“O influente ordinariamente é proprietário; (...) Na véspera de eleições todos o vêem montado na sua mula, pelos caminhos das freguesias, ou, nos dias de mercado, misturado entre os grupos: fala, gesticula, grita, tem pragas e anedotas. Dispõe de 200 ou 300 votos: são os seus criados de lavoura, os seus devedores, os seus empreiteiros, aqueles a quem livrou os filhos do recrutamento, a bolsa do aumento de décima, ou o corpo da cadeia. A autoridade acaricia o influente, passa-lhe a mão por cima do ombro, fala-lhe vagamente no hábito de Cristo. Tudo o que ele pede é satisfeito, tudo o que ele lembra é realizado. As leis curvam-se, ou afastam-se para ele passar. As suas fazendas não são colectadas à justa: é o influente! Os criminosos por quem ele pede são absolvidos: é o influente! (…)*Eça de Queiroz
Quando o deputado proposto pelo governo é da localidade, o processo de acção é o mesmo; somente em lugar de ser unicamente realizado pela autoridade, é-o de acordo com o deputado: é disto que se diz: o governo protege-lhe a eleição. Isto é – auxilia com a pressão e corrupção que exercem as suas autoridades oficialmente, a pressão e corrupção, que o deputado (proprietário, ricaço, agiota) exerce particularmente.
Fazer aqui a enumeração das vergonhas, misérias, torpezas, vexações de uma eleição – isso, leitores honestos – estaria muito acima da vossa paciência –, se não estivesse muito abaixo da nossa dignidade!” (pp. 61-62)
24 de agosto de 2007
O influente*
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