Gostei do discurso do Presidente da República. Gostei do tema, gostei das mensagens, directas e subliminares, gostei do desafio global, gostei do acto de contrição.
- E começo pelo fim: o discurso foi uma mea culpa pelo fracasso das suas políticas educativas, o que não lhe fica nada mal. Como chefe do governo, o professor Cavaco teve uma oportunidade única, no seu primeiro mandato, de mudança substantiva do sistema educativo. Não foi capaz de aproveitar o potencial criador da comissão de reforma do sistema educativo, ignorando os contributos do grupo de trabalho responsável pela criação da escola cultural. Foi uma pena não ter percebido que Manuel Ferreira Patrício era o homem certo para a mudança.
- Gostei do desafio à sociedade civil: ninguém se pode desresponsabilizar pelos resultados educativos. A escola não pode ficar com o ónus da culpa pelos défices educativos. Sem a assunção das obrigações educativas, sem o envolvimento das comunidades na resolução dos problemas da escola situada, ninguém deve ousar assumir qualquer responsabilidade na definição das políticas educativas locais. Este recado é claro e tem como destinatários os autarcas, os representantes dos interesses económicos e culturais, e os encarregados de educação. A escola deve continuar a ser neutra, diz muito bem o Presidente. Impõe-se, por isso, o fim das políticas de teor neoliberal que desqualificam a escola pública.
- Gostei das mensagens directas e subliminares ao governo e aos professores: exortar os professores a manterem a dignidade na função é condição necessária para que a classe agregue apoios e conquiste a simpatia da população ;) o silêncio sobre o papel do governo na recuperação do prestígio da função docente pode ser entendido como um voto de censura tardio (ou já se esqueceram que o Presidente foi conivente com o Governo ao promulgar, sem reservas, o ECD?).
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