31 de março de 2008

Déjà vu

“O que é a Autoridade?
O que significa o Respeito?
Como se relacionam Professores, Alunos e Pais?
Dos tempos da palmatória às imagens do empurrão?
Quem manda hoje nas nossas escolas?
O que é ser Professor e ser Aluno?
O maior debate da televisão portuguesa reúne Professores, Alunos, Pais, Sociólogos e Psicólogos.
Crescer e aprender em harmonia.”

O formato do programa não permitirá tratar com a necessária profundidade as questões elencadas pela moderadora. No final do programa ficaremos ainda mais convencidos ao descobrir a verdade lapaliciana de que o mundo, a sociedade, a escola, os alunos, os professores, os pais, os conceitos, os valores, mudam no [e com o] tempo. É necessário perceber o sentido e os contextos da mudança e muito provavelmente ficaremos confusos quando associarmos os problemas aos paradoxos e às perversidades deste tempo [pós-moderno].
Atrevo-me a lançar uma proposta de resolução para os problemas deste mundo [educativo] em constante mudança: situar num discurso ético o trabalho das escolas e dos professores; discutir em debate alargado os princípios da igualdade, da excelência, da justiça, da parceria, do cuidado para com os outros.

30 de março de 2008

O reencontro...

Que lugar atribuiria ao professor na escola de hoje? Esta escola é radicalmente diferente da dos anos 70, com a massificação e a abertura do ensino a todos. Nos nossos dias, qual poderá ser a função do professor?

Um certo martírio. Sem qualquer dúvida, há dificuldades, sofrimentos, colapsos. Em Inglaterra, há uma grande vaga de suicídios entre os professores: não é uma brincadeira. Mas já havia chinfrim na minha época e no grande romance de Loius Guilloux, Le Sang noir, o chinfrim que mata. Sempre disse aos meus alunos: «Não se negoceiam as nossas paixões. As coisas que vou tentar apresentar-vos são coisas de que gosto muito. Não posso justificá-las.» Se sou arqueólogo e são os potes de quarto chineses do século VIII que constituem a minha vida, não posso justificá-lo. A pior coisa é tentar uma dialéctica da desculpa, da apologética, o que eu censuro ao ensino actual, e de que você parece ser uma belíssima excepção; é a apologética de ter vergonha das paixões. Se o estudante sente que somos um pouco loucos, que estamos possuídos por aquilo que ensinamos, é já um primeiro passo. Não vai estar de acordo, talvez ria, mas ouvirá. É nesse momento milagroso que o diálogo começa a estabelecer-se com uma paixão. Convém nunca tentarmos justificar-nos.” (Steiner, 2003, pp. 70-71)

Steiner, G; Ladjali, C. (2003). Elogio da transmissão – O professor e o aluno. Publicações Dom Quixote. Lisboa.

29 de março de 2008

Os «caça-fantasmas»*

Luís Freitas Lobo, claramente o melhor comentador português de futebol, considera que “mais do que problemas tácticos, Benfica e Sporting parecem viver numa casa assombrada durante 90 minutos.” O jornalista fala do mau momento desportivo das equipas de futebol destes dois clubes lisboetas e remete para o “lado mental do jogo” o busílis do problema. Nos momentos de tensão máxima a solução tem de estar no relvado. É neste contexto que o jornalista considera relevante o surgimento dos chamados jogadores «caça-fantasmas». Para determinar as causas e as soluções dos problemas, basta olhar para os rostos e corpos dos jogadores e ver os “fantasmas” que convivem com eles em campo.
Ora, parece-me possível estabelecer uma analogia entre os fantasmas do futebol e os fantasmas da educação. Antes de aclarar este esoterismo, parece-me evidente que é no terreno de jogo ou na escola situada que os «caça-fantasmas» terão de operar. Vale a pena olhar para os professores e procurar ver neles os “fantasmas” que assolam o sistema educativo.

E o que vemos no esforço e nas dúvidas estampadas no rosto dos professores?
  • No cansaço, vemos o fantasma da intensificação do trabalho docente.
  • No desânimo, vemos o fantasma da desautorização e o ataque à dignidade da função.
  • No abandono precoce, vemos o fantasma da falta de reconhecimento da especificidade da função docente ou a tentativa de homogeneização funcional do serviço público.
  • Na revolta, vemos o fantasma da mentira e da demagogia; vemos a subversão do educativo ao primado do administrativo.
  • Na esperança, vemos o fantasma do espartilhamento da carreira docente a definhar; vemos uma profissionalidade docente ser construída entre a racionalidade e a criatividade.

