Há muito tempo que os discursos sobre a “crise da educação” procuram abrir caminho a reformas orientadas para a criação de “quase-mercados”, que são vistos como um quadro de referência para a organização e gestão dos serviços públicos. A ideia da escassez de recursos, a necessidade de enformar a decisão política em critérios “racionais”, a reintrodução de modelos tayloristas na gestão de pessoal, etc., são domínios que caracterizam as relações de mercado e tornam-se referência para a definição de políticas públicas.
As políticas educativas, de emprego, económicas, etc., fazem parte de um programa que visa reduzir a prestação de serviços públicos em favor de serviços de financiamento privados. Ora, este programa que aparece plasmado nos programas dos governos das duas últimas décadas, quer se trate dos governos de direita, propriamente ditos ou não, está ligado a noções de liberdade, justiça, desigualdade e distribuição de recursos. O desemprego é, paradoxalmente, um bem para o sistema económico quando se crê na distribuição justa de recursos pelo mercado. O desemprego de professores observado nesta óptica, e na óptica da nossa ministra da educação, é um mal necessário. O Estado deve deixar que o mercado regule o desemprego. O Estado deve demitir-se da sua função reguladora e fechar os olhos ao livre mercado.
Percebo, mas não compreendo, as lágrimas de crocodilo derramadas pelos responsáveis políticos diante do drama de milhares de licenciados que foram enganados pelo santíssimo mercado.
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