Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência
que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!
António Aleixo
[Obrigado amigo por este pensamento do quotidiano.]
Há dias assim. Olhando para o quadro desenhado pelo actual governo na frente de batalha com os professores, não consigo evitar um certo ar de espanto motivado pela ingenuidade da acção política.
A minha visão idílica da política obriga-me a pensar que os políticos, os nossos legítimos representantes, se movem perseguindo o bem comum. Nesta caminhada, é necessário agir com coragem para desafiar interesses corporativos discricionários e, simultaneamente, possuir alguma capacidade de persuasão para aclarar aos actores implicados a justeza das medidas.
Se a guerra aberta declarada pelo ME aos professores patenteia coragem denota uma tendência autista que não trará vencedores.
Em primeiro lugar perderão os alunos e as famílias directamente afectados assim como os alunos e famílias das gerações vindouras. No curto prazo, o clima hostil que envolve a realização dos exames nacionais produzirá efeitos nefastos nos alunos influenciando negativamente a sua prestação. No médio e longo prazo, os prejuízos reflectem, essencialmente, efeitos colaterais sobre os professores.
Em segundo lugar perderão os professores. Além das pretensas regalias sociais que estão em jogo, os professores verão o seu estatuto social degradar-se, paulatinamente, pelo desgaste da imagem junto da opinião pública. Ao esmorecer o entusiasmo, como se de um instinto se tratasse, os professores resistirão às mudanças insidiosas e, malogradamente, às benignas. Antecipo uma espécie de efeito de dominó, a agravar ainda mais, a credibilidade da profissão na opinião pública.
Em terceiro lugar perderão os políticos envolvidos neste processo, e a classe política em geral porque confundem problemas conjunturais com problemas estruturais. Isto é, para resolver um problema económico conjuntural, de difícil resolução é certo, acabam por criar um problema estrutural - a colocação do professor no lugar do morto.
Quem é que pagará a factura?
A resposta é óbvia: os alunos, os cidadãos, o país.
Regresso de novo ao ponto de partida: à questão da ingenuidade da acção política.
Como sou um sonhador ainda acredito no diálogo. Reparem como este vocábulo foi abolido da terminologia política. O afastamento deste termo do léxico político coincidiu com a saída de cena do Eng. Guterres. Dialogar ficou em desuso sendo considerado, por muitos, uma prova de fragilidade e de inacção.
Ora, é de diálogo que se trata. Ao contrário do que possa parecer não se trata de explicar ao eleitorado que existe coragem política para enfrentar as corporações e que é preciso atacar um conjunto de energúmenos que sonegam os nossos impostos. Trata-se de explicar aos interessados de que forma é que o esforço que lhes é exigido resolverá o problema da educação.
E é neste plano que importará discutir, dialogar com os professores e com os seus representantes, demonstrar através do poder da argumentação. Se há um problema de equidade é preciso que os professores entendam que é disso que se trata.
Por tudo isto, só posso ficar incrédulo com a dimensão da ingenuidade!
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