E o que fazem os caça-fantasmas? Fazem o que lhes pedem. E a melhor maneira de fazer bem o que lhes pedem é, muitas vezes, não fazer exactamente o que lhes pedem.
____________________
* Título da crónica de Luís Freitas Lobo no Expresso de hoje.

28 de março de 2008

...

Estou de regresso à labuta e nada tenho a acrescentar ao que já dissera aqui.

23 de março de 2008

Uma história que podia ser contada de outro modo...

Para grandes males grandes remédios!...


Adenda: Regresso no próximo fim-de-semana. Uma boa semana para todos!

22 de março de 2008

As margens

Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento
Mas ninguém diz violentas
as margens que o comprimem
Bertold Brecht
Esta Escola está esgotada. A escola pública de massas, inventada para o ensino colectivo, incorporando os pressupostos pedagógicos do ensino individual (de um mestre com o seu discípulo), edificou-se numa matriz pedagógica – a classe. Foi necessário criar um sistema de divisão e homogeneização dos alunos, de uniformização dos métodos de ensino e de controlo do trabalho docente. Com o aumento do número de alunos e a sua heterogeneidade, o prolongamento da escolaridade obrigatória, as crescentes expectativas quanto ao efeito da escolarização na obtenção de emprego, as estruturas da escola não estão preparadas para os novos públicos. Esta Escola dá mostras que já não tem sentido.

O episódio da Carolina Michaelis, como os milhares de episódios mais ou menos semelhantes que envolvem alunos e professores anónimos, são expressões de um desajustamento da organização escolar. Embora algumas das causas destas situações possam ser exteriores à própria escola, a classe/turma pode ser uma das causas directas.

Apesar dos esforços de minorias de professores que procuram ultrapassar as dificuldades colocadas pelo modelo uniforme, muitas vezes como medidas isoladas de sobrevivência; apesar de um conjunto de reformas que tentaram introduzir mudanças estruturais na organização pedagógica das escolas, nenhuma das respostas, locais ou globais, puseram em causa o princípio de ensino em classe.

21 de março de 2008

Um outro olhar sobre a barbárie...

As imagens recolhidas no interior de uma sala de aula da Escola Secundária Carolina Michaelis foram amplamente divulgadas por diversos meios de comunicação social. Ouvi declarações esotéricas da pedopsiquiatra Ana Vasconcelos, no noticiário da SIC, e do presidente do conselho de escolas Álvaro Almeida dos Santos, na RTP1, e tenho acompanhado as reacções na blogosfera.

O lamentável episódio foi dissecado e explicado sob diversos pontos de vista. Independentemente do ângulo de análise, o caso realça uma degradação do estatuto social do professor. Independentemente da proximidade da lente de análise [mais centrada no conflito concreto; ou mais focada na relação entre o Estado e os pais/comunidade], o professor surge como o elo mais fraco na relação dos alunos com o saber, ou na relação do Estado com os pais/comunidade. Este episódio permite-nos perceber, também, que no conjunto de interpretações sobre os fenómenos de ensino há uma tendência para desvalorizar o saber dos professores a favor de um determinado saber científico. Ontem foi a intervenção de uma pedopsiquiatra, hoje foi interpelado o presidente do conselho de escolas [o presidente do conselho de escolas decidiu assumir um papel de manga de alpaca... é o "saber científico de um burocrata"], outras vezes é a explicação de um sociólogo, e raras vezes a explicação de um professor.

Se por um lado estes episódios parecem retratar um sentimento generalizado de desconfiança em relação às competências e à qualidade do trabalho dos professores, alimentado por um conjunto de intelectuais e políticos que dispõem de um importante poder simbólico nas actuais culturas de informação, por outro lado encontramos sondagens de opinião que confirmam que o prestígio da profissional docente permanece intacto. Há, de facto, um entendimento consensual na sociedade de que o desenvolvimento exige um investimento na educação e que os professores são indispensáveis.

