14 de fevereiro de 2006

Enredado…

Ainda bem que o adkalendas decidiu retomar a discussão acerca da função da escola e do professor porque permite revisitar a “velha” questão: instrução versus educação.
[Esta pequena entrada não dispensa a leitura do Enovelado.]

Um professor só ensinará aquilo que o aluno estiver na disposição de aprender. Sem entender o aluno, sem estabelecer uma relação afectiva favorável à aprendizagem, sem personalizar o acto educativo, de que vale ao professor o saber específico? É fácil cair em dualismos herméticos claramente desfasados do que é a relação educativa. E a relação educativa é o acto educativo, que terá de ser personalizado. Se assim não fosse, o professor seria prescindível até porque existem outras formas de o aluno aceder ao conhecimento, porventura, mais capazes e mais actualizadas.
Não creio que a ênfase na questão dos afectos minimize a qualidade do acto educativo. Bem pelo contrário, legitima o trabalho do professor. E reduzir o trabalho do professor ao acto instrutivo é, a meu ver, regredir na profissionalidade docente. Ser educador é apostar no desenvolvimento da pessoa do educando e assumir-se a si mesmo como pessoa. Apesar de assistirmos à exigência exacerbada de mais educação na escola, há que procurar retirar da pressão benefícios que se traduzam em melhor escola.
Malogradamente, não tem sido possível encontrar formas de creditar a exigência e a responsabilidade que recai na escola no reforço da qualidade educativa [que não dispensa o reforço dos recursos educativos].

Adenda I – Obrigado pela deixa, Teresa e Isabel.

“Resumindo: continuamos de acordo.E agora? O que fazemos com isto tudo?”

Ora aqui vai uma ideia psicadélica: A luz que radia dos holofotes dirigidos para a escola [pensei num sistema de recuperação da energia solar… ;)] tem sido mal aproveitada sobretudo pelos actores educativos. Usando uma analogia futebolística [e há quem não goste deste tipo de analogias ;)] é preciso saber viver com a pressão. Entrar em pânico nos momentos decisivos [recordo que estamos prestes a renegociar o estatuto da carreira docente que reconfigurará, digo eu, o papel do professor] dificulta a expressão do potencial de cada um [da equipa ou do grupo profissional]. Curvar-se nos momentos em que é necessário assumir riscos [e não podemos esquecer que há divergentes perspectivas e interesses quanto ao papel da escola] é uma fragilidade que afastará os professores dos lugares de decisão da orientação educativa.
Deste modo, é necessário exigir dos nossos representantes associativos [sindicais ou associações profissionais…demarcando as questões laborais das pedagógicas (será possível?)] firmeza e clareza nas posições que adoptarem em sede de negociação ou reivindicação. Obviamente que a tibieza das acções dos nossos representantes legítimos deve ser penalizada pela via da desvinculação ou através da criação de outras alternativas cívicas [a meu ver, a Ordem não é uma alternativa exequível] nomeadamente, as iniciativas do tipo apartidário - Estados Gerais da Educação (???).
Mas não chega exigir dos outros mais responsabilidade. Há que procurar, através das iniciativas locais, sensibilizar e mobilizar as comunidades educativas agregando-as às nossas causas. E isto não depende dos outros. Depende da acção de cada um de nós na escola situada.

Adenda II: Aproveito a oportunidade para deixar o reflexo do colega Delfim Peixoto http://transparenciasereflexos.blogspot.com/ . Bem-vindo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ando por aqui a dizer "coisas", mas a verdade é que já vivi demasiadas fases e sinto que já nada me moverá a continuar para o ano. Apesar de ser bem legítimo, dado que tenho as condições todas para a reforma desde o ano lectivo anterior, não deixo de sentir certa tristeza por já não ter motivação/alento para continuar com a minha quota parte nessa acção de cada um na escola situada.