6 de fevereiro de 2005

"outcomes" e avaliação.

Nos últimos meses tenho participado numa série de fóruns da educação sem contar com as discussões mais ou menos acaloradas da blogoEsfera. Motivado por uma pós-graduação em Administração Escolar, animado pelo [forçado] acompanhamento da reorganização curricular [na qualidade de director de um curso tecnológico], não me têm faltado oportunidades para tomar o pulso às inovações e aos problemas que afligem o sector.
Tendo em conta as experiências decorrentes dos referidos encontros percebi, sem surpresa, que a escola não tem reagido ao processo Bolonha. Dito de outra forma, para a escola o processo de Bolonha não existe. Creio que este processo tem sido acompanhado à distância pelos professores do básico e secundário porque não vislumbram efeitos imediatos sobre estes níveis de ensino. Encontro uma explicação para esta atitude defensiva dos professores: A meu ver, a intensificação e a burocratização do trabalho docente têm empobrecido a dinâmica de discussão na escola reduzindo o professor à categoria de operário da obra educativa [Manuel Ferreira Patrício considera que a educação necessita, cada vez mais, de engenheiros que pensem o edifício educativo]. Por outro lado, a reflexão sobre os problemas que afectam directamente o ensino não encontra espaço ou oportunidade na escola actual, preocupada, isso sim, com os problemas circunstanciais. Não generalizando a partir da minha experiência pessoal, o que eu digo é que bastará analisar a forma como acrescem as tarefas burocráticas no tempo do professor para percebermos que o sistema educativo não deseja um professor autor.

Dito isto, o assunto dos “outcomes” [este termo já o vi referenciado em dois blogues, no Que Universidade e no Professorices, e creio que se refere aos resultados de aprendizagem de cada disciplina ou curso] no Básico e Secundário não tem sido assunto. Eu explico. Como foi referido num dos comentários anteriores, o trabalho de análise que ultrapassa as fronteiras da sala de aula e do grupo/departamento disciplinar não compensa, não é desejado, é evitado. Porquê? Porque um professor operário não tem de pensar a educação, tem de transmitir conhecimentos, executar os programas. Está mais habituado a observar os resultados do ensino do que a procurar as dificuldades de aprendizagem. Bom, mas não sendo um trabalho para o professor, alguém, dentro da escola, terá prestar contas pela qualidade das aprendizagens. O órgão de gestão [por exemplo] e, em alguns casos, as equipas de trabalho nomeadas por si ou cooptadas no conselho pedagógico [constituídas por uns quantos professores, estes sim, “pensantes”] terão de procurar os factores que obstruem as aprendizagens, sabendo desde logo que uma boa parte deles se encontram fora da escola. Chegamos ao modelo de gestão, ao projecto de gestão escolar. Como uma pescadinha de rabo na boca, da gestão escolar chegamos à gestão das aprendizagens e encontramo-nos numa sala de aula ou numa sala de recursos. Há que motivar os professores fazendo-os participar na construção de um projecto educativo, para depois envolver os alunos na construção do seu conhecimento.
Parecendo óbvio, não tem sido exequível.

Uma nota relativa ao comentário de PJ.
Concordo com a ideia de que a avaliação terá de fazer parte de um projecto educativo e de gestão. Os projectos de escola devem ser traduzidos em plano operacionais que concretizam objectivos e estratégias do projecto. Estes planos seguem uma estrutura normal de planificação: definem objectivos, programam actividades, identificam e afectam os meios, executam as actividades e controlam os resultados [em alguns casos admito a necessidade de uma auditoria externa].
Parecendo óbvio, não tem sido exequível.

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