12 de novembro de 2007

Um outro olhar para o problema do desemprego

Criação insuficiente de emprego qualificado gera desqualificação e desemprego crescente entre os de maior escolaridade. [Por Eugénio Rosa*]

“ [...] Entre 2005 e 2007, a população empregada com o ensino básico ou menos passou de 72,2% para 70,6%, portanto diminuiu em -1,6 pontos percentuais (-65,3 mil), e a população empregada com o ensino secundário aumentou em 0,8 pontos percentuais pois passou de 14,4% para 15,2% (+42,1 mil) e a com o ensino superior cresceu também 0,8 pontos percentuais ( 45,7 mil).

No entanto, apesar do nível de escolaridade da população empregada ter aumentado nos dois últimos anos, o número de postos de trabalhadores relativos a profissões que podemos considerar como de "qualificação mais elevada" (quadros superiores, especialistas de profissões intelectuais e cientificas, e técnicos profissionais de nível intermédio) diminuiu em 115,9 mil. Pelo contrário, durante o mesmo período, o número de postos de trabalho relativos a profissões que podemos designar como de "qualificação média" aumentou em 59,7 mil, e os com "qualificação mais baixa " cresceram em 72,1 mil. Para além disso, em 2006, o salário médio do grupo de "qualificação média" representava 48% do salário médio do grupo de "qualificação elevada", e o salário médio do grupo "qualificação mais baixa" representava apenas 40,9% do salário médio do de "qualificação mais elevada", o que mostra que existe uma grande correlação positiva entre os grupos de qualificação considerados e salários médios e graves desigualdades.

A conclusão que se tira dos dados anteriores – destruição de emprego qualificado que é substituído por emprego menos qualificado e de salários mais baixos – é ainda reforçada pelo facto de serem precisamente as empresas com 49 e menos trabalhadores que criaram emprego, pois nas empresas com 50 ou mais trabalhadores verificou-se uma destruição líquida de emprego que é tanto maior quanto maior é a dimensão da empresa. Em 2005, nas empresas com 50 e até 249 trabalhadores verificou-se uma quebra de -0,3% no emprego e, nas empresas com mais de 249 trabalhadores, a redução do emprego atingiu -5,2%. Tendo presente estes dados oficiais, é mais fácil compreender porque razão a criação de emprego que se tem verificado em Portugal é fundamentalmente pouco qualificado pois é feita por micro e pequenas empresas .

Por outro lado, entre o 2º Trimestre de 2005 e o 2º Trimestre de 2007, o desemprego total aumentou 10,3% mas o desemprego com nível de escolaridade superior cresceu em 63,3%, ou seja, seis vezes mais. É evidente por estes números que a economia portuguesa não está a criar postos de trabalho qualificados suficientes para absorver os desempregados de escolaridade mais elevada. O mesmo sucede em relação aos desempregados com o ensino secundário cujo desemprego cresceu, entre 2005 e 2007, 15,1%, ou seja, 3,6 vezes mais do que o aumento percentual verificado no desemprego com o "ensino básico ou menos". Afirmar, como fez o ministro do Trabalho, durante o debate parlamentar, que escolaridade mais elevada corresponde a emprego mais qualificado, e que o problema da economia portuguesa é apenas a insuficiência de trabalhadores mais qualificados entendido como tendo escolaridade mais elevada, é não compreender como funciona a economia, em que não se está a verificar actualmente uma criação elevada de empregos qualificados, o que está a determinar que muitos trabalhadores com escolaridade e mesmo com qualificações elevadas sejam obrigados ou a realizar trabalhos poucos qualificados ou a ficarem no desemprego.” [Ler o estudo aqui]
*Economista

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