"… a afectividade não se ensina, pratica-se. Não pode nem deve ser encarada como se fosse um conteúdo…"Esta afirmação do adkalendas foi enunciada após um prolongado debate que se seguiu ao excerto de Hargreaves. Não seria congruente com as ideias de escola que defendo que deixasse este assunto sem um pequeno acrescento.
Creio que a afirmação foi proferida num contexto em que se coloca a formação académica dos professores no centro das preocupações educativas. A ideia que subjaz à afirmação é, a meu ver, que a deficiente formação académica dos professores no domínio da sócio-afectividade legitima a demissão da escola da sua função formativa.
Parece-me claro que a afectividade é aprendida e desenvolve-se como todas as outras capacidades humanas. Se a escola busca o desenvolvimento integral dos alunos como poderá a afectividade ser destituída de conteúdo? Vejamos: quando um aluno se envolve ou é envolvido num conflito com um colega e/ou com o professor numa sala de aula, quando degrada material escolar, quando hostiliza um parceiro pela ideias que este defende, quando recusa os valores da solidariedade, da cooperação e da entre-ajuda,… o professor deve ou não encarar estas problemáticas como conteúdo/matéria de ensino? Deve ou não incluir no seu plano de trabalho actividades orientadas para o desenvolvimento afectivo? Serão as capacidades sócio-afectivas sensíveis ao treino e à exercitação? Uma formação inicial de professores centrada numa pretensa formação científica que menospreze a integralidade do sujeito pode ou não legitimar a desresponsabilização da escola face ao desenvolvimento afectivo dos educandos? O que é afinal um conteúdo de ensino?
Chegamos, uma vez mais, à balcanização disciplinar!
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