30 de setembro de 2007

Resta o Miguel Sousa Tavares…

Maria Filomena Mónica (MFM) decidiu investigar o percurso académico e político do secretário de Estado da Educação Valter Lemos (VL) porque anda intrigada com a personagem. MFM quis saber o que VL pensa sobre o mundo e acabou por se agarrar a um livro seu “Técnicas de Avaliação da Aprendizagem”, publicado em 1986.

“O que sobressai deste arrazoado é a convicção de que os professores deveriam ser meros autómatos destinados a aplicar regras. Com responsáveis destes à frente do Ministério da Educação, não admira que, em Portugal, a taxa de insucesso escolar seja a mais elevada da Europa. Valter Lemos reúne o pior dos três mundos: o universo dos pedagogos que, provindo das chamadas «ciências exactas», não têm uma ideia do que sejam as humanidades, o mundo totalitário criado pelas Ciências da Educação e a nomenklatura tecnocrática que rodeia o primeiro-ministro.” (MFM, in: Público, 30/09/07)
Porque rio?...

28 de setembro de 2007

Destaque...

O que podemos fazer para que os alunos queiram aprender? E não só nós (educadores/professores), mas todos os que são responsáveis pelas gerações mais jovens? Eis, pois, o desafio que o JMA lançou no Aragem.

27 de setembro de 2007

Abutres (cont.)

"Pelos dados tornados públicos, mais de 99% dos horários escolares em 2006/07 foram elaborados de forma equilibrada, correspondendo às orientações que existiam sobre a matéria.

Infelizmente, a forte carga lectiva que os alunos continuam a ter nos 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico e no Ensino Secundário (principalmente no 3º Ciclo), o excesso de turmas em algumas escolas e a desadequação dos transportes escolares relativamente aos horários dos alunos, obrigam, por vezes, a que estes se sujeitem a esforços que poderiam evitar-se.

Por essa razão, se estranha o título de primeira página de um jornal de expressão nacional, em que se afirma que os horários escolares seriam feitos à medida dos professores. Tal não corresponde à verdade e não é apenas a FENPROF que o afirma, são os próprios números da Inspecção-Geral de Educação que o confirmam.

Quanto aos critérios de distribuição de horários pelos professores, dentro de cada escola, pouco ou nada influenciam a distribuição equilibrada dos horários dos alunos. Essa é, aliás, outra das conclusões que pode ser retirada do relatório da I.G.E.

Por essa razão, e por se confirmar ter sido correcta e competente a elaboração, pelos docentes, dos horários escolares, a FENPROF saúda todos os que integraram as comissões de escola que os elaboraram, bem como os seus órgãos de gestão.

O Secretariado Nacional da FENPROF
25/09/2007"

Eis o contraditório...

26 de setembro de 2007

Presunção e água benta...

O incremento do tempo de trabalho de escola e a consequente redução do tempo de trabalho individual suscitou a ira de muitos docentes. As reacções de desagrado decorrem dos efeitos da intensificação do “trabalho individual”, expressão que pode significar, redução do tempo de preparação das actividades escolares.
Como é usado o tempo de preparação das actividades escolares? Sabendo que o impacto da intensificação do trabalho docente é sentido de modo desigual, como distribuir este tempo fazendo prevalecer o critério de equidade?
Esta questão, tratada com seriedade, conduzir-nos-ia a uma avaliação dos contextos em que esse tempo é usado, fazendo depender o tempo de preparação às circunstâncias do trabalho (por exemplo, o contrato a tempo inteiro ou a tempo parcial) e à (in)capacidade produtiva de cada um dos docentes.

É uma pena que o pretensiosismo disciplinar balcanize a discussão, fazendo-nos desviar do que importa relevar: que a intensificação do trabalho docente, até certo ponto, desqualifica a função.
É uma pena que o Paulo Guinote não tenha percebido isto.

22 de setembro de 2007

Grelhas de avaliação do desempenho docente (Via SPGL)

Aqui está a perversão reguladora burocrática!