Há aqui um paradoxo que pode ser explicado pela existência de uma separação clara entre uma visão idealizada e uma visão concreta do ensino. António Nóvoa vê nesta falha o “epicentro da crise da profissão docente, que pode ser útil se a soubermos apreender na sua acepção original (krisis = decisão), assumindo-a com um espaço para tomar decisões sobre os percursos de futuro dos professores.”

20 de março de 2008

Impressões...


Fui encontrar no sítio da DGHRE dois documentos em PDF que constituíram a base das comunicações de dois autores, Leonor Santos - Professora na Universidade de Lisboa - e Jorge Pinto – Professor na Escola Superior de Educação de Setúbal -, no Seminário Temático Avaliação de Desempenho Docente.

Não conheço os especialistas convidados nem participei no evento. Limitei-me a observar as sínteses e a tentar perceber o sentido das apresentações. Só me ocorre um comentário: o Perrenoud ainda corre o risco de vir a ser considerado persona non grata no ME...

19 de março de 2008

Os valores ou a falta deles?...

As lutas pelo poder nas escolas adoptam configurações muito diversas. Não estou a pensar nas lutas pelo poder legítimo, sufragado pelo acto eleitoral. Estou a pensar nas estratégias utilizadas por vários actores tendo em vista a manutenção dos seus interesses e a conquista de uma posição privilegiada que lhes permita manter o estado da situação. A divisão da carreira e as novas dinâmicas geradas pela preparação do processo de avaliação do desempenho docente vieram ressuscitar estas lutas pelo poder.
Ramiro Marques tem divulgado alguns casos, algumas evidências que nos obrigam a reflectir seriamente sobre o sentido que queremos dar à nossa profissionalidade:
"O ambiente das escolas alterou-se. Nuns casos, há guerra aberta. Professores titulares contra professores, PCE contra professores titulares, perseguições por delito de opinião e sessões de auto-crítica, em reuniões do CP, à boa maneira estalinista e maoísta.
Exemplo disso, é um email que eu recebi de um PCE (não o identifico nem à escola!) a exigir que eu revelasse o nome da professora que me enviou as fichas de avaliação. Ao que isto chegou!
Noutros casos, é o beija-mão: professores a darem graxa aos avaliadores. Lamentável! É isto aquilo que chamam a avaliação entre pares!"
Entramos no domínio mais perverso da escola. Aquele em que se refugia o corporativismo bacoco. E o enquadramento deste fenómeno deverá ser feito a partir de um quadro de referência onde se inverte a lógica de serviço - afinal, quem serve quem?
Por conveniência semântica rotulei os actores instigadores: são os acólitos. São eles que procuram assegurar a manutenção do statu quo. Há várias versões de acólitos mas a ideologia é a mesma: Camuflar eventuais “rabos-de-palha”; jurar vassalagem e, como moeda de troca, reclamar a eternização das benesses. É a cultura da cunha.
Os acólitos não desejam equidade, prescindem da liberdade intelectual e receiam a perda de confiança do poder que ajudaram a conquistar. Alguns “desaparecem” quando são desmascarados. Não acreditam na cultura de colaboração, desconfiam da inovação e da mudança. Através de um pacto de regime, silencioso, poucas vezes declarado, o clube dos acólitos congrega vários tipos, docentes e não docentes. Alguns são fundamentais na gestão dos conflitos internos nas escolas; amortecem as críticas firmadas; impulsionam a intriga para tomar o pulso da contestação.

Sem pretender revelar todo o cardápio, é possível definir vários tipos de acólitos (porventura agregados numa oligarquia):
  • Os irritados criticam as pequenas falhas de organização, são intolerantes com os alunos e colegas, principalmente, com os mais novos. Crêem na sua coragem consubstanciada numa crítica ligeira, disfarçada, que ninguém leva a sério;
  • Os trabalhadores andam sempre atarefados, azedos e nunca erram. Isto é, raramente assumem o erro, o engano, o descuido, a falha. São os super-profissionais;

  • Os calados não têm opinião, apresentam-se descomprometidos com a escola. São insuspeitos, são os desejados porque não “complicam”. São os ouvidos que as paredes escondem;

  • Os estrategas preocupam-se com o clima da escola e com as pessoas, mas o que realmente lhes interessa é a conjuntura. Se pressentem sinais de um eventual contra-poder tornam-se visíveis, actuam concertadamente e, com muita facilidade, mobilizam um batalhão de fiéis. São implacáveis na retaliação;

  • Os anónimos diferem dos calados porque não têm a capacidade de discernir o seu grau de influência. Fazem qualquer coisa para agradar ao poder instalado e anseiam subir na escala de influência.
Raramente os acólitos aparecem no seu estado puro. São híbridos e multifacetados. São pessoas que procuram a sua transcendência. É uma lástima que este tipo de superação suscite uma profissionalidade desprovida de sentido.

