29 de setembro de 2004
Liderança política acéfala.
Um desenvolvimento desportivo imoral reduzido a uma das suas dimensões – o espectáculo desportivo – augura um futuro sombrio. Pior do que uma má ideologia desportiva é a ausência dela. Sem ideologia não existe política. E sem política não é possível acautelar o futuro.
Será esta a representação do nosso desenvolvimento desportivo?
28 de setembro de 2004
Das desculpas às explicações!
27 de setembro de 2004
1º ano
Escolas da montra
(Foi o que me ocorreu escrever depois de ler esta entrada do Manuel.)
24 de setembro de 2004
A outra margem.
O conflito não é na sua essência mau. Pode ser encarado como uma oportunidade para estabelecer pontes que unam as margens das relações profissionais enviesadas.
O tom pessimista que tem escapado das palavras ditas sobre as relações interpessoais na escola, marcadas pela escassez de diálogo entre os profissionais do mesmo ofício, terá de sofrer um revés. Alguém terá de dar o primeiro passo em direcção à outra margem, em nome da nobreza da função.
Será esta a direcção da mudança?
Pragmatismo?
- Professor, quanto é que “ganharei” com o curso?
23 de setembro de 2004
Perplexidades....
Paradoxos de uma escola situada!...
22 de setembro de 2004
21 de setembro de 2004
?
É, no mínimo, estranho!
A custódia.
O humanismo tem sido uma palavra vã!
20 de setembro de 2004
Fazer o caminho...
São momentos ímpares...
19 de setembro de 2004
Ministra da Educação vai participar em debate na RTP1
“A ministra da Educação, Maria Carmo Seabra, vai participar num debate no programa «Prós e Contras», que vai ser exibido na próxima segunda-feira na RTP1.
O debate, que será intitulado «O novo ano lectivo perspectiva uma escola melhor?», vai colocar em discussão, entre outros assuntos, os sucessivos atrasos nas colocações dos professores, o insucesso escolar e a gestão da educação.
O programa será moderado pela jornalista Fátima Campos Ferreira e está previsto para iniciar-se às 22:00 horas.”
Na abertura do ano lectivo ninguém viu a ministra, só ou acompanhada pelos seus acólitos, numa escola qualquer. Não foi..., terá telefonado, digo eu. Ou não fosse uma especialista em telecomunicações.
Tratar da imagem, é disso que se trata?
17 de setembro de 2004
O curso tecnológico continuará a ser um filho bastardo?
Qual o sentido, finalidades e funções do ensino secundário? Estará condenado a servir de antecâmara do ensino superior? Será este o destino que lhe querem conferir?
A partir do momento em que deixarmos de considerar o ensino secundário como um ensino de elites, ele abandonará as suas contradições e superará os seus dilemas:
selectividade/democraticidade; obrigatório/facultativo; condição de acesso ao ensino superior/não condição de acesso ao ensino superior; uniformidade/diversidade; etc.
Ora, a questão colocada no post anterior pretende abrir caminho a uma nova discussão. Aparentemente, estará tudo na mesma. Há muito tempo que coexistem os cursos orientados para o prosseguimento de estudos e os cursos tecnológicos. Porém, uma visão utilitarista de ensino transfigurará a utilidade dos cursos tecnológicos. De filho bastardo poderá passar a filho único aproveitando-se da certificação profissional que é reconhecida em toda a Europa Comunitária. Obviamente que não é este o caminho que eu defendo. Mas é um cenário que não podemos desprezar.
Obs: Reuni 6 entradas de uma discussão antiga mantida no desusado Outroolhar sobre o sentido do ensino secundário. Se pretender averiguar o que lá se disse, estão aqui:
Para onde vai o secundário?
Para onde vai o secundário?(II)
A falta das bases.
Ensino secundário livre das amarras.
À educação obrigatória compete a educação geral.
À educação obrigatória compete a educação geral (II).
16 de setembro de 2004
Uma conversa na outra margem...
Esta reorganização curricular do ensino secundário não cuidou atempadamente de informar, esclarecer, enfim, preparar as pessoas e criar as condições para os efeitos da mudança.
Os encarregados de educação, alunos, docentes, órgãos de gestão, no fundo os principais actores da reorganização curricular estão arredados de toda esta problemática. É um assunto demasiado sério quando confrontado com o estado actual de fingimento em que mergulhou o sistema educativo.
O país anda preocupado. As escolas não estão em condições de guardar os alunos. É que estes novos armazéns de pessoas só adquirem o nobre estatuto de escolas na presença de docentes. Malogradamente para alguns, ainda não foi possível extinguir os professores do sistema educativo.
