Já relatei por aqui algumas passagens da curta experiência pelos cursos tecnológicos. O curso foi uma das novidades da reorganização curricular. Um curso novo, literalmente novo. Sem qualquer tradição ao nível da organização escolar, com programas preparados por uma excelente equipa de trabalho, e os professores, as dezenas de professores presentes, motivados para a inovação. “Quebrámos bastante pedra” mas saímos entusiasmados.
Foram duas semanas de trabalho com a equipa responsável pela elaboração dos programas. Duas semanas de trabalho diário intenso para a compreensão da lógica de funcionamento do curso, duas semanas de experiências de operacionalização.
Exigia-se uma nova atitude perante a escola: Dos alunos, professores, encarregados de educação e órgão de gestão. Faltou a comunicação. Faltou a escola. A escola balcanizada ditou a sua lei. O desafio proposto passava pela afirmação de um nova organização escolar que admitia espaços de aula “deslocalizados” das fronteiras físicas da escola, alteração dos tempos lectivos em função da actividade, mudanças na forma escolar que valorizasse os saberes não adquiridos por via escolar. Era necessário derrubar as resistências administrativas, nomeadamente o controlo do tempo do professor e mobilizar o conselho de turma para a articulação curricular [que desafio imenso]. Ganhámos a primeira batalha e perdemos a segunda. É que as práticas colaborativas dão-se mal com qualquer tipo de colaboração artificial. A territorialização das práticas educativas ganhava aqui um novo folgo ao superar a forma escolar e a organização escolar.
Da administração chegavam apelos para o envolvimento de todos os professores no projecto de trabalho e definiam-se metas e prazos impraticáveis. Estranhamente, ninguém pareceu surpreendido e até foi considerado normal que os discursos não fizessem eco nas escolas situadas.
Passou um ano. Sentámo-nos frente a frente e partilhámos experiências, decepções e inovações. Saímos desapontados. A escola recusa mudar. Paradoxalmente, a administração não a quer ver mudar. Faltou o planeamento, faltou uma visão de médio e longo prazo, faltaram os meios, faltou a mobilização. É certo que o caminho se faz caminhando mas um caminho sem gente de nada serve. Faltou o envolvimento, faltou partilhar o sentido da mudança.
Como diz o Rui Canário e eu acredito: “a inovação sob tutela corresponde a um paradoxo, que é o de pretender que as escolas e os professores sejam ensinados a ser criativos e autónomos, o que é, obviamente, uma impossibilidade.”
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