"Acredita-se comumente que a carga obriga a escravidão. Indianos esmagados sob o peso da juta ou chineses arqueados sob o palanquim, vocês já transportaram alguma vez? Perdemos o porte." (Michel Serres)
Menosprezei a capacidade de antecipação e de previsão dos promotores da Manifestação Regional na cidade do Porto. Protestei aqui pelo espaço encontrado para concretizar a iniciativa porque, de facto, a Praça D. João I seria sempre um espaço exíguo face aos motivos da contestação. Quis acreditar que os professores persistiriam na luta de forma genuína. Deixei-me alienar por um optimismo que era justificado pela retórica de resistência que escutei da boca de muitos professores e que, malogradamente, tem sido contradito pelas suas próprias práticas.
Os resquícios do Memorando de Entendimento entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical dos Professores demonstram que bastou uma brecha no cerco imposto pelos professores ao ME para que emergisse a faceta paroquialista dos professores. É o regresso às questiúnculas da escola situada e à “vidinha” rotineira: o umbigo é, afinal, a nossa mundividência. A indignação metamorfoseou-se de acomodação. Que esta nobre capacidade de adaptação, que tanto nos pode levar ao céu como ao inferno da humanidade, não nos faça perder o porte.
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