Adenda: Perversão? Porquê?

É óbvio que os actores envolvidos no processo defender-se-ão deste documento regulador, manifestamente inexequível, concentrando-se no acessório (documentos de registo e fichas) e evitando (porque o tempo é precário) a avaliação formativa, a reflexão diária, a troca de experiências de ensino e de pontos de vista acerca do que é SER professor.

Chegou a hora do esquematismo e do formalismo como expressões máximas da perversão avaliativa!

Alienação…

A ministra da educação desvalorizou o estudo da DECO realizado em 40 salas de 20 escolas por pretensa irrelevância científica. Não ouvi nenhuma declaração sua a refutar a veracidade da informação apresentando evidências de que nessas escolas está tudo bem.

Este episódio é elucidativo para percebermos o universo em que se move a ministra da educação e o tipo de lente que usa para analisar os problemas do sistema educativo. Para a ministra, as escolas situadas são ou não meras representações, consoante o seu potencial estatístico. Isto é, as escolas e os actores escolares são entidades abstractas que só existem numa folha de cálculo. Fora da planificação macro política e da “engenharia organizacional” nada existe.
Seria injusto se não reconhecesse que está ser feito algum esforço na recuperação de edifícios escolares. Tem havido algum investimento na melhoria das instalações escolares apesar de considerar que o desejável ainda é uma miragem. Percebo que a ministra preferisse ver destacado na imprensa o que foi feito e não o que falta fazer. Um copo meio cheio é, também, um copo meio vazio. Mas o que a ministra não pode fazer é negar a realidade sob pena de se descredibilizar, ainda mais, aos olhos daqueles que vivem a escola situada.

21 de setembro de 2007

A Escola obrigatória deve ser uma Escola inteira

Até ao final da legislatura, o Governo ambiciona expandir a educação e a formação de nível secundário e tornar obrigatória a frequência de ensino, até aos 18 anos de idade, mesmo quando os jovens já se encontrem inseridos no mercado de emprego.
Antevejo duas consequências desta medida:

1) A Educação Básica e o Ensino Secundário constituirão um só tronco de educação fundamental, dirigida a todas as crianças e jovens. Uma educação fundamental, válida para todos, oferecerá currículos com um curto nível de exigência, sendo inevitável, no Ensino Secundário, a segregação de vias paralelas com conteúdos diversificados (esta solução não deve ser confundida com um modelo de escola personalista). Há muitos anos que o Ensino Secundário concilia a via profissionalizante (os cursos tecnológicos estão agora a ser substituídos pelos cursos profissionais "subsidiados" pela UE) e a via de prosseguimento de estudos. A extensão da escolarização a este nível de ensino provocará uma mudança de orientação: o Ensino Secundário abandonará a tradição de ensino pré-universitário para se afirmar como ensino pós-básico. É uma diferença substantiva porque exigirá uma transformação da mentalidade elitista dos professores, expressa nos currículos e até na imagem social acerca do destino dos estudantes do Secundário.

2) Reforçará a dimensão útil da Educação. À Escola exigir-se-á que cumpra, bem, a missão de inserir os sujeitos no mundo. A Escola cuidará da força produtiva: valorizando a identidade do Ensino Secundário, que confere qualificação e certificação própria; alargando a oferta dos cursos tecnológicos, artísticos e profissionais, de forma a aumentar o número de jovens que seguem esses percursos formativos; etc., etc. Além da formação de mão-de-obra qualificada, a Escola poderá retardar a inclusão no mundo destes pré-trabalhadores e estancar o desemprego nesta faixa etária.

Todavia, uma Escola reduzida à sua missão utilitária é uma Escola pobre. Além da inserção dos sujeitos no mundo, há outras missões de que a Escola não pode prescindir: é preciso chamá-la a participar na fundamentação da democracia (e seria interessante avaliar os resultados dos projectos avulsos de formação cívica e outros quejandos); é essencial mantê-la implicada no desenvolvimento da personalidade dos sujeitos; e a prioridade das prioridades, a Escola não pode prescindir da sua missão principal: realizar a inserção dos sujeitos na cultura.
Será infundado o meu receio de que uma Escola a tempo inteiro possa ser confundida com uma Escola inteira?