Quando o disfarce estiver completo, isto é, quando os professores estiverem colocados nos seus receptáculos de trabalho, os pais descansarão, os responsáveis pela anarquia respirarão de alívio e a imprensa calar-se-á.
Voltando um pouco atrás, aproveito esta aparente estabilidade profissional para fazer um trabalho que será reeditado por todos os colegas que, neste momento, sofrem os efeitos da irresponsabilidade de um governo oco. As escolas deixarão de ser um problema para o país até à época de exames e ao próximo concurso de docentes. Emergirão outros problemas que só serão discutidos intra-muros, nomeadamente, a nova revolução operada pela redefinição dos cursos tecnológicos do ensino secundário. Através do confronto das vantagens de frequência num curso tecnológico e de um curso científico-humanístico há um claro benefício do primeiro. Os alunos dos cursos tecnológicos para além da creditação profissional poderão garantir o acesso ao ensino superior como os seus colegas que frequentam um curso científico-humanístico. A questão que eu coloco é a seguinte:
Num quadro em que o mercado de trabalho e o prosseguimento de estudos dão o sentido ao ensino secundário, porque é que não se acabam com os cursos científico-humanísticos?
15 de setembro de 2004
Uma questão de fé.
Um professor recolhe, agrupa e trata uma enorme quantidade de informação. Situado num determinado contexto, deixa-se levar pelas suas crenças, valores e conhecimentos. Escrevia num texto que se encontra mais em baixo utilizando como exemplo a fragilidade conceptual na avaliação do perfil de um treinador de futebol, que a ausência de explicação de um dado fenómeno evocava uma dimensão religiosa. O treinador tomado como exemplo recorria a uma simbologia deste cariz nos momentos em que a sua equipa alcançava um objectivo importante. Efectivamente, a mediatização destes factos agregou dois elementos distintos mas interdependentes se os analisarmos sob uma perspectiva fenomenológica: este treinador, homem de ciência, tem fé no êxito desportivo.
Bem a propósito surgiram duas questões associadas a um comentário do Manuel:
Até que ponto um agnóstico, como eu, pode e deve lidar com as questões da fé na construção da sua profissionalidade?
Como é que a fé se pode articular com uma dimensão organizacional de um sistema educativo para a construção da Pessoa?
Enquanto que a primeira questão encontra um paralelismo no quadro anterior, para a segunda questão terei de me apoiar no pensamento de Patrício (in: Lições de axiologia educacional, Universidade Aberta, 1993). A dimensão das questões do homem e da sua educação não cabem todas na racionalidade científica e a Pedagogia terá de dar oportunidade a outras razões: à filosófica, à cultural, à poética, à religiosa. Uma escola pluridimensional como é a portuguesa (pelo menos no espírito da Lei) na sua componente curricular como na componente extracurricular não rejeita (talvez seja a expressão mais correcta) a dimensão religiosa da Pessoa. Sendo a escola pluridimensional uma fantasia normativa, a fé não se pode articular na dimensão organizacional do sistema educativo.
Está bem, existe como opção a disciplina de EMRC. E daí?
13 de setembro de 2004
Desejaria para os seus?
A(o) filha(o) deseja frequentar um curso tecnológico. Encararia essa situação com naturalidade? Como é que reagiria?
A partir da forma enviesada como coloquei a questão não é possível inferir a minha opinião sobre a matéria. Expressá-la-ei mais tarde.
Fora de tempo?...
Fraude da escola contemporânea
11 de setembro de 2004
Alvíssaras...
Creio que o sentido do voto nas eleições legislativas é determinado por uma mescla de dimensões motivacionais. Os resultados eleitorais não expressarão, a meu ver, a aceitação desta ou aquela política, não ratificarão o acerto das orientações e decisões governativas sectoriais. Se exceptuarmos as questões de natureza económica, as políticas sociais não têm sido decisivas nas conquistas e reconquistas do poder. A sentença eleitoral dos portugueses não se orientará por mais e melhor Educação, mais e melhor Saúde, uma melhor política social.
Isto a propósito do ambiente escolar em que vivo. É que verifico no rosto de alguns colegas, declaradamente simpatizantes dos partidos políticos da maioria, expressões de vergonha, de reserva, de uma vontade de fugir aos assuntos que envolvam política educativa.
O que me deixa perplexo não é o reconhecimento, mesmo que implícito, de um fracasso governativo. O que me deixa desapontado é que esta atitude também poderá significar a desvalorização da profissão pelos próprios profissionais.
10 de setembro de 2004
Exemplos que (nada) valem...
