25 de abril de 2006

O direito de resposta...

"Caro Manuel Ribeiro,

Li, entre atónita e indignada, o seu artigozinho ? o diminutivo, acredite, não é um mimo. Li, reli e só não decorei porque esse tipo de escrita é indigesta e corrompe a credibilidade jornalística.
Assim, querido Manuel Ribeiro ? amor com amor se paga ? senti-me na urgente necessidade de responder à sua croniqueta com piropos semelhantes àqueles com que, jocosamente - senilmente ? - resolveu mimosear as docentes ? no seu vocabulário deve apenas existir a palavra (in)decentes - deste país.

Para ser absolutamente sincera, o meu primeiro impulso foi votá-lo ao desprezo. Os seus escritos, e não apenas este, revelam a sua principal característica ? o senhor é ? ou julga ser ? um marialva provocador, engraçadinho e digno de figurar, como herói topo de gama, nas revistas aos quadradinhos. Rara é a crónica em que não desabafa e deixa sair esse complexo de Édipo tão exacerbado que até mete dó. Raro é o texto onde não se constata que a suprema felicidade para si ? e a solução para os muitos problemas que a sua personalidade apresenta ? passa pela abolição dos direitos das mulheres ? todinhos ? e por uma carência doentia de acolher o maior número possível de ?escravas? ? moças desvalidas é como costuma apelidá-las, certo? ? no seu ?abrigo? ao qual, liricamente, chama de paraíso. Se eu não tivesse a certeza de que o meu amigo é um refinado idiota, seria tentada a crer que seria uma nova versão da madre Teresa ou, no mínimo, convertido ao poder de sedução das palavras do psicólogo Eduardo Sá, passara a ter como lema ? chega-te a mim e deixa-te estar.
Num ponto estamos de acordo, amigo Manel: na profunda indignação que, ao que parece, ambos evidenciamos. A sua, pelo que li, resultante de um qualquer recalcamento tido na infância ou na adolescência ? Freud explicar-lhe-ia melhor; a minha? provocada pelo seu impudor, má formação, falta de nível , falta de carácter e, sobretudo, por um ego balofo, repugnante e anémico.
Refiro-me ao seu, claro.
Sinto-o uma espécie de intelectual naftalinado a necessitar urgentemente de ser reconhecido pelo notário, acredita? Um beija aqui, beija acolá, pegajoso e incompreendido, predestinado à glória do? esquecimento. Ah? a só-literária vulgaridade!
Por outro lado, o desconforto que me causou o seu blak-out à minha profissão assenta num terrível receio que, em abono da verdade, me está a provocar náuseas e tonturas. Muito mal vai o país cujos jornais mais conceituados permitem que um qualquer aprendiz de aprendiz a jornalista se outorgue o direito de insultar, caluniar ? a título de provocação? Não me faça rir? -
com toques virulentos de sordidez e pouca vergonha, profissionais que, ao que tudo indica, não estiveram presentes no seu longo e penoso processo de aprendizagem? à distância. Tão à distância, amigo Manel, que nem uma gotícula de educação transparece no seu sebáceo discurso.
Dar-se-á o caso de esse complexo, essa raiva desmedida contra as professoras deste país ter a sua origem em algum caso mal resolvido com alguma delas? A minha curiosidade aguça-me o espírito e a maledicência. Teria sido com uma dessas a que, carinhosamente, cataloga de camafeu ? Seria com uma , segundo as suas vernáculas palavras, com prazo fora de validade? Ou, pelo contrário, com uma, seraficamente, apelidada de bem dotada? Assim a modos que mente sã em? corpo são, não? Creio que me faço entender? Não adianto mais este meu interessante périplo porque, pelo que li, cowboys que gerem de um modo diferenciado os seus afectos não fazem parte da sua lista? Honni soit qui mal y pense!

Ó Manuel Ribeiro, então o meu amigo pensa que os professores deste país andam por aí a jogar à lerpa? Está muito enganado. Logo o senhor que se diz um exímio conhecedor de almas e de... professoras e professores. Citando Saramago ? o do prémio Nobel? não sei se conhece? - ? O professor, hoje, é um herói. Precisa de ser corajoso, por vezes até a nível físico?. E como o grande escritor está coberto de razão! Ser professor, nos dias que correm, é uma verdadeira missão. Sem estímulos adequados, sem remunerações compatíveis e muitas vezes sem condições nenhumas, os bons professores são todos aqueles que não desistem de ensinar. E de aprender. Que é uma coisa que um aprendizeco a jornalista não pode compreender porque lhe falta inteligência. E muita sensibilidade. E carradas de polimento. E montanhas de originalidade e de talento.
Por outro lado, orgias e outros bacanais afins estão mais indicados a serem praticados em pasquins e, de preferência, tendo como jogadores economistas maníaco-depressivos e com um trauma compulsivo contra? mulheres.
Quer um conselho de amiga? Se fosse a si, não vá uma dessas queridas professoras dar-lhe um pontapé igual ao que escolheu como marca prestigiosa dos seus artigos ? o que demonstra que o meu amigo além de asno, é um asno violento - fazia como o Dâmaso Salcede. À cautela, ia-me raspando para o Iraque! Acredite, as queridas professoras, reconhecidas, agradeciam!

De uma fervorosa admiradora,
Ana Rodrigues

Nota: Concordo quando afirma que, no ensino, predomina o sexo feminino. Às mulheres sempre coube a graça de dar à luz e de ser fonte de luz. Espero que, de igual modo, concorde com o meu atento reparo ? economistas, em Portugal, é carreira onde predomina o chamado sexo forte. Será que com tanta crise ? basta ver-se a nossa economia ? os tais jogos de sedução que nos
aconselha não se aplicarão mais a quem - habituado a números que nada dizem - usa as palavras como o prelúdio de uma grande façanha amorosa que, invariavelmente, se resume a? nada vezes nada?!"

É uma professora do Norte, carago! Um cumprimento especial para ti, Ana.

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