Acabo de reler um livro cujo título não podia ser mais apelativo face às mudanças no sistema de ensino. «Por que é que vale a pena lutar?»1 é uma obra de Andy Hargreaves e Michael Fullan que tem por tema o modo como podemos transformar as escolas em locais mais atractivos e gratificantes e aborda as formas de introduzir alterações significativas na vida quotidiana e na experiência de cada vez mais docentes, directores de escolas e alunos. Por que é que vale a pena lutar(?) interroga-se o professor que diariamente testa as suas capacidades de adaptação e de resiliência quando confrontado com a degradação das condições em que desempenha o seu trabalho. Por que é que vale a pena lutar(?) é uma questão que poderia muito bem ser colocada por aqueles que actuam em contextos geradores de sentimentos de impotência e de auto-depreciação. Por que é que vale a pena lutar?
Recusando uma atitude de auto-complacência, direi que vale a pena lutar porque é possível criar ambientes positivos nas escolas face aos factores de mudança da função docente. A minha sugestão passa por colocar o ónus inicial da acção nas mãos dos professores e dos directores e exercer maior pressão sobre aqueles que se situam fora da escola no sentido de também eles agirem. Parte-se da premissa de que, em última instância, são os docentes e os responsáveis pelas escolas que devem fazer com que isso aconteça. Atente-se às recentes iniciativas, algumas das quais já divulgadas no Correio da Educação e no Terrear, suscitadas pelo desacerto da administração na implementação do modelo de avaliação do desempenho docente. Congratulo-me pelo sincronismo dos vários actores educativos que, na escola situada ou fora dela, persistem na afirmação de um profissionalismo interactivo.
Lutar em circunstâncias difíceis é um desafio extenuante. Mesmo para os mais entusiastas e enérgicos há batalhas que deixam marcas sobre a motivação do docente. Eis, uma vez mais, a pergunta: Por que é que vale a pena lutar? Será um esforço inglório? Depende de cada um de nós! Mas estou certo de que suportamos melhor a exaustão que advém do trabalho duro enquanto membro de uma equipa do que a exaustão que decorre de batalhas solitárias e dos esforços não reconhecidos. O primeiro tipo de cansaço é vencido com uma noite de sono enquanto o segundo deixa marcas mais profundas e duradoiras.
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1 FULLAN, M.; HARGREAVES A. (2001). Por que é que vale a pena lutar – O trabalho de equipa na escola. Porto Editora. Porto.
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