Dizia num post mais em baixo que o delineamento das estratégias que “seguram” a atenção dos alunos para a actividade escolar consome uma boa parte do meu tempo de preparação. Enfatizava nesse pequeno desabafo, a recusa de uma pretensa neutralidade na relação sócio-afectiva. MJMatos reclama [e bem] a concretização da ideia, e sugere que exemplifique as estratégias que uso.
Este desafio, aparentemente simples, coloca-me alguns embaraços porque me obrigará a falar na primeira pessoa. Ora, aqui está uma boa oportunidade para descobrir alguns dogmas, porventura disfarçados.
Sou um professor permanentemente insatisfeito com o meu desempenho, vejo hiatos de formação por resolver, ferramentas de ensino por burilar, sinto mais necessidade de aprender do que ensinar [e para ser ainda mais claro: apreendo mais quando ensino – grande chavão]. Nunca me senti constrangido por abrir brechas na [caverna,] sala de aula ou actividades que partilho com os alunos. Creio mesmo que será esse o caminho que ainda falta desobstruir na Escola: A partilha das experiências contextualizadas [os conselhos de turma mais aligeirados de tarefas administrativas seriam óptimos espaços de promoção da interdisciplinaridade]. Esta “aparente” abertura dever-se-á às características do espaço físico da aula [a sala onde desenvolvo a acção educativa é aberta, literalmente aberta, presenciada por todos e por ninguém] e à especificidade da área disciplinar que lecciono [que não perdoa as incongruências entre o discurso e a prática].
É a singularidade do aluno que ordena a lógica da acção educativa e que configura qualquer estratégia que vise orientar a atenção do aluno para a tarefa. E um aluno que não se oriente para a tarefa ou que se oriente exclusivamente para o resultado terá mais dificuldades em lidar com o insucesso. Ora, todo o trabalho do professor ficará comprometido se ele não resultar de um conhecimento dos problemas, necessidades e expectativas dos alunos. Atrevo-me a considerar ser esta a chave do problema: Procurar conhecer o aluno em todas as suas dimensões. É através deste processo dinâmico, testado diariamente, que vou reformulando a oferta das actividades educativas, sabendo que não poderei negligenciar a influência das decisões dirigidas para a gestão de conflitos.
Levantando a cabeça para deixar de olhar para o umbigo e alargando a lente da análise direi que a ditadura da execução dos programas oficiais tem gerado efeitos perversos no sistema educativo. Ai do professor que se atreva a não cumprir o dito cujo. Mas o que me preocupa no frenesim gerado em torno do cumprimento dos programas é que ele serve de álibi para suscitar no aluno o ónus da culpa quando não for capaz de conciliar o seu ritmo de aprendizagem com o ritmo de abordagem à matéria de ensino. As disciplinas que lecciono não são contempladas com um exame nacional: A Educação Física, Organização e Desenvolvimento Desportivo, Práticas Desportivas Recreativas estão [para já] imunes a essa praga. Mas seria diferente se fossem objecto de avaliação sumativa externa?
Creio que não. Através de um conceito lato de programa podemos encará-lo como simples indicação/orientação de conteúdos que não têm de ser formatados pelo espartilho dos exames.
Ora, vejam lá onde acabou a conversa.
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