Encontro um paralelismo nos incidentes que envolveram a claque do FCPorto no Estádio da Luz e o caos que se vivia na Universidade Independente, de há um ano para cá: Em ambos os casos, o ónus da culpa é transferido para o Estado fiscalizador. No caso das claques, omitem-se responsabilidades pelos actos de vandalismo aos transgressores e procuram-se responsabilidades nos agentes policiais e nos organizadores do evento [e não se trata aqui de negar negligência ou incompetência das forças policiais e dos organizadores]; no caso da UnI, cujas denúncias de professores (desde 2006) relatavam casos de notas de exame alteradas para favorecer alunos, de afastamento compulsivo de doutorados para entregar a actividade lectiva a quem não tinha qualificações, de realizações de exames com perguntas de nível equivalente ao 9º ano de escolaridade, a responsabilidade pela perversão recai na inércia das instituições do Estado com competência para a fiscalização.
E assim, na eterna luta ideológica que reclama uma sociedade com mais ou menos Estado, o Estado acaba sempre por sair perdedor. Ou porque falha no papel fiscalizador, ou porque não é capaz de assegurar serviços com qualidade aos cidadãos, ou porque assegurando serviços com qualidade ficam caros aos contribuintes, ou por acção, ou por demissão, enfim, é evidente que a culpa de todos os males deste país é do Estado. É que sacudindo a culpa para o Estado [que alguém um dia designou de monstro] ilibamos a responsabilidade individual nos actos comunitários.
Que estranha forma de alienação considerar que o Estado tem pouco que ver com aquele monstro que vemos reflectido quando nos olhamos ao espelho.