"[...] A ministra da Educação defende assim uma acção reformadora que reforce as escolas em quatro planos: autonomia e capacidade de gestão na base de uma avaliação exigente do seu desempenho; qualificação, competência e exigência na selecção, recrutamento e avaliação dos professores; modernização das escolas e dos recursos educativos, no quadro de um novo ciclo de fundos comunitários; e abertura total das escolas, aprofundando a sua inserção na comunidade local."[O sublinhado é meu]"A autoridade, o poder e a desqualificação dos professores
O contexto da sociedade portuguesa e a correlata discussão política sobre o seu desenvolvimento têm trazido a educação, de uma forma muito visível, para o centro de um debate que, sendo muito mais que pedagógico, tem repercussões no campo da pedagogia e da filosofia da educação. Contudo, esta visibilidade pública, a bem da própria discussão, não pode esgotar-se em dicotomias mais ou menos simplistas: filhos de Rousseau versus filhos de Locke, pedagogia não directiva versus pedagogia do esforço, etc.. O que se ganharia em facilidade perder-se-ia em subtileza e profundidade.
Assim, e pensando no campo da profissionalidade dos professores e respectiva identidade, não nos deixa de surgir como inquietante o facto de, por exemplo, no contexto da recente discussão sobre os projectos de lei sobre a disciplina e sobre a autonomia das escolas, a questão da autoridade e do poder não ter sido ligada àquela outra mais ampla - e de que estas são porventura apenas parte: a da qualificação dos professores ou a da sua desqualificação. Esta questão, efectivamente, parece-nos articular e articular-se com uma lógica sociológica, que é mais ampla do que a Escola, e com outra que se vem desenvolvendo no interior do próprio campo educativo. A primeira, tem a ver com o cada vez maior protagonismo da nova classe média portuguesa, e a segunda com a substituição, no âmbito da pedagogia, da formação pela performance. Estas lógicas encontram-se e desenvolvem articulações que as tomam, por assim dizer, tão evidentes que acabam por legitimar um senso comum que parece estar a unir, num único clamor, mass media, professores, intelectuais, etc., contra a escola e a pedagogia pós-rousseauiana.
A lógica sociológica. Pela primeira vez em Portugal à classe média é dada a possibilidade de elaborar e de remeter mandatos políticos para os diferentes subsistemas sociais.
No caso da educação, este mandato surge sob a forma uma nova meritocracia: o sistema educativo deverá seleccionar os melhores, os mