Ontem, ainda hesitei antes de comprar o Expresso. Acabei por deixar os trabalhos de planificação para hoje e escolhi o sábado para me dedicar a uma leitura leve de um jornal literalmente pesado.
Passei sem parar nas historietas do costume, o caso Maddie, Scolari, e a zanga das comadres Meneses e Mendes. Li, na diagonal, as “Chinesices” do Miguel Sousa Tavares que desta vez aproveitou para zurzir no presidente da câmara de Lisboa a respeito da Chinatown e de um pretenso mau ordenamento de trânsito lisboeta (assunto que não interessa, nem ao menino Jesus), e ainda teve tempo para uma farpa para a diplomacia portuguesa acerca do recente episódio com Dalai Lama. Reparei ainda na breve notícia que assinalou a visita do Carvalho da Silva ao Presidente da República, onde o líder da CGTP partilhou as suas preocupações com o professor Cavaco, imagine-se, acerca do “total predomínio do poder económico e financeiro que tem anulado a vida política a pontos nunca vistos” (presumo que o professor Cavaco terá ficado aflitíssimo com o estado da actual situação política ;).
Até que chego a um tema que merecia outro destaque mas que só teve um cantinho (bem escondido) de página: “O Tribunal Constitucional julga mas não fiscaliza” a riqueza dos titulares de cargos políticos. António Mexia, numa imponente fotografia no cimo da página, defende que a dedicação exclusiva à política não compensa. Diz que a política é só para ricos. Acrescento eu que quem sai da política tem entrada no clube dos ricos. Mas como não quero alinhar por um discurso demagógico, sou obrigado a concordar com a tese do Mexia e até vou mais longe: proponho que se aumentem as remunerações dos titulares de cargos políticos após, repito, após, a criação de um modelo de avaliação do desempenho com mecanismos de responsabilização pelos actos políticos comprovadamente lesivos para o interesse nacional. Sem avaliação, não é possível pagar nem mais um cêntimo aos titulares de cargos políticos. A sensatez não o permite.
A conversa com a Zezinha (Maria J. Nogueira Pinto) é de uma relevância extrema já que ficamos a saber que a ex-vereadora da Câmara de Lisboa tem alternado o ócio com as férias, e que gosta de mandar, e que votou em Salazar, e que votou em António Costa. Enfim, uma conversa da treta que encheu uma página do jornal.
Um assunto que me prendeu ao semanário foi a denúncia de 18% de deputados que nunca fizeram qualquer intervenção no plenário. Não condeno os deputados que se abstêm de dizer asneiras preferindo o silêncio. É uma prova de bom senso preferir o silêncio à verborreia parlamentar. Agora, usando a máxima do nosso Governo: com o mesmo orçamento, era possível aumentar os salários dos deputados (e membros do governo por extensão) se tivessem a coragem de reduzir o número. E o trabalho das comissões, conferências e audições? Pois, e as assessorias servem para quê?
A barafunda das declarações da ministra da Educação desmentindo o secretário de estado ficou para um cantinho. Nada de novo, apenas para dizer que a ministra manifestou vontade de resolver administrativamente alguns casos de professores injustiçados no concurso para professor titular. A jornalista interpreta este recuo como uma tentativa da ministra “arrefecer a «guerra» entre a Cinco de Outubro e a Provedoria […]”. É pena que a jornalista não se questione pelas razões que levam a ministra a manter a “guerra” com os professores. E qual das duas traz mais prejuízos à Educação.
Uma entrevista a Dalai Lama ocupa duas páginas. A recusa do governo e do Presidente da República em receber o líder espiritual revela que as motivações comerciais se sobrepõem às motivações da defesa dos direitos humanos. Tiiiimmoooor….
Num dos destaques mais interessantes do jornal, o tema da sexualidade adolescente, e particularmente, a utilização de um método de combate à gravidez adolescente, é descrito com algum pormenor o implante contraceptivo. Infelizmente, o tema foi sumariamente desenvolvido (apenas 2 páginas, a foto ocupa 80% do espaço).
Até ao fim do jornal pouco há a relevar: a medalha de ouro conquistada por um jovem português nas Olimpíadas Ibero-Americanas deixou extasiado o ex-ministro Marçal Grilo e o presidente da sociedade portuguesa de Matemática, Nuno Crato, chorou de felicidade; um artigo de opinião de João Carlos Espada, que me fez rir, clamando pela liberdade de escolha das escolas, ouçam só, porque teme pela justiça social.
E como gosto de acabar as leituras com boa disposição, omito as questões internacionais e o desporto. A resma de papel que acompanha o semanário jaz ainda dentro do saco.
Sem comentários:
Enviar um comentário