Urge retomar a discussão sobre os valores na Escola!

18 de março de 2008

Avaliações que não servem os desígnios para que dizem ter sido criadas





"Tudo isto tem como único objectivo o condicionamento das progressões. E tudo isto é feito sob a capa da promoção do mérito." (Ler aqui o texto integral da Maria Lisboa)













Via Professor sem quadro - Joaquim Farias (roubada em http://ferrao.org/2008/03/joaquim-farias-organizao.html)

17 de março de 2008

Formação sem stresses?

Uma mistificação que urge combater é a dispensabilidade do esforço nos cursos profissionais e nos cursos de educação formação. Depressa conotados como cursos fáceis para sujeitos difíceis, os “profissionais” e os “CEF’s” estão envoltos por uma auréola hedonista que dificulta a criação de climas propícios à aprendizagem e à superação. Parafraseando Adalberto Dias de Carvalho: “Mesmo a prometida sociedade do lazer não dispensa o esforço. O próprio lazer acarreta-o na medida em que implica a perseverança para se alcançar a meta que se pretende atingir.” Não confundo, por isso, o lúdico com o trabalho. De facto, ambos podem coexistir, mas não são necessariamente coincidentes.

Agora que nos vamos reunir para discutir e apreciar as aprendizagens, em final de período, convém valorizar o esforço e com ele a responsabilização. Que esta formação profissional para o trabalho se faça pelo trabalho!

Adenda: Julgo saber quem foram os criadores da mistificação.
Quem concebeu o currículo dos CEF´s e dos profissionais [conceptualmente diferentes mas igualmente impregnados por uma pedagogia do lúdico] olha para o insucesso escolar através de uma lente determinista. Aligeirando os conteúdos programáticos e tornando-os cada vez mais “acessíveis”, desviando os alunos das matérias “teóricas”, olhando para o trabalho exclusivamente numa perspectiva de produtividade e de eficácia, os pragmáticos da tecnocracia sabem como garantir as condições para o sucesso escolar.

15 de março de 2008

Propostas sensatas e justas que foram recusadas pelo ME!

O que propôs a FENPROF para desbloquear a actual situação de crise?
1. Suspensão do processo de avaliação do desempenho, sem prejuízo para qualquer docente;
2. Não aplicação, no corrente ano escolar, de qualquer procedimento decorrente do novo diploma de gestão escolar;
3. Negociação de regras para elaboração dos horários dos docentes no próximo ano lectivo (consideração efectiva da formação contínua como integrada no horário laboral e consideração de um período mínimo de 9 horas semanais para a componente individual de trabalho);
4. Respeito pelas decisões e sentenças dos tribunais.

A FENPROF considerou, ainda, importante a reabertura, em 2009, de processos negociais de revisão do Estatuto da Carreira Docente, da direcção e gestão das escolas e do regime de Educação Especial.

A meu ver, a FENRPOF apresentou 4 propostas sensatas e justas que mereciam outro acolhimento do ME: Sensatas, porque não obrigariam o ME a um desprestigiante retrocesso da sua "orgia" reformadora e, simultaneamente, abririam a porta da negociação de outras matérias consideradas pelos professores de nucleares: a revisão do ECD, a direcção das escolas e o regime de Educação Especial; Justas, porque a sua aceitação seria um sinal de que o governo está interessado, de facto, em reabilitar a dignidade profissional dos docentes.

1. “Suspensão do processo...”
Só por manifesta teimosia se prossegue com um processo que está à partida condenado ao fracasso porque não permitirá alcançar o objectivo a que se propôs: avaliar o desempenho docente - a versão minimalista irá avaliar o acessório na medida em que serão valorizados alguns “aspectos observáveis”, uma parte da ponta do iceberg (a assiduidade e outras minudências). Ora, se a acção educativa não pode ser avaliada, por desajustamento do instrumento de avaliação ou por incapacidade do avaliador, para quê insistir em fazer de conta que se avalia?

