10 de janeiro de 2005

Partilha de experiências pessoais.

Dizia numa entrada já esquecida [foi escrita em Novembro] que o delineamento das estratégias que “seguram” a atenção dos alunos para a actividade escolar consome uma boa parte do meu tempo de preparação.
Aproveitando um comentário que sugeria a exemplificação e a tipificação [se bem entendi] das actividades e as estratégias utilizadas para o efeito, refugiei-me na especificidade e natureza da minha disciplina para expor algumas das minhas preocupações relativas ao processo de ensino. Creio que o pudor e a ausência de coragem suscitou uma fuga ao cerne da questão. Não mudei muito desde então. Continuo com dificuldades em partilhar as minhas experiências de ensino em público pelas razões que enunciei anteriormente. No entanto, e aqui concordo com MJMatos, perante a ausência de processos de divulgação e partilha das experiências pessoais, os professores terão de evitar o isolamento a bem da sua sanidade e desenvolvimento profissional [estas últimas palavras já são minhas]. Por outro lado, se reivindico o abandono da escola tradicional porque não serve os interesses do aluno, então terei o dever de propor alternativas [quando as vislumbro] se verificar uma brecha na escola bolorenta.

A escola situada é um estabelecimento de ensino [tradicional] com a seguinte organização do espaço: as salas de aula [também elas tradicionais] são os espaços nobres, os recreios, o bloco administrativo, e o pavilhão gimnodesportivo os espaços subalternos [implícitos]. Também existe uma biblioteca, um centro de recursos multimédia, um auditório e inúmeras salas de informática. A organização do tempo escolar mantém a aula de noventa minutos como unidade de base. Os alunos encontram-se agrupados em turmas de, aproximadamente, vinte e sete alunos. Disponho dos programas e dos manuais escolares.
As características deste modelo de organização que traduzem determinadas formas de relação com o saber e com o poder associam-se à natureza da informação e ao tratamento dessa informação. É a lógica da repetição das informações [oriundas do exterior através dos programas, manuais e do professor] pelo aluno enquanto processo de aprendizagem e forma de provar ao professor que aprendeu [processo de avaliação]. Parece-me claro que esta forma de relação com o saber desvaloriza os saberes, as experiências e os interesses dos alunos e as características dos contextos de aprendizagem. O sistema busca a uniformidade que está associada à lógica da repetição da informação.
O que é que foi proposto ao órgão de gestão?
A utilização do centro de recursos como principal fonte de informação [as salas de informática como alternativa]. Havia que relativizar a utilização dos manuais e o protagonismo do professor como fontes exclusivas de informação.
A colocação das disciplinas da área tecnológica do curso de forma sequencial [uma tarde ou uma manhã] para facilitar a alteração da grelha horária. Havia que respeitar a lógica do trabalho de projecto que marca o curso e assegurar que a realização de algumas das situações de aprendizagem no exterior da escola não comprometessem a presença dos alunos às restantes disciplinas que fazem parte do plano de estudos.
Como pretendia alternar os momentos de informação em plenário com os momentos de trabalho individual e de pequenos grupos, a turma foi reconfigurada embora se mantivesse inalterada como “figura” administrativa.

Bom, e as estratégias?
É neste processo, centrado numa lógica de pesquisa em que aquele que aprende caminha [de forma autónoma] em direcção ao conhecimento, que me perco e que entrego grande parte do meu tempo de preparação.

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