30 de março de 2008

O reencontro...

Que lugar atribuiria ao professor na escola de hoje? Esta escola é radicalmente diferente da dos anos 70, com a massificação e a abertura do ensino a todos. Nos nossos dias, qual poderá ser a função do professor?

Um certo martírio. Sem qualquer dúvida, há dificuldades, sofrimentos, colapsos. Em Inglaterra, há uma grande vaga de suicídios entre os professores: não é uma brincadeira. Mas já havia chinfrim na minha época e no grande romance de Loius Guilloux, Le Sang noir, o chinfrim que mata. Sempre disse aos meus alunos: «Não se negoceiam as nossas paixões. As coisas que vou tentar apresentar-vos são coisas de que gosto muito. Não posso justificá-las.» Se sou arqueólogo e são os potes de quarto chineses do século VIII que constituem a minha vida, não posso justificá-lo. A pior coisa é tentar uma dialéctica da desculpa, da apologética, o que eu censuro ao ensino actual, e de que você parece ser uma belíssima excepção; é a apologética de ter vergonha das paixões. Se o estudante sente que somos um pouco loucos, que estamos possuídos por aquilo que ensinamos, é já um primeiro passo. Não vai estar de acordo, talvez ria, mas ouvirá. É nesse momento milagroso que o diálogo começa a estabelecer-se com uma paixão. Convém nunca tentarmos justificar-nos.” (Steiner, 2003, pp. 70-71)

Steiner, G; Ladjali, C. (2003). Elogio da transmissão – O professor e o aluno. Publicações Dom Quixote. Lisboa.

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