“[…] É tendo como pano de fundo quer a ofensiva que, a pretexto da qualificação da acção educativa nas nossas escolas, a actual equipa ministerial tem vindo a protagonizar, quer os riscos das soluções que a regulação através do mercado pretende promover que importa compreender a necessidade dos educadores de infância e os professores portugueses terem de, neste momento, aprenderem a fazer das tripas coração. Uma proposta que não constitui um apelo à resignação, mas antes à adopção de uma postura estrategicamente responsável, a qual obriga a compreender que a acção dos professores em prol de um estatuto profissional mais digno e socialmente reconhecido passa por uma intervenção em vários planos: (i) o da luta sindical contra uma carreira burocraticamente estratificada e hierarquizada; (ii) o da sua participação activa e consequente na definição, implementação e avaliação de projectos que contribuam para que as escolas se assumam como espaços culturalmente significativos, socialmente mais justos e politicamente mais democráticos; (iii) o do seu envolvimento no debate e reflexão sobre problemáticas que nada tendo a ver directamente com a acção docente afecta essa mesma acção (direitos das crianças e dos jovens, socialização das novas gerações, formação inicial e contínua de professores, etc.).In: A Página da Educação, Ariana Cosme e Rui Trindade.
Os tempos em que vivemos são conturbados e exigem de todos nós um tipo de postura que, pensávamos já não ser necessário assumir. O que até há pouco tempo eram consideradas conquistas irreversíveis, deixaram, hoje, de o ser. Por outro lado, os lamentos só nos fragilizam, sobretudo quando caímos no equívoco de pensar que as soluções são-nos estranhas, dependendo mais da generosidade de outros actores da cena educativa, do que da nossa reflexão e da nossa acção cívica e profissional.
Admitimos que este é um apelo difícil de fazer, num tempo em que nos encontramos combalidos e sem energia para responder aos desafios que se nos colocam. Por isso, é que, mais do que esperar pelo maná que nos caia do céu, é preciso afirmar a necessidade de fazer das tripas coração. Apelo este que não é novo e que, certamente, não será a última vez que será feito. Reavivemos, então, a nossa memória para nos recordarmos que muito do que hoje se designa como uma benesse foi o resultado de um movimento reivindicativo longo, estóico e persistente.”
Nem mais!!
PS: [o negrito é meu]
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