29 de março de 2008

Os «caça-fantasmas»*

Luís Freitas Lobo, claramente o melhor comentador português de futebol, considera que “mais do que problemas tácticos, Benfica e Sporting parecem viver numa casa assombrada durante 90 minutos.” O jornalista fala do mau momento desportivo das equipas de futebol destes dois clubes lisboetas e remete para o “lado mental do jogo” o busílis do problema. Nos momentos de tensão máxima a solução tem de estar no relvado. É neste contexto que o jornalista considera relevante o surgimento dos chamados jogadores «caça-fantasmas». Para determinar as causas e as soluções dos problemas, basta olhar para os rostos e corpos dos jogadores e ver os “fantasmas” que convivem com eles em campo.
Ora, parece-me possível estabelecer uma analogia entre os fantasmas do futebol e os fantasmas da educação. Antes de aclarar este esoterismo, parece-me evidente que é no terreno de jogo ou na escola situada que os «caça-fantasmas» terão de operar. Vale a pena olhar para os professores e procurar ver neles os “fantasmas” que assolam o sistema educativo.

E o que vemos no esforço e nas dúvidas estampadas no rosto dos professores?
  • No cansaço, vemos o fantasma da intensificação do trabalho docente.
  • No desânimo, vemos o fantasma da desautorização e o ataque à dignidade da função.
  • No abandono precoce, vemos o fantasma da falta de reconhecimento da especificidade da função docente ou a tentativa de homogeneização funcional do serviço público.
  • Na revolta, vemos o fantasma da mentira e da demagogia; vemos a subversão do educativo ao primado do administrativo.
  • Na esperança, vemos o fantasma do espartilhamento da carreira docente a definhar; vemos uma profissionalidade docente ser construída entre a racionalidade e a criatividade.

E o que fazem os caça-fantasmas? Fazem o que lhes pedem. E a melhor maneira de fazer bem o que lhes pedem é, muitas vezes, não fazer exactamente o que lhes pedem.
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* Título da crónica de Luís Freitas Lobo no Expresso de hoje.

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