Elementar…

O gestor não deve aceitar o desafio de responsabilizar os seus colaboradores pelos resultados do trabalho individual e colectivo sem que antes forneça a informação da organização para que cada um, com e na sua equipa de trabalho, possa provocar as alterações necessárias, incluindo as alterações de práticas, para cumprir a missão que lhe foi confiada. Quanto mais elevada é a formação académica dos colaboradores, menos prescritivas serão as orientações superiores. Cada licenciado saberá aferir a credibilidade do gestor pelos dados que este disponibiliza à equipa.

Hoje ouvi algo parecido com o que acabei de escrever, proferido por um director clínico de uma instituição privada de saúde. E fiquei a pensar…

18 de setembro de 2007

SIMPLEX…

Afazeres relacionados com 2 CEF’s e 2 cursos profissionais (o SIMPLEX ainda não entrou na Escola) afastaram-me da blogoEsfera.

Terei perdido algumas discussões, muitas provocações,… e algumas desilusões ;)

Aguardo por melhores dias…

16 de setembro de 2007

Expresso da semana.

Ontem, ainda hesitei antes de comprar o Expresso. Acabei por deixar os trabalhos de planificação para hoje e escolhi o sábado para me dedicar a uma leitura leve de um jornal literalmente pesado.

Passei sem parar nas historietas do costume, o caso Maddie, Scolari, e a zanga das comadres Meneses e Mendes. Li, na diagonal, as “Chinesices” do Miguel Sousa Tavares que desta vez aproveitou para zurzir no presidente da câmara de Lisboa a respeito da Chinatown e de um pretenso mau ordenamento de trânsito lisboeta (assunto que não interessa, nem ao menino Jesus), e ainda teve tempo para uma farpa para a diplomacia portuguesa acerca do recente episódio com Dalai Lama. Reparei ainda na breve notícia que assinalou a visita do Carvalho da Silva ao Presidente da República, onde o líder da CGTP partilhou as suas preocupações com o professor Cavaco, imagine-se, acerca do “total predomínio do poder económico e financeiro que tem anulado a vida política a pontos nunca vistos” (presumo que o professor Cavaco terá ficado aflitíssimo com o estado da actual situação política ;).

Até que chego a um tema que merecia outro destaque mas que só teve um cantinho (bem escondido) de página: “O Tribunal Constitucional julga mas não fiscaliza” a riqueza dos titulares de cargos políticos. António Mexia, numa imponente fotografia no cimo da página, defende que a dedicação exclusiva à política não compensa. Diz que a política é só para ricos. Acrescento eu que quem sai da política tem entrada no clube dos ricos. Mas como não quero alinhar por um discurso demagógico, sou obrigado a concordar com a tese do Mexia e até vou mais longe: proponho que se aumentem as remunerações dos titulares de cargos políticos após, repito, após, a criação de um modelo de avaliação do desempenho com mecanismos de responsabilização pelos actos políticos comprovadamente lesivos para o interesse nacional. Sem avaliação, não é possível pagar nem mais um cêntimo aos titulares de cargos políticos. A sensatez não o permite.

A conversa com a Zezinha (Maria J. Nogueira Pinto) é de uma relevância extrema já que ficamos a saber que a ex-vereadora da Câmara de Lisboa tem alternado o ócio com as férias, e que gosta de mandar, e que votou em Salazar, e que votou em António Costa. Enfim, uma conversa da treta que encheu uma página do jornal.

Um assunto que me prendeu ao semanário foi a denúncia de 18% de deputados que nunca fizeram qualquer intervenção no plenário. Não condeno os deputados que se abstêm de dizer asneiras preferindo o silêncio. É uma prova de bom senso preferir o silêncio à verborreia parlamentar. Agora, usando a máxima do nosso Governo: com o mesmo orçamento, era possível aumentar os salários dos deputados (e membros do governo por extensão) se tivessem a coragem de reduzir o número. E o trabalho das comissões, conferências e audições? Pois, e as assessorias servem para quê?