Quem entrou agora nesta carruagem em que nos encontramos talvez desconheça que esta viagem começou com uma discussão em torno da uma ideia: a recuperação da Escola Cultural como paradigma pedagógico susceptível de ser concretizado no actual figurino organizativo do sistema educativo. Procurei assinalar algumas das disfuncionalidades e paradoxos do actual sistema educativo que afastam cada vez mais a escola normativa da escola situada. (http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#013814
http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#014177
http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#014500
http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#015030
http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#015119)
Hoje continuo a deixar-me guiar pela mesma utopia mas pressinto que a educação é conduzida no sentido oposto.
Os exemplos que se afiguram nos outros países de pouco valem. Nessa medida o Manuel tem razão. Comparar, só o que pode ser comparado. O meio século de obscurantismo não justificará tudo. Mas não podemos continuar agarrados ao “daltonismo cultural” em que fomos socializados. A Sociologia da Educação ajuda-nos a perceber que o percurso histórico político e cultural de um país não pode ser decalcado.
O exemplo da Finlândia vale o que vale. Servirá para admirar, questionar, reflectir e suscitar a discussão.
Para finalizar esta conversa deixem-me introduzir um exemplo do mundo futebolístico que serve para sublinhar a finitude dos modelos. José Mourinho (para quem nunca ouviu falar, o homem foi campeão europeu de futebol na época transacta por uma equipa aqui do Norte) apareceu no meio futebolístico e num ápice desmistificou a ideia hegemónica acerca do perfil treinador de futebol. Afinal o homem como ex-praticante de nível mediano não cumpria os preceitos que lhe estavam reservados. Supostamente, o treinador de futebol teria de cumprir o seu destino. Ser um treinador de nível mediano. Nada melhor do que deixar a realidade contestar a ficção. O caricato desta questão é que muitos acreditam, porque são pessoas de fé, que o segredo do sucesso se encontra aí mesmo. Na própria fé.
9 de setembro de 2004
Outros olhares... a mesma Escola?
(Comentário anónimo)
(Des)ordem...
Nos momentos de acalmia, olhamos à nossa volta e reparamos que não estamos sós. Talvez porque se procura enganar a fadiga e dar tempo à recuperação, o desejo de procurarmos no outro e na profissão do outro afinidades e pontos de ruptura com esta profissão de professor permite-nos situar.
Isto a propósito de um texto do Henrique que fala da prepotência, da impunidade, do atropelo às regras democráticas, dos acólitos.
Paradoxalmente, é na avaliação da perversidade que encontro motivos para estimar a minha profissão. É o momento em que os exemplos dos outros nos ajudam a perceber o que significa liberdade de expressão. Que corporativismo é este que permite que estes exemplos sejam publicitados, discutidos, censurados quando atentam contra as regras elementares de civilidade ou fazem tábua rasa dos normativos legais?
Uma Ordem?...
8 de setembro de 2004
Bolonha aqui tão perto.
MJMatos na sua profícua pesquisa pela imprensa da actualidade educativa deixa-nos este registo do Diário Económico. É uma entrevista ao coordenador responsável pela apresentação de uma proposta de revisão do sistema de graus, para implementação dos Processo de Bolonha, nos cursos de Economia e Gestão.
Quero destacar da entrevista o seguinte:
Existem duas condições a ponderar na decisão de reduzir a duração do 1º ciclo de formação - licenciatura - para três anos.
“A primeira, e talvez a mais importante, é saber se os estudantes portugueses concluem o ensino secundário tão bem preparados como os restantes alunos dos outros países europeus. A resposta a esta pergunta é fundamental para saber se é possível formar diplomados para entrar no mercado de trabalho com apenas três anos, como acontece em outros países. Outra questão consiste em conhecer o grau de articulação entre os ensinos secundário e superior.”
Atente-se a um aspecto de menor importância destapado pela minha curiosidade pelo trabalho jornalístico. A minha simplicidade levar-me-á a pensar que não existe qualquer relação entre o “brilhante” percurso académico do coordenador que é patenteado na notícia com as controvérsias geradas em tornos dos exames nacionais. Talvez fosse necessário rematar a notícia e nada melhor do que o pretenso mérito académico do entrevistado.
“O professor que fez o liceu em três anos.
António Romão fez o prodígio de concluir os sete anos do liceu em apenas três. Conseguiu fazer os exames do 2º, 5º e 7º anos, como aluno externo do liceu, em apenas três anos. Começou a trabalhar aos 16, mas uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) permitiu-lhe voltar a estudar. «Se não fosse a Gulbenkian, talvez não tivesse estudado», confessa.”
