14 de dezembro de 2007

Uma “nova” missão? Não, obrigado!

A RESOLUÇÃO DO PARLAMENTO EUROPEU, publicada em 30 de Outubro do corrente ano, apresenta um conjunto de medidas a tomar pelos organismos responsáveis, quer a nível europeu, quer a nível dos Estados-Membros, a fim de melhorar(?) o papel do desporto na educação. Esta resolução visa: em primeiro lugar, responder aos problemas associados à inactividade física e à obesidade, duas grandes ameaças à saúde pública neste início de século; e em segundo lugar, apesar de recorrer a uma cartilha marcadamente higienicista ou sanitária, apelar à intervenção do desporto, na sua dimensão pedagógica e educativa, para promover a integração e a coesão social. No fundo, o que está em jogo é a atribuição de uma “nova” missão à Escola - a reabilitação do cidadão e a regeneração do mosaico social.

A Escola (e por maioria de razão a educação física) não deve ter a responsabilidade inteira pela saúde individual e colectiva, embora possa e deva contribuir para o desenvolvimento de uma parte das dimensões que o conceito alberga. A Escola pode muito mas não pode tudo. Advogo, por essa razão, a implicação de vários actores neste desiderato:
  • o Governo deve fazer políticas que libertem a Escola das missões que a sufocam; há que fazer recentrar a Escola no seu principal papel – a transmissão de conhecimentos e saberes, habilidades e capacidades, através do ensino sistemático e a oferta organizada e estruturada de aprendizagens fundamentais nos domínios científicos, tecnológicos e culturais que estão na base das disciplinas curriculares;
  • o Ministério da Educação aceitar o princípio de que o horário escolar inclua, pelo menos, três aulas de educação física por semana, embora as escolas devam, na medida do possível, ser incentivadas a ultrapassar este objectivo mínimo (e como a Escola não quer demitir-se da sua participação na saúde, convém recordar que os estudos realizados recomendam que as crianças e os adolescentes pratiquem diariamente algum tipo de exercício físico durante 60 minutos!);
  • os autores dos programas de educação física devem ser sensíveis à pluralidade de sentidos que encerram as práticas e experiências desportivas;
  • os professores de educação física devem “desconstruir” os programas oficiais fomentando as múltiplas formas do desporto plural;
  • as famílias devem procurar recuperar o poder de influenciar positivamente a educação dos seus filhos, particularmente, na aquisição de hábitos alimentares saudáveis.
A educação é um empreendimento demasiado amplo que pode e deve ser partilhado e assumido por outras instâncias.

PS: No blogue http://desportoemcontraste.blogspot.com há outros olhares sobre este tema.

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