A barafunda das declarações da ministra da Educação desmentindo o secretário de estado ficou para um cantinho. Nada de novo, apenas para dizer que a ministra manifestou vontade de resolver administrativamente alguns casos de professores injustiçados no concurso para professor titular. A jornalista interpreta este recuo como uma tentativa da ministra “arrefecer a «guerra» entre a Cinco de Outubro e a Provedoria […]”. É pena que a jornalista não se questione pelas razões que levam a ministra a manter a “guerra” com os professores. E qual das duas traz mais prejuízos à Educação.

Uma entrevista a Dalai Lama ocupa duas páginas. A recusa do governo e do Presidente da República em receber o líder espiritual revela que as motivações comerciais se sobrepõem às motivações da defesa dos direitos humanos. Tiiiimmoooor….

Num dos destaques mais interessantes do jornal, o tema da sexualidade adolescente, e particularmente, a utilização de um método de combate à gravidez adolescente, é descrito com algum pormenor o implante contraceptivo. Infelizmente, o tema foi sumariamente desenvolvido (apenas 2 páginas, a foto ocupa 80% do espaço).

Até ao fim do jornal pouco há a relevar: a medalha de ouro conquistada por um jovem português nas Olimpíadas Ibero-Americanas deixou extasiado o ex-ministro Marçal Grilo e o presidente da sociedade portuguesa de Matemática, Nuno Crato, chorou de felicidade; um artigo de opinião de João Carlos Espada, que me fez rir, clamando pela liberdade de escolha das escolas, ouçam só, porque teme pela justiça social.

E como gosto de acabar as leituras com boa disposição, omito as questões internacionais e o desporto. A resma de papel que acompanha o semanário jaz ainda dentro do saco.

15 de setembro de 2007

13 de setembro de 2007

Valores educativos do desporto…

“Os valores do desporto são apenas os efeitos derivados de uma certa prática do desporto, não são uma característica própria.” (J.M. Constantino)
Isto vem a propósito do comportamento do seleccionador nacional de futebol após o jogo Portugal-Sérvia.

12 de setembro de 2007

Folclore e a campanha do efémero…

O governo, em peso, decidiu fazer uma romaria pelas escolas para assinalar a abertura do ano lectivo. Não havendo nenhuma novidade a anunciar pelo governo no reinício das actividades escolares , há dois factos políticos a relevar: um decorre do folclore mediático, o outro está implícito nas mensagens da propaganda que querem transformar a escola num lugar onde o fácil é idolatrado, onde se promove o efémero, o utilitário e imediato.

1. A determinação do primeiro-ministro em aguentar, até ao final do mandato, a actual ministra da educação é um mau sinal. Os constantes votos de confiança política fazem-me lembrar aqueles presidentes dos clubes de futebol que se apressam a manifestar solidariedade ao treinador, depois de uma série de desaires desportivos, amortecendo desse modo as críticas dos adeptos mais impacientes. Nos dois acasos, a aparição pública do presidente (do clube ou do conselho de ministros) só se justifica porque há um mau desempenho que reclama uma mensagem de solidariedade. Um bom ministro dispensa a presença do chefe do governo. A sua obra fala por si. Nas coisas da bola, o treinador só resiste até ao fim do contrato com bons resultados. Nas coisas da política, um mau ministro só resiste até ao fim do mandato se o governo tiver espaço de manobra nas sondagens. Ora, como as recentes sondagens de opinião colocam o partido do governo em valores próximos da maioria absoluta, o primeiro-ministro pode continuar a gerir os maus desempenho dos membros do governo inaptos sem hipotecar a renovação de mandato.

2. A campanha idiota do regresso às aulas, que uma marca de supermercados lançou recentemente, dizia que regressar às aulas não custa nada. O programa “novas oportunidades” assenta no mesmo erro porque veicula, subliminarmente, uma ética do fugaz.

11 de setembro de 2007

Apesar da encenação, é uma boa notícia…

Os contratos de autonomia caracterizam-se pela transferência dos poderes administrativos. “Estes estabelecimentos públicos de ensino passam a gozar de maior independência em relação aos demais na gestão dos seus recursos humanos, financeiros e pedagógicos.
Poderão, por exemplo, gerir com mais liberdade o seu orçamento, os horários e constituição de turmas, atribuir horas aos professores para determinados projectos ou antecipar a contratação de docentes pelo próprio estabelecimento de ensino.
Em troca, comprometem-se a cumprir as metas que definiram, designadamente em termos da melhoria dos resultados dos alunos e diminuição do abandono.” (Público, 11/09/07)

Fica o caminho aberto, descentralizado o sistema, para aumentar o grau de flexibilidade na gestão dos programas de ensino. Ou não?


Adenda: Como não há bela sem senão, seguir-se-á uma fase de grande pressão para uma maior livre escolha que se insere na tradição liberal do governo limitado e do poder de escolha dos consumidores. O jornal Público por intermédio do seu director, José Manuel Fernandes, há muito tempo que trava esta cruzada e verá agora um terreno fértil para reclamar mais competição entre as escolas na esperança que ela traga mais qualidade.

As cenouras…

Há imagens que dispensam grandes comentários. Ontem, na cerimónia de assinatura dos primeiros (depois da escola da Ponte) contratos de autonomia com 22 escolas, a câmara de filmar que captou um discurso bem encenado pelo primeiro-ministro mostrava uma plateia de rostos cerrados, visivelmente incomodados.
A celebração deveria ter sido um momento de festa!…

10 de setembro de 2007

Ingratos…

Dou alvíssaras a quem descobrir imagens das declarações de José Sócrates na cerimónia da assinatura de contratos de autonomia. A ideia é rever o discurso. Ainda consegui ouvir, numa edição do Jornal da Tarde (não memorizei o canal], algo que me fez sorrir: dizia o nosso primeiro-ministro, embalado por uma retórica bem ritmada, que o sonho de qualquer professor é ter alunos.

O sonho de qualquer professor é ter alunos, o sonho de qualquer primeiro-ministro de Portugal é ter portugueses para governar e o sonho de qualquer médico é ter doentes: esta é a lógica populista do discurso oficial.
Não se pense que a declaração do primeiro-ministro é despicienda. Ela retracta com rara exactidão o modo como este governo olha para os professores: uns pobres coitados, ingratos, que deviam olhar para os desempregados deste país para perceberem a sorte que têm em receber emprego do Estado. Calões!

José Sócrates reservou para o final da sua intervenção um elogio a Maria de Lurdes Rodrigues. "Em meu nome e dos membros do Governo quero aqui dizer o quanto apreciamos o seu trabalho e o da sua equipa à frente do Ministério da Educação"


Amém!

Adenda: A eficiência no discurso do nosso primeiro-ministro foi de tal grandeza que nem se deu conta [será?] de ter desmentido a ministra da educação ao afirmar que, afinal, o número de alunos no sistema está a aumentar.

Nova Aragem

O blogue Aragem entrou num novo ciclo da sua curta existência. Renovada a imagem, a equipa e os ciclos temáticos, só falta você e o seu olhar para que a conversa fique ainda mais animada.

Não acredito que ainda não sentiu a brisa que se faz por lá?!

(Clique na imagem.)

O olhar atento...

... do Antero

9 de setembro de 2007

Dividir para reinar!

O Zé Manel congratula-se com o movimento de cidadãos que lutam pela criação do concelho das Taipas. São legítimas as pretensões de autonomia de quem se sente segregado por equipas executivas camarárias. Não se trata, obviamente, de criticar este tipo de movimentos. Trata-se de procurar perceber se a solução para uma pretensa má gestão, ou a distribuição pouco equitativa de recursos municipais, passa pela divisão administrativa. Se se concordar que a divisão administrativa é a solução para o problema da má gestão, então os novos concelhos terão dificuldades em recusar o cenário divisionista quando uma freguesia denunciar o esquecimento e reclamar autonomia. E assim sucessivamente. Seria dividir para reinar.

