Parece-me evidente que o meu olhar tem andado orientado para as questões da organização, da forma e da instituição escolar; das políticas; dos discursos; da comunicação social; dos sentidos da educação. A ideia que passa [mas será que passa?] é que tudo isto parece um olhar estrábico centrado em questões acessórias. Confesso que só não fico incomodado por ver imergir a ideia de desviar o meu olhar do elemento central [criança ou jovem] do acto educativo [ao invés de procurar gastar aí as minhas energias] porque encontro aconchego na crença de que só burilando as lentes que me permitem ver o mundo “distante” é que posso ambicionar ver o mundo que me é “próximo”. E como só vemos o que os nossos conhecimentos permitem, há que aprimorar todos os instrumentos de análise, todas as lentes.
Dizia eu que não tenho dedicado muito tempo, neste espaço público, ao contexto educativo. Porém, é nesse espaço que tudo se concentra. É na interacção com o sujeito que o professor consubstancia a sua actividade. E a eficácia da interacção decorre da capacidade de ler a acção educativa, de a interpretar, de lhe dar valor, de a desconstruir.
Evoco uma actividade concreta como elemento de uma realidade situada. Trago aqui uma história que me tem absorvido: A preparação de uma actividade de referência para o percurso de um conjunto de alunos. Refiro-me concretamente a uma apresentação de um trabalho colectivo que tem envolvido onze alunos de uma turma de um curso tecnológico, durante 8 horas por semana, ao longo de dois períodos lectivos.
Nesta actividade, da qual resultará um produto, têm sido testadas competências de organização, conhecimentos, atitudes e capacidades. A apresentação do trabalho à comunidade educativa [alunos, pais, professores, comunicação social local, autarcas, representantes associativos,…] é a apresentação de um produto que se deseja de qualidade, que faça transparecer esforço, dedicação, entusiasmo e solidariedade. A qualidade desse produto deverá reflectir a qualidade do processo. Mas, por que razão me preocupo tanto com o processo? Destaco duas razões, uma de natureza ética e outra de natureza filosófica: Para ter a certeza que não vendemos gato por lebre, isto é, para poder garantir que o produto não é uma embalagem, uma marca e um acto efémero; Para dotar de autonomia os produtores!
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