“Existe hoje em dia um consenso alargado de que a escola deve promover a atitude e cultura empreendedora, que são considerados como críticas na educação das novas gerações, contribuindo para o desenvolvimento sustentado de Portugal, julgando-se também que actualmente ao nível das escolas e dos curricula, existem as condições necessárias para promover o Projecto Educação para o Empreendedorismo segundo o conceito subjacente a este projecto: empreender é, fundamentalmente, encarar a realidade que nos envolve como um conjunto de oportunidades de mudança e ter o desejo e a energia para produzir.” [DGIDC]
Avanço com três reparos à iniciativa, os primeiros dois de circunstância e o terceiro de substância:
1. No site da DGIDC é anunciado um novo projecto nacional: a Educação para o Empreendedorismo. A ideia alojar-se-á na mesma página onde jazem, perdão, onde se encontram os projectos: Educação para a Saúde e Educação para a Cidadania. Não é novidade para ninguém que projectos avulsos, inócuos, estão desde logo condenados ao insucesso se não forem suficientemente atractivos para os professores. Se isto vale em qualquer período, vale ainda mais quando os projectos são apresentados em períodos conturbados e de grande tensão entre professores e o ME.É preciso criar climas favoráveis para que as iniciativas resultem. É preciso reforçar as relações de confiança entre os actores intervenientes na mudança. É preciso que os projectos façam sentido, que sejam percebidos, antes de serem operacionalizados.
2. Este projecto, como muitos outros que já foram experimentados e esquecidos, padece de um problema estrutural. Não tem espaço na escola para ser implementado. Esse espaço que faz falta na escola só aparecerá com o reforço da dimensão extra-lectiva da escola através dos clubes escolares. Há que fazer renascer o clube escolar, o verdadeiro clube escolar, através de uma mudança de paradigma de escola. A “escola cultural” pode ser uma solução para recuperar a escola!
3. Falar de educação para… é uma redundância. Educação, entendida como processo de humanização do ser humano, é preparar o homem para ser homem. Educação para o exercício de uma actividade profissional, ou pior ainda, para evidenciar uma das facetas de uma certa profissionalidade, é uma falácia.
Por quanto tempo iremos continuar a assistir ao lançamento de iniciativas que só têm um efeito prático: calar os arautos do neoliberalismo?
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