A meu ver, é necessário fazer um reordenamento administrativo que poderá passar pela extinção de alguns concelhos e pela criação de outros. Não faz qualquer sentido que um concelho nasça por negligência ou por má gestão de executivos municipais, segregando uma parte do seu território. É escandaloso que um país, cujos recursos escasseiam, nomeadamente em sectores básicos como a saúde, a protecção social e educação,...possam ser delapidados por máquinas municipais mais preocupadas em eternizações de poder do que em gerir com racionalidade os dinheiros públicos. É verdade que as populações dos municípios novatos beneficiaram com a injecção de meios e de capital. Também é verdade que o país ficou mais pobre com essa obra administrativa porque se multiplicaram as lógicas onde cada um “puxa a brasa à sua sardinha”.

Overdose de missões…

“Existe hoje em dia um consenso alargado de que a escola deve promover a atitude e cultura empreendedora, que são considerados como críticas na educação das novas gerações, contribuindo para o desenvolvimento sustentado de Portugal, julgando-se também que actualmente ao nível das escolas e dos curricula, existem as condições necessárias para promover o Projecto Educação para o Empreendedorismo segundo o conceito subjacente a este projecto: empreender é, fundamentalmente, encarar a realidade que nos envolve como um conjunto de oportunidades de mudança e ter o desejo e a energia para produzir.” [DGIDC]

Avanço com três reparos à iniciativa, os primeiros dois de circunstância e o terceiro de substância:

1. No site da DGIDC é anunciado um novo projecto nacional: a Educação para o Empreendedorismo. A ideia alojar-se-á na mesma página onde jazem, perdão, onde se encontram os projectos: Educação para a Saúde e Educação para a Cidadania. Não é novidade para ninguém que projectos avulsos, inócuos, estão desde logo condenados ao insucesso se não forem suficientemente atractivos para os professores. Se isto vale em qualquer período, vale ainda mais quando os projectos são apresentados em períodos conturbados e de grande tensão entre professores e o ME.É preciso criar climas favoráveis para que as iniciativas resultem. É preciso reforçar as relações de confiança entre os actores intervenientes na mudança. É preciso que os projectos façam sentido, que sejam percebidos, antes de serem operacionalizados.

2. Este projecto, como muitos outros que já foram experimentados e esquecidos, padece de um problema estrutural. Não tem espaço na escola para ser implementado. Esse espaço que faz falta na escola só aparecerá com o reforço da dimensão extra-lectiva da escola através dos clubes escolares. Há que fazer renascer o clube escolar, o verdadeiro clube escolar, através de uma mudança de paradigma de escola. A “escola cultural” pode ser uma solução para recuperar a escola!

3. Falar de educação para… é uma redundância. Educação, entendida como processo de humanização do ser humano, é preparar o homem para ser homem. Educação para o exercício de uma actividade profissional, ou pior ainda, para evidenciar uma das facetas de uma certa profissionalidade, é uma falácia.

Por quanto tempo iremos continuar a assistir ao lançamento de iniciativas que só têm um efeito prático: calar os arautos do neoliberalismo?

7 de setembro de 2007

Estabilidade da treta…

A propaganda do ministério da educação usa o conceito de estabilidade das escolas para sobrelevar a eficiência da máquina concursal. Como se fosse possível que a estabilidade das escolas não emergisse da estabilidade do corpo docente. Mas por aqui não virá nenhum mal ao mundo, na medida em que não há governo que prescinda de enfatizar os acertos, mínimos que sejam, creditando-os politicamente. O problema é que o conceito de estabilidade das escolas aparece na retórica deste governo (talvez para se demarcar de erros concursais grosseiros ocorridos num passado bem recente) reduzida à questão da mobilidade dos professores. É verdade que, em muitos casos, a mobilidade dos docentes gera entropia nas escolas: não é possível garantir a continuidade pedagógica; é desperdiçado tempo na avaliação dos contextos de ensino, etc., etc. A (i)mobilidade é apresentada como condição suficiente para reforçar a estabilidade do professor. Contudo, é possível afirmar o contrário – que a mobilidade é negativa – apresentando o caso dos professores desterrados. Não quero ir por aqui para não me desviar das fragilidades da retórica deste governo.