2. “Não aplicação... diploma de gestão escolar”
Faz algum sentido importar elementos gestionários do diploma de gestão escolar sem revogar o seu precedente? Não se trata apenas de um problema de legalidade. Trata-se também pretender evitar o funcionamento caótico dos grupos e departamentos disciplinares.

3. “Negociação de regras para elaboração dos horários dos docentes”
O aumento do tempo de preparação e a inclusão do tempo de formação no horário laboral não são duas medidas de cosmética. São medidas que visam ajudar a desintensificar o ensino e a melhorar alguma da qualidade do serviço oferecido pelos professores.

4. “Respeito pelas decisões e sentenças dos tribunais”
Ainda vivemos num Estado de direito ou será que o “Estado de direito” é um mero chavão sem possibilidade de aplicação?!

14 de março de 2008

Nota muito breve sobre uma negociata fracassada...

Factos:
O ME negligenciou a avaliação dos professores nos últimos 2 anos e meio. Num acordar sobressaltado, o ME decidiu unilateralmente que a avaliação dos professores resolveria o problema das aprendizagens dos alunos. Num clique agitou as escolas e juntou 100 000 professores numa manifestação de desagrado. Percebeu que era necessário dar sinais de abertura. Chamou os sindicatos e aligeirou o processo para não perder a face. O movimento sindical não colaborou e disse que não legitimaria na mesa da negociação uma versão minimalista da avaliação. Como tem sido habitual, o ME recusou as reivindicações dos representantes dos professores e imporá uma versão aligeirada do modelo de avaliação.

Adenda: Se há matéria que tem suscitado um elevado consenso é a falta de oportunidade da implementação de um novo modelo de avaliação de professores. Os argumentos do ME para prosseguir com o processo de avaliação são inócuos e a versão minimalista apresentada afasta definitivamente a discussão do domínio pedagógico para a situar apenas no domínio político. Se se admite desvirtuar o modelo de avaliação por que razão não se admite suspender a sua aplicação até ao fim do ano lectivo? A avaliação dos professores passou a ser um instrumento do governo na batalha política. E é neste domínio que devemos manter a discussão. A meu ver, a posição da FENPROF de recusar legitimar a acção governativa é acertada, coerente e não defraudará as expectativas da maioria dos professores.

13 de março de 2008

Chamem a polícia... ;o)

Nasci e cresci no Vale do Ave. Convivi muito de perto com produtos das lógicas fabris. Sei muito bem do que falo quando comparo as hierarquias tayloristas das empresas às hierarquias artificiais impostas às escolas.
Nas escolas, os novos chefes de secção precisam de se defender da exaltação (ébria) de poder.
Quem os ajuda?

12 de março de 2008

Dissonância...

“Professores preparam protesto à porta de comício do PS.”
Há um tempo para dizer e outro para ouvir.
Este é claramente o tempo de ouvir!

11 de março de 2008

Recuperar a escola (cultural).

TERÇA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2004

Os ventos de mudança chegaram ao campo educativo e o papel da educação é exactamente o de situar o homem no seu tempo, nos seus problemas e necessidades. Por essa razão, a Escola não deve estar de costas voltadas para a sociedade. É neste quadro, que se verifica um consenso generalizado entre os actores endógenos da escola de que os meios que ela dispõe são insuficientes, sendo insatisfatória a adequação da sua resposta às necessidades sociais e pessoais dos alunos. O estado actual da escola não é animador, talvez porque a Escola tem procurado cumprir com uma estrutura unidimensional uma tarefa que é pluridimensional.
O actual Governo, alarmado com os dados relativos ao abandono escolar precoce, propõe-se, até ao final da legislatura, apoiar e financiar a realização de actividades extra-escolares. Isto é, fora do período das aulas e em áreas tão diversas como o apoio ao estudo, participação cívica ou lazer. Na verdade, este executivo tem sido fértil em propostas para alterar o estado da coisa educativa e a produção legislativa tem funcionado como as trancas que se colocam nas portas das casas, depois de arrombadas. Se este governo tivesse estudado convenientemente o curso da história teríamos ganho tempo na luta contra o abandono escolar precoce.
É neste contexto que urge retomar, no meu entender, uma discussão que foi interrompida há quinze anos e criar as condições para recuperar a Escola Cultural.

