O outròólhar está cada vez mais minimalista: nas entradas, na discussão, no entusiasmo, nas temáticas. Não direi que o blogue se encontra num processo de simplificação porque a ambiguidade nunca deixou de estar presente. Também não arrisco a dizer que se encontra num processo irreversível de definhamento porque ainda persistem os motivos e as pontas que me ligam à rede.
Ao contrário do que se possa pensar, vejo nesta atitude [porque é de uma atitude que se trata], aparentemente mais distante e fria, um sinal de proximidade cúmplice e afectuoso com todos aqueles que por aqui passam e regressam. É como se nos valêssemos das discussões antigas, das conversas inacabadas, da memória.
Isto vem a propósito de um assunto que marcou a agenda do ensino superior nos últimos anos e que tarda(?) em ser introduzido nas discussões dirigidas ao ensino básico e secundário. Refiro-me às consequências do Tratado de Bolonha, ou melhor, a um dos efeitos do paradigma Bolonha: a reconfiguração das práticas de ensino. É aqui que entra a memória sob a forma de arquivo, que me dispensará, digo eu, de esmiuçar assuntos recorrentes.
Bolonha foi motivo de conversa de alguns colegas do superior num tempo em que ainda se acreditava [;o)] na benignidade dos políticos e das políticas. E evoco Bolonha porque temo que o paradigma se perverta pelas instituições de ensino superior ao aligeirar os níveis de exigência (e nesta perspectiva até se entende que o Estado desconfie das instituições “superiores” e exija dos candidatos a professores uma certificação de competências, por exame, antes da entrada na profissão) repercutindo-se nos níveis de ensino precedentes.
Ora, foi no debate de ontem na RTPN, sobre a Educação Sexual, e na sequência da intervenção do professor Daniel Sampaio (DS), que percebi das suas palavras uma tentativa de trazer Bolonha para o básico e secundário. O modelo, que é defendido por si e pela sua equipa de trabalho que quer ver a Educação Sexual (ES) “tratada” nas áreas curriculares não disciplinares, passará a depender mais da curiosidade dos alunos e das suas competências de pesquisa e menos do “saber” específico do professor. O professor monitoriza o trabalho dos alunos e a ausência de competência nesta temática não pode ser razão suficiente para que obstaculize [e isto sou eu a depreender das palavras de DS] a ES.
E como ando parco em palavras fico por aqui: A auto-formação como paradigma de aprendizagem no básico e secundário reclama mais responsabilização do aluno e da família e exime o professor no processo de formação do aluno. Ou não?
Adenda: detritus toxicus. «"Detritus" é o nome de um personagem de uma das aventuras de Astérix, o Gaulês. “Toxicus” é relativo àquilo que tem a capacidade de ser corrosivo. Como o humor. ”detritustoxicus” pretende ser um blog sobre vários assuntos - vários detritos sobre aquilo que vem à rede diariamente: música, política, educação, formação, ciência e filosofia. Sempre com uma pitada de humor corrosivo lá pelo meio.»
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