A intensificação do trabalho dos professores é uma arma administrativa que visa reduzir os custos da mão-de-obra na empresa educativa e faz parte de um pacote de medidas mais amplas que emerge da estratégia do governo de combate ao défice. O aumento de tarefas administrativas de avaliação, a extensão do dia de trabalho e a diminuição do tempo de relaxamento, e a redução das oportunidades para o professor realizar um trabalho mais criativo, são algumas das evidências que atestam a subordinação dos objectivos pedagógicos aos administrativos nas políticas da educação.
É num quadro de proletarização do trabalho docente que os discursos oficiais agregam as pausas lectivas às necessidades dos alunos e se esquecem de as associar aos efeitos da sobrecarga de trabalho na qualidade do serviço prestado pelos professores. E este discurso é muitas vezes apoiado voluntariamente por professores que confundem intensificação com o profissionalismo: As pausas lectivas existem para os alunos e não para os professores, dizem com muita convicção. Este discurso acaba muitas vezes por ser tolerado por outros professores que confiam no bom senso dos órgãos de gestão a quem compete agendar o serviço docente.
E se a tutela decidir alterar as regras do jogo [e para já são só rumores…]? Melhor, e se o ME [ou mesmo sem a anuência do ME algum CE excessivamente zeloso] decidir chamar os professores às escolas exigindo o cumprimento integral do horário semanal de trabalho? Atendendo ao refinamento dos instrumentos de prestação de contas, esta possibilidade já esteve mais afastada da escola situada.
A intensificação cria uma sobrecarga crónica e persistente nas capacidades de rendimento profissional que reduzem a qualidade da prestação e do serviço docente. Por esse facto é que defendo, sem qualquer tipo de hipocrisia, que as pausas lectivas devem ser um tempo de descanso para os professores e para os alunos. Um tempo de não escola. As pausas lectivas são férias, reduzidas, obviamente!
E não há que recear as consequências desta heresia num tempo em que há uma tendência uniformizadora e formatadora para a “nova” função pública. Os professores devem defender a diferença e a especificidade da sua nobre função.
Sem comentários:
Enviar um comentário