Este governo é a primeira causa da instabilidade docente: ao hesitar nas medidas que incrementam a segurança do exercício da actividade profissional (física e psicológica); ao fragilizar os processos de colaboração entre professores através de iniciativas legislativas que vão fracturar as relações de confiança nas escolas – Cf. projecto de Decreto Regulamentar da Avaliação dos Professores ainda em fase de “discussão” pública; ao reforçar o controle burocrático menosprezando as culturas docentes, através da produção de decretos inflexíveis e formas paternalistas de confiança; ao entender que pode prescindir dos professores na reestruturação do ensino; ao não instigar a confiança nas pessoas e nos processos.

É que ainda estou arrepiado…

Ambivalências…

Depois de ter visto uma rata parir uma montanha, há cada vez menos para ficar surpreendido. A ideia que fico é que entrei, por engano obviamente, numa comédia.

Sou eu a pensar alto:
-É um curso de educação/formação!… só de ouvir o nome fico arrepiado… 4 tempos lectivos no horário do professor… excelente! é bem preciso para enfrentar a triste realidade do analfabetismo motor…
- Espera lá Miguel, os alunos só têm 1 tempo lectivo semanal e, esporadicamente, 2 tempos!…
- Mas eu quero trabalhar os 4 tempos por semana com os alunos!!! e não é possível?
- Não, os restantes 3 tempos são para reuniões com a equipa pedagógica!...
- Equipa pedagógica? mas, as aulas são o cerne…
- Pára lá com as questões!
- Ok, ok… então os alunos têm o horário muito preenchido? e quem fez a matriz curricular não pensou nisso?... não?!...
-?

4 de setembro de 2007

Form@ctiva...

Ainda sem saber bem para onde vou, agarrei uma ponta desta teia e deixei-me levar: www.formactiva.org. O objectivo dos autores é criar uma comunidade virtual de formação activa que traga mais valias a todos os seus intervenientes. Ao mesmo tempo contam também reforçar a ideia de que não são necessárias iniciativas governamentais e orçamentos chorudos para criar valor.

Ora nem mais! Sem a muleta do Estado e a incompetência daqueles que o representam…

Desemprego de professores e o santíssimo mercado

Há muito tempo que os discursos sobre a “crise da educação” procuram abrir caminho a reformas orientadas para a criação de “quase-mercados”, que são vistos como um quadro de referência para a organização e gestão dos serviços públicos. A ideia da escassez de recursos, a necessidade de enformar a decisão política em critérios “racionais”, a reintrodução de modelos tayloristas na gestão de pessoal, etc., são domínios que caracterizam as relações de mercado e tornam-se referência para a definição de políticas públicas.

As políticas educativas, de emprego, económicas, etc., fazem parte de um programa que visa reduzir a prestação de serviços públicos em favor de serviços de financiamento privados. Ora, este programa que aparece plasmado nos programas dos governos das duas últimas décadas, quer se trate dos governos de direita, propriamente ditos ou não, está ligado a noções de liberdade, justiça, desigualdade e distribuição de recursos. O desemprego é, paradoxalmente, um bem para o sistema económico quando se crê na distribuição justa de recursos pelo mercado. O desemprego de professores observado nesta óptica, e na óptica da nossa ministra da educação, é um mal necessário. O Estado deve deixar que o mercado regule o desemprego. O Estado deve demitir-se da sua função reguladora e fechar os olhos ao livre mercado.

Percebo, mas não compreendo, as lágrimas de crocodilo derramadas pelos responsáveis políticos diante do drama de milhares de licenciados que foram enganados pelo santíssimo mercado.

