Martim Avillez Figueiredo escreve no seu Diário Económico que os números do desemprego são uma boa notícia para o país. Diz o editorialista que “Desejavelmente, Portugal gostaria mesmo de gerar mão-de-obra tecnológica barata. Engenheiros, técnicos de informática, especialistas laboratoriais ou génios da logística, mas todos a preços de saldo para convencer esses gigantes mundiais a colocar boa parte das suas áreas de negócio aqui em Portugal. Ora, uma transição como esta não se faz sem custos.”
1ª nota: Depois de ler estas coisas, fico com a sensação de que a fonte onde o ministro da economia vai beber a desfaçatez é a mesma que abastece a imprensa da especialidade. É pena que esta gente não use a mesma linha de pensamento na sua coutada. Ora vejamos. Se me guiasse pela bíblia neoliberal diria disparates deste tipo: atendendo aos lamentos de que se vende cada vez menos; que a quebra de vendas que aflige a imprensa escrita não se deve, apenas, à [má]qualidade dos jornais e dos jornalistas mas também ao preço dos diários e semanários; que urge mobilizar os leitores para a imprensa. A minha linearidade “economicista” levar-me-ia a afirmar que pagando a preços de saldo os ordenados dos directores e seus acólitos, alargando a contenção de despesas a toda a classe de jornalistas, seria possível colocar os jornais a um preço meramente simbólico e, assim, atrair para a leitura os leitores que engrossam as listas de desempregados.
2ª nota: Há algo que me escapa, caro Martim. Depois do engodo, depois de atrair os gigantes mundiais com a mão-de-obra tecnológica qualificada barata, as políticas de exploração dos trabalhadores seriam para manter eternamente ou seriam invertidas de modo a repor os salários justos? Admitindo que a primeira hipótese é escabrosa e que nada disto lhe passa pela cabeça, o que levará os gigantes mundiais a permanecerem por cá, não deslocalizando as suas áreas de negócio para outros países "terceiro-mundistas" "mais atractivos", depois da recuperação salarial?
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