  1. A Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº. 46/86 de 14 de Outubro) ainda em vigor aponta para um modelo pedagógico que adopta, e muito bem, o paradigma da Escola Pluridimensional. É uma Escola que entende o aluno como pessoa, numa busca de equilíbrio entre autonomia e responsabilidade social. Isto é, toma como quadro de referência o aluno, na busca incessante do seu aperfeiçoamento integral e recorre a uma estrutura pluridimensional cujas dimensões específicas potenciam nos educandos capacidades particulares. A Escola, mais do que um mero local de transmissão de saberes, tem de se assumir como um factor de integração da sociedade. Os clubes escolares satisfazem os propósitos dos princípios da autodeterminação concretizados na liberdade individual, diferenciação e heterogeneidade das actividades extralectivas. Paradoxalmente, enquanto que a importância dos clubes escolares numa Escola Pluridimensional é inquestionável, a Escola situada insiste na sua tradição unidimensional.
    Que factores inibem a operacionalidade dos clubes escolares? O que fazer para reanimar e impulsionar os clubes escolares que foram decapitados?
    Ninguém ficará isento de responsabilidades nesta matéria, mas esta ânsia desvairada do emagrecimento da administração pública e a consequente redução do número de professores esvaziou as escolas, tornando-as exclusivamente curriculares.
  2. Hoje, existe a crença generalizada de que os constrangimentos legais nos afastam, progressivamente, deste modelo pedagógico de escola. Os desígnios da ideologia neoliberal e neoconservadora (cf. Cortesão, 2000; Pacheco, 2000) "oficial" já apontaram as suas baterias para as escolas e para o trabalho dos docentes, cada vez mais intenso, tendo obtido excelentes resultados na propagação desta crença. Embora este assunto, pela sua relevância actual, mereça um outro desenvolvimento, centremo-nos apenas nas questões que nos ajudam a abrir caminho à mobilização dos recursos educativos para a Escola Cultural.
    Não bastará definirmos um modelo pedagógico e um quadro de actividades educativas a desenvolver na escola para dizermos que estamos perante uma Escola Cultural. O professor Manuel Ferreira Patrício (o mentor da Escola Cultural) vai mesmo mais longe ao afirmar que a civilização contemporânea é caracterizada pelo culto da quantidade. A escola não deve ser um templo desse culto”(...) e o professor cultural nada tem que ver com a propaganda mais ou menos beata ou mercenária da cultura, desde logo falsa cultura. Por outro lado, a cultura é, por definição, a exigência da qualidade. A Escola Cultural deve ser inflexível no culto da qualidade”(Patrício, 1996: 186). A Escola Cultural deve ser basicamente uma boa escola curricular, mas não deve cometer-se o erro de supor que os equipamentos educativos e os espaços devam ser definidos, apenas, em função das necessidades e exigências da escola curricular. Devem ser definidos em função da escola cultural como um todo.
    Seria uma injustiça tremenda não reconhecer que a nossa escola com um funcionamento de regime duplo ou triplo terá grandes dificuldades em servir os fins da escola cultural. Mas, estaremos deveras interessados em gerir criativamente os espaços e os tempos? Um esforço desta natureza transporta custos, riscos e resistências.

Recuperar a Escola Cultural é uma prova de audácia para todos os actores educativos. Estaremos preparados para este desafio?

Pontos negros...

Um colega despertou-me para um pequeno ponto negro no Despacho da delegação de competências de avaliador.

“2- O coordenador do departamento curricular pode delegar as suas competências de avaliador em professores titulares do respectivo departamento que pertençam, sempre que possível, ao mesmo grupo de recrutamento dos docentes a avaliar e tendo em conta a respectiva componente lectiva.”

Pode delegar competências? E se não desejar fazê-lo? Se não quiser incomodar... É que há departamentos enooormes... e o tempo não é elástico...
Hummmm... será que estão a acompanhar?

10 de março de 2008

Uma ideia de escola.

