter.
Existem várias formas mediantes as quais a escola e os educadores podem alargar os seus horizontes para além do plano puramente académico e perspectivar um espaço claro para o afecto na educação dos jovens. Para Noddings, alguns desses domínios-chave, ou centros de afecto, como lhes chama, são:
. Afecto por si/cuidado consigo – para o bem-estar físico (não apenas a "malhação" auto-indulgente, mas também o exercício físico ao serviço dos outros), vida espiritual, trabalho e recreação;
.
Afecto pelo próximo – pelos colegas e namorados, como preparação para a intimidade / vida em comum, pelos amigos e vizinhos, e, não menos importante, pelas crianças, através de oportunidades de trabalho com elas, no quadro escolar;
.
Afecto por colegas e conhecidos – por colegas e comunidades, em relações recíprocas de ajuda e apoio: uma preparação essencial para um bom (e produtivo) ambiente de trabalho e para uma cultura de serviço à comunidade;
.
Afecto pelos animais - pelos animais de estimação em particular, mas também por todo o mundo animal;
.
Afecto pelas plantas e pelo ambiente – para cuidar do próprio jardim, para apreciar a natureza e para cuidar do ambiente;
.
Respeito pela obra humana – pela manutenção dos objectos (contra a cultura do desperdício) e do património estético e arquitectónico no meio rural e urbano;
.
Respeito pelas ideias – pelas paixões do intelecto e da criatividade: não no sentido do processamento indiferenciado de todos os factos, mas no sentido da perspectiva e imaginação que o conhecimento e a reflexão permitem.
Isto não significa que o academismo não seja nada e o afecto tudo. Com efeito, as escolas do interior e as escolas com uma população mais humilde, que procuram providenciar um ambiente afectivo aos seus alunos, mas que não os estimulam intelectualmente, não lhes prestam um grande serviço, a longo prazo (Hargreaves, 1995). Mas, na maioria dos casos, a relação entre o lado afectivo e o académico pesa infelizmente no sentido contrário. Muitos jovens não irão aprender os conteúdos académicos se não se ligarem afectivamente aos assuntos. Se se sentirem isolados, perdidos e à deriva na escola, eles vão desligar-se da aprendizagem. E sem aprenderem as competências, responsabilidades e recompensas do afecto e da cooperação com os outros, todo o desenvolvimento intelectual do mundo não fará deles melhores pessoas ou melhores cidadãos (como o demonstram muitos déspotas de finíssima inteligência).
O afecto é importante. Não nos podemos dar ao luxo de o esquecer."


(1) Hargreaves, A.; Earl, L.; Ryan, J (2001). Educação para a mudança - Reinventar a escola para os jovens adolescentes. Porto Editora.

Adenda: Vá ao outro lado do oceano para conhecer a OFICINA DE PROJETO.

3 de fevereiro de 2006

Votação para os Prémios BLOPEs / Votación para los Prémios BLOPEs

Desconheço o(s) critério(s) para a nomeação e não sei, objectivamente, as razões da escolha. O que eu sei é que o outrÒÓlhar está acompanhado de nove blogues para a votação final dos Prémios BLOPEs.
Atendendo à importância que concedo à cooperação, partilha de experiências pessoais e reflexão conjunta, os colegas e amigos que nos presenteiam com a sua palavra, sempre elevada, e com o seu tempo, estão TODOS nomeados para a melhor tertúlia da blogosfera dedicada aos assuntos da educação. Para mim, já ganharam!
Sugiro que visitem os meus colegas de poltrona porque o que importa... é o olhardooutro!

Melhor Blogue feito por um professor/Mejor Blog hecho por un profesor:
Avalúo y Tecnologías de Aprendizage
Lourdes Barroso
Palavra Aberta
Vivência Pedagogica
Palavra Aberta
Vamos Blogar?
AulaBlog 21
blog de Benedicto
Sabichões da Azeda
outrÒÓlhar

2 de fevereiro de 2006

Olhares de fora…

1. Será a profissão professor susceptível ao isolamento? Admitindo que sim, que a profissão professor é uma profissão de grande desgaste emocional, qual é a verdadeira amplitude do problema? Será necessário propor medidas especiais regenerativas? Será um problema sério de saúde pública [é que cerca de 200000 operários é uma multidão…]? Ou não, que os queixumes de muitos professores tipificam a luta corporativa que visa preservar o estatuto profissional e evitar a despromoção social [isto é, a desvalorização salarial, a perda de regalias, etc.,etc.]?

2. Realizam-se inúmeras discussões a pretexto de um suposto braço de ferro entre os professores e o ME. É raro encontrar no enredo da argumentação um apelo à defesa dos interesses dos alunos. Qual é o fundamento desta corrente de opinião que censura a actuação dos professores? Admitindo que a crítica é plausível, por que razão os professores adoptaram a postura autista que dizem ver na actuação do ME?

3. Admitamos que a actuação política do ME tem sido desastrada. Será admissível que não se vislumbre uma medida que seja a merecer um louvor e o reconhecimento público da parte dos professores?

É que uma crítica decorre de uma autocrítica!