28 de março de 2007

Face da inverdade…

A reforma do ensino secundário criou uma nova figura para os cursos tecnológicos: o director de curso. Entre o director de curso e o director de turma há uma cumplicidade funcional embora um e outro orientem a sua atenção para horizontes distintos: ao director de turma está reservada a responsabilidade da ligação entre a escola e a família; ao director de curso está reservada a articulação curricular (possível) e um conjunto de acções, nomeadamente, a procura de condições mínimas para o funcionamento do curso e a preparação de parcerias com empresas locais e instituições públicas ou privadas para o acolhimento de estagiários no final de ciclo.

Isto para dizer que nos últimos três anos lectivos, uma parte substancial do meu tempo de trabalho foi gasto com a função de director de curso. Recordo que promovi diversas reuniões de trabalho com os alunos, encarregados de educação e professores para aclarar o quadro normativo e apelar à participação entusiasta de cada um dos actores no desenvolvimento do curso e mais importante ainda, empenhei-me na criação de condições que suscitassem o desenvolvimento pessoal dos alunos [perguntar-me-ão pelas diferenças entre os cursos tecnológicos e os cursos orientados para o prosseguimento de estudos (eu sei que agora não se designam assim) e eu responderei que ambos perseguem objectivos comuns… mas não é assunto para ser tratado agora].

Durante este tempo, disse e desdisse por diversas vezes. Por motivos que me foram alheios, lancei alertas para mudanças de orientação e para alterações tardias das regras do jogo. Não é fácil discernir se essas contradições afectaram ou não a minha credibilidade aos olhos dos alunos, dos pais e dos meus pares.
É óbvio que são livres de pensar que o que denuncio é um acto mesquinho, umbiguista. Cada um utilizará a lente que lhe convier. Eu sou livre de pensar que mereço respeito e solidariedade da tutela. Nessas reuniões fui a face do ME. Não me satisfaz o facto de ter cumprido um dever. Sinto-me traído quando me fazem mensageiro da inverdade. E não me sinto mais confortável porque não sou o único numa multidão de directores de curso. Também não me alegra o facto de saber que as alterações às regras do jogo depois do jogo se ter iniciado vieram a beneficiar, presumivelmente, os alunos. É do conhecimento geral que um professor não define políticas, concretiza-as. E daí?

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