21 de julho de 2006

Ao avesso…

[…] Os tipos de agora não têm tempo. Em lugar de irem estudar para o café, para a biblioteca, para casa, na cama, na mesa, ou no sofá - ao seu ritmo, a melhor triagem é esta, a do ritmo, sabiam? - , ficam na escola a ter "estudo acompanhado" e "actividades".
Nunca estão sós.
Nunca podem escolher estarem sós, sem terem falta. Não conseguem, assim, conhecer o seu ritmo, o seu pulsar, o seu sentir. Estão sempre em manada. Cheios de vontade de sairem dali, mas cada vez mais presos a programas de sucesso que lhes fizeram, pelas costas, para depois lhos espetarem, como facas, no peito ainda virgem.

Eu não gosto disso. Falta-lhes tempo para amadurecerem sozinhos - no tempo escasso que também lhes falta - o que vem nos livros e escutam nas aulas. Que, depois de lerem - ouvirem -, deviam pensar sós; ou com quem escolhessem.

E, bem vistas as coisas, falta-lhes tempo para quase tudo: arranjaram agora uma espécie de gestores do tempo, que não são bem relógios de pulso, um por cada pessoa, mas que são ainda piores. Orientam tudo (e sempre mal), porque complicam: não passam de ponteiros luminosos em relógios atrasados, de feira franca, mas cuidam ser de marca.

besugo
Caro besugo

Percebo pouco de quase nada. Desse mísero conhecimento, uma parte dele chega-me por via de gente que, tal como eu, evita as mezinhas. Das poucas coisas que julgo perceber, a educação é aquela que me ocupa mais tempo, profissional e não só. Sou daqueles que direccionam o tempo livre para ler e estudar coisas que se supõem necessárias para o trabalho. Enfim, um exemplo que não se aconselha a ninguém. Isto só para dizer que hoje encontrei no seu blogue algo que só pode ser escrito por gente despegada de qualquer sobranceria. Por isso, suspeito que não podia vir de um ministro e respectivos acólitos, de encarregados de educação acéfalos ou de professores obstinados [como eu, acrescento agora]. O que encontrei foi uma prescrição simples e que decorre do bom-senso: O sistema educativo estupidificou-se ao coarctar o tempo livre dos sujeitos que o frequentam.
O óbvio parece escapar aos olhares dos pseudo entendidos. Parabéns.

Miguel

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