3 de setembro de 2007

Na mouche

"[…] Querer é, de facto, a questão essencial, o requisito fundamental de qualquer mudança. Primeiro querer; depois saber; por fim, poder. E coloca-se então a questão: que medidas, que dinâmicas, que iniciativas fazem um número significativo de pessoas (de professores, digamos) querer mudar de práticas, de métodos, de posição, de processos?" (Terrear)

Há quem pense, erradamente, que basta circunscrever os factores motivacionais da mudança às dimensões coercivas…

Apertem os cintos… o espectáculo vai começar!

“Uma fonte do Ministério da Educação adiantou domingo que a alteração das regras de acesso a bolsas de mérito para os alunos do ensino secundário é uma das dez medidas que a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, vai apresentar hoje, numa conferência de imprensa a propósito do início do próximo ano lectivo, que deverá arrancar entre 12 e 17 de Setembro.” (Lusa/Sol on-line)
E como nos garantiu a diligente fonte: «É um conjunto de medidas com bastante impacto».

Já sinto o frenesim e o cheiro a pólvora seca. A adrenalina esvai-se pelos poros e salpica-me os olhos. Já não consigo aguentar este estado de ansiedade… ;)

Adenda: Uma ratazana pariu uma montanha!
Os jornalistas já deviam ter aprendido a lição... e como o assunto não tem assunto, remeto as explicações para o P. Guinote que foi mais persistente do que eu.

Destaque II…

No 1º Aniversário do Blog da Formação, [olhei demoradamente] as palavras de Victor Hugo:
“Quem abre uma escola fecha uma prisão.”

E quem fecha uma, duas, várias escolas?

Destaque…

O António Carlos Coelho regressou à blogosfera, após um longo período de ausência, com vontade de partilhar o que aprendeu sobre “Comunidades Virtuais de Aprendizagem”. Vale a pena acompanhar o seu percurso na rede.

2 de setembro de 2007

Já era tarde!

“[Numa próxima remodelação governamental] quem deveria cair era ela (ministra da educação) e não o secretário de estado (Jorge Pedreira)” que reconheceu humildemente o erro no 1º concurso para professor titular. (Marcelo Rebelo de Sousa, RTP1, 02/09/07)
Primeiro indignaram-se os professores,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida protestaram alguns pais e encarregados de educação,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou sensível aos protestos.

Depois fugiu um secretário,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui secretária.

Logo a seguir chegou a vez
De alguns fazedores de opinião, mas como
Nunca fui comentadora, também não liguei.

Agora pedem para me levarem a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

Adaptado de Brecht

1 de setembro de 2007

Confundir alhos com bugalhos…

A ministra da Educação considera que o concurso para acesso à categoria de professor titular foi um "êxito", tendo decorrido sem falhas nem erros, e argumentou que as regras foram "escrupulosamente cumpridas".
Questionada sobre uma eventual situação de injustiça no acesso de cerca de 200 professores à categoria mais alta da carreira – admitida ontem pelo secretário de Estado – Maria de Lurdes Rodrigues respondeu que "não há falhas, não há erros, não há nenhuma situação de ilegalidade que deva ser corrigida". (Público)
O secretário de estado admitiu, ontem, que as regras deste primeiro concurso a professor titular criaram "injustiças" que o ME tentará(?) reparar. A ministra questionada sobre a mesma matéria contorna a questão e responde que não há falhas concursais, não há erros, não há nenhuma ilegalidade. Não existindo uma contradição entre as duas declarações, fica uma vez mais demonstrado o perfil excessivamente burocratizado da ministra, característica capaz de lhe constranger a análise dos problemas e das necessárias soluções.
Ora, a meu ver, é aqui que reside o cerne do problema funcional desta Ministra da Educação: nota-se-lhe uma certa inaptidão em discernir a diferença entre justiça e legalidade. E como a justiça e a legalidade não andam sempre de braço dado, como deveriam andar, não deixa de gerar alguma perplexidade que um membro do governo se recuse a abordar questões de equidade suscitadas pelas formulações legais produzidas no seu ministério.