Os professores do ensino básico e secundário têm sido fustigados com mudanças iníquas no sistema educativo. Receio que o antídoto para lidar com essa entropia passe pela alienação.
Olhar distante.
As discussões sobre a Escola realizadas intra-muros não fazem parte da agenda dos professores. Admito que esta generalização é abusiva porque decorre da minha experiência profissional, dos encontros justificados pela coisa educativa, do pulsar manifestado na blogosfera. Não me interessa, nesta ocasião, procurar as causas do afastamento docente apoiando-me em estudos ou publicações.
A pergunta que eu coloco é a seguinte:
Será que o professor está votado à sua condição de operário acrítico e arredado da possibilidade de ser ele próprio a decidir o sentido do seu destino?
7 de setembro de 2004
Faz de conta.
Encontros e reencontros, olhares que se cruzam, recuperam-se algumas ideias pendentes.
Há uma vaga conformista, um encolher de ombros, palavras para quê?
Ninguém duvida que a opinião pública será fustigada com a contra-informação. Tudo correrá conforme previsto, as aulas começarão no dia agendado, os alunos serão bem recebidos e guardados nas escolas.
O país do faz de conta parece ansiar por escolas a fingir.
6 de setembro de 2004
António Barreto escreveu no Público:
“A educação, por si só, não cria cultura nem liberdade. Nem é motor do desenvolvimento.”
Comentário: E se definisse educação e liberdade?
“A igualdade social não veio a reboque do desenvolvimento da educação.”
Comentário: Argumento contrário - Sem educação será possível falar de igualdade social?
“Em Portugal é provável que o crescimento da educação em todos seus aspectos tenha, entre outros resultados, o aumento das desigualdades sociais.”
Comentário: Provérbio: Quanto mais sobe maior será a queda!
“Desde que as orientações se tornem independentes dos dois mais poderosos factores de conservação desta famigerada ideologia: a burocracia ministerial (e seus técnicos e especialistas) e os sindicatos de professores. São estes dois corpos os verdadeiros responsáveis pela política educativa em Portugal, ajudados evidentemente pela demagogia dos dois grandes partidos.”
Comentário: Ora venha daí uma alternativa!
5 de setembro de 2004
Os fins
Não existe acordo generalizado exógeno ou endógeno sobre a falência do modelo de organização da escola. Mas admitamos que esse acordo será indeclinável tendo em conta as exigências insatisfeitas que a sociedade vai observando a partir de uma presumida ineficácia da escola. Neste quadro, a discussão sobre um modelo alternativo seria obrigatório.
Cabe-me perguntar se esse modelo alternativo prosseguiria os objectivos que têm conferido sentido à educação, agrupando-se nas temáticas sugeridas por Sacristán:
- A fundamentação da democracia;
- O estímulo ao desenvolvimento da personalidade do sujeito;
- A difusão e incremento do conhecimento e da cultura em geral;
- A inserção dos sujeitos no mundo;
- A custódia dos mais jovens, suplantando nessa missão a família?
O poder.
É neste quadro de convém perceber as movimentações sociais que visam limitar o acesso ao saber dos grupos economicamente vulneráveis. A massificação do ensino gerou a ascensão social de determinados estratos da população de parcos recursos económicos. A origem social deixou de constituir um factor determinante para o exercício de funções bem remuneradas.
Há que enquadrar a origem do nervosismo dos que bradam incessantemente pela crise da escola e que reclamam o direito de escolha da melhor escola para os seus.
Não sendo refutada a crença de que com a educação se alcança o maior bem-estar e a plenitude para os indivíduos e a sociedade, há que perceber que este discurso da crise e da ineficiência da escola satisfaz os arautos neoliberais.
O que mais me impressiona é a facilidade com que estes discursos foram assimilados pelo senso comum.
4 de setembro de 2004
Mercantilizar a educação.
3 de setembro de 2004
A estocada
Por seu turno, os professores do ensino básico e secundário assistem com uma incompreensível letargia à redução salarial, ao empobrecimento das condições e intensificação do trabalho, às consequências nefastas da proliferação sem critério de cursos de formação inicial com qualidade duvidosa.
Uma nova estocada na dignificação profissional do professor sobressai do recente concurso de professores.
Paradoxalmente, os obreiros desta cabala ideológica derramam lágrimas de crocodilo quando pressentem má qualidade na formação que é ministrada aos seus educandos.
As vozes que reclamam a renovação dos incentivos (essencialmente financeiros) nos sectores fulcrais da administração pública de forma a atrair os melhores quadros do sector privado manterão esse mesmo argumento quando se apelar ao incremento de qualidade no sistema educativo?
outroolhar
Não sei se será a solução definitiva...