20 de julho de 2006

Balanço…

O debate que resultou da apresentação da proposta de alteração do ECD foi enformado por uma visão maniqueísta que confundiu mais do que aclarou a opinião pública. De um lado estiveram os professores que reagiram à situação de “mal-estar” provocada pela introdução de medidas que intensificaram ainda mais o seu trabalho. A expressão do descontentamento docente foi tão veemente que acabou por resultar em manifestações entendidas como reacções corporativas de resistência à mudança. Do outro lado estiveram os pais e o ME que sentiram necessidade de apelar ao propósito moral dos professores [que devem colocar o interesse dos alunos – o bem-estar intelectual e moral - em primeiro lugar] para garantir a execução da função de custódia da escola. A discussão foi reduzida e empobrecida.

Foi neste quadro analítico que se desenvolveu a recente discussão em torno do ECD. O professorado não foi capaz de alterar o quadro de referência em que se desenvolveu a discussão; os pais e o ME não se mostraram interessados em fugir desse quadro por “oportunismo conjuntural”.

Num momento em que a escola enfrenta um défice de legitimidade que resulta do desfasamento entre as expectativas sociais depositadas na escola e as possibilidades da sua concretização [observemos o clima que envolve a realização dos exames nacionais], há que pensar estrategicamente e recentrar a discussão no que é essencial: há que problematizar a escola que desejamos para o futuro.

Impõem-se por isso três frentes de discussão:
1. A introdução dos cursos profissionalizantes na escola ameaça ou não a construção de uma escola onde se aprende pelo trabalho e não para o trabalho?
2. Como tornar a escola um local em que se estimula o gosto pelo acto intelectual de aprender, cuja importância decorre do seu valor de intervir no mundo e não dos benefícios materiais que daí decorrem?
3. Como é que a escola promove o gosto pela política e estimula a expressão de uma cidadania participada?

Adenda: Não fiquei surpreendido com a paupérrima prestação da ministra no parlamento até porque nada levaria a crer que a argumentação sofresse um revés no dia da discussão parlamentar. O que me deixou atónito foi a forma como o governo geriu este caso. Não sei o que pensar: Foi um problema de inabilidade ou de vontade?

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