“Que escola pública queremos?
[...] considero que para lá das exigências de curto prazo, que têm a ver com a avaliação de desempenho e com o modelo de gestão, há que projectar a Escola Pública a longo prazo e apresentar propostas alternativas, modelos de escola, que permitam à sociedade constatar que os professores não estão apenas contra as propostas do Ministério, mas que temos as nossas próprias propostas, que potenciam um determinado de sociedade. Poderão não ser propostas elaboradas por teóricos e especialistas, mas sim pelos professores que sentem o dia a dia na escola. Sei que pode ser uma proposta ambiciosa, mas se não formos por aí, corremos o risco de apenas o Ministério da Educação ter uma determinada ideia (e que ideia...) de escola.” (Didáctica da Invenção)
Não perderia mais tempo à procura de uma alternativa de escola, caro António. A Escola Cultural é uma resposta a ter em conta.

9 de março de 2008

Heresia...

O professor Marcelo fez uma avaliação dos últimos três anos de governação. Um ministro muito bom; creio que alguns ministros arrancaram ao professor a classificação de bom... grande, cheio, como terá acrescentado o professor; alguns ministros chegaram ao sofrível, outros ao sofrível baixo e, se não estou em erro, o ministro da agricultura obteve um medíocre. A complacência do professor não lhe permite avaliar nenhum de ministro com um mau.

Enquanto o professor se lançava na classificação dos ministros, eu pensava na sua grelha de análise. Seria capaz de o fazer? Seria capaz... ousaria avaliar alguém sem cuidar de um instrumento de avaliação fiável? Tudo leva a crer que sim, que ousou avaliar sem rede.

Receio pela credibilidade do insuspeito professor catedrático. Receio pela atitude leviana de avaliar sem cuidar do processo, de avaliar sem recorrer a uma labiríntica ficha de avaliação.
Quanto lhe custará a heresia?

O governo irá defender-se, irá recorrer e apresentar como modelo de avaliação o seu próprio modelo, aquele que pretende impor aos professores do ensino não superior. Alegará que o processo é arbitrário; Que um professor não pode avaliar com meia dúzia de “bitaites”. O avaliado exigirá mais rigor e não abdicará de descritores de avaliação mais claros e objectivos. O avaliador defender-se-á, dirá que a sua experiência profissional conta, que são muitos anos a virar frangos... etc., etc.
A verdade é que nada ficará como dantes!

hummm...a FENPROF poderá ser um bom mediador ;o)

Nortada


PS (salvo-seja): Foi um grande prazer conhecer a IC, o Tsiwari e a Idalina. Espero uma próxima oportunidade para me encontrar com os restantes confrades.

Excelente análise...


(Público, 9/3/08)

7 de março de 2008

Até onde queremos ir?

A avaliação do desempenho é a face visível, talvez mais mediatizada, de um mal-estar que impregna a profissão docente e que é traduzida numa expressão carregada de sentido: Os professores estão indignados! Há razões próximas e distantes de um sentimento que emerge das entranhas da profissionalidade. E quem ainda não entendeu este problema não estará em condições de participar na busca das soluções. Não se trata, portanto, de tapar o sol com a peneira, mudando os rostos do ME. Embora uma grande parte dos professores o clame [porque a ministra da educação e a sua equipa corporalizam, na perspectiva dos professores, a perversidade das políticas educativas], a mudança de um ministro e dos seus acólitos não atacará as causas do problema. Como afirmou e bem Mário Nogueira, não há decisão política que venha a ser tomada até ao dia da marcha que possa interromper esta manifestação de descontentamento. Apesar de entender o apelo da Teresa, ampliado por um conjunto de colegas na blogosfera docente, a marcha silenciosa seria uma excelente iniciativa política [porque incrementaria os dividendos políticos] mas seria um tampão à catarse colectiva, que é uma das dimensões motivacionais dos manifestantes. Conter o grito da revolta e adiá-lo até ao fim da manifestação poderá ser violento para aqueles que não tiveram uma oportunidade de subir ao cume de uma montanha para ouvir o seu eco; ou que não encontram qualquer sentido no bruar de um estádio de futebol.

A marcha da indignação, silenciosa ou ruidosa, pode ser uma oportunidade para afinar estratégias e reorientar a acção. É necessário começar já a preparar o dia seguinte.
Desafio os colegas a considerarem todos os cenários possíveis na pós-manifestação. Seria um desperdício se, durante uma parte das conversas que animarão esta intervenção cívica, não projectássemos a acção colectiva. Até onde queremos ir?

6 de março de 2008

1/2 pirueta

hummm.... Jorge Coelho a aprimorar a retórica?...
Isto promete!

4 de março de 2008

O que vale, verdadeiramente, a pena...

“São os indivíduos e os pequenos grupos de professores e de directores que terão de criar as escolas e as culturas profissionais que desejam.” (Fullan e Hargreaves)

Pela via da intensificação do trabalho e da luta política [no sentido mais amplo do termo] somos transportados, com eventual agravo, para terrenos agrestes. O risco do maniqueísmo é real.
Seria uma lástima perder o tempo [cada vez mais precioso] e a força [cada vez mais limitada] com inocuidades...

Mediação.

Um jornalista deve pautar a sua actividade profissional por uma neutralidade tangível.
No programa prós e contras de hoje acabei por descobrir um candidato a mediador, ou melhor, a candidata que apaziguará o conflito entre o ME e os professores. O perfil está traçado.

Não, não bati com a cabeça em lado nenhum. E não irei prosseguir com este exercício esotérico porque ninguém entenderia onde quero chegar, digo eu. Olhemos para o debate e procuremos o que ele trouxe de novo? Uma ideia: a ideia da mediação, com a qual concordo face à situação cada vez mais partidarizada.
Se deixar de lado a enxurrada de afirmações fundadas em crenças de infância e adolescência bem vividas, se fizer de conta que a moderadora se esforça por não tomar partido, se procurar espremer o debate o que eu vi para lá da ideia da mediação?
- A mitificação da Reforma;
- A evocação da Educação e da axiologia;
- Uma voz trémula que repetia: "o António está a dizer que esta reforma é autocrática?"

Fui...

3 de março de 2008

Avaliação do desempenho docente


Um processo simples, obviamente! ;)
_______
PS: Para ampliar clique na imagem... Obrigado, MLisboa

2 de março de 2008

Vida difícil...

É com algum pudor que escrevo estas linhas.
Havendo tanto para fazer numa tarde domingo, por que carga de água é que me deixei enredar a escrever uma acta de um conselho de turma extraordinário, que contou com a presença dos encarregados de educação e dos alunos de um CEF?
Já não me bastava o facto de passar um bom bocado privado da companhia do resto da família como ainda fui escolher um tema... deprimente...
Resta o final da noite: que termine de forma... gloriosa! ;o)

Beneficiários...

“o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Albino Almeida, mostrou-se contra qualquer tentativa de afastamento da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.” (Público, 2/3/08)
Pudera!...

1 de março de 2008

Faz-de-conta que apreciamos o mérito...

Ministério vai abrir concurso extraordinário para titulares.

Se a própria ministra reconheceu, no programa Prós e Contras, que o 1º concurso de professores titulares não aferiu o mérito porque não houve avaliação, então por que razão insistir num novo concurso, igualmente iníquo, para repescar os professores do 10º escalão não seleccionados no 1º concurso?

É evidente que o ME não pretende avaliar a competência dos avaliadores nem aferir a qualidade de coisa alguma. Importa unicamente resolver o problema da falta de avaliadores a custo zero. Não é estranho que o ME, um verdadeiro arauto da meritocracia, relegue a avaliação para um plano secundário quando se trata de cortar nos custos?

O verdadeiro artista...


"O "solidário" e cada vez mais solitário Valter Lemos...

O inenarrável Valter Lemos terá considerado que a actuação de Ana Benavente nos governos de Guterres “resultou nos piores resultados escolares da Europa” em matéria de sucesso escolar...
Lembrai-vos ainda, por acaso, de que Ministro da Educação era Ana Benavente... Secretária de Estado? Exactamente: Augusto Santos Silva (o actual titular da pasta dos Assuntos Parlamentares). E sabeis quem era também ministro do agora tão execrado Guterres? Exactamente, José Sócrates, o actual primeiro-ministro.
Em matéria de solidariedade política e partidária, Valter Lemos deu um tiro no pé. Tanta burrice junta, em tempo de crise, nunca se viu!...
Talvez esteja a preparar-se para regressar ao CDS..." (abnoxio)


Ok... já parei de rir!
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PS: A figura foi desenhada pelo Antero

Um bom prenúncio...

A noite de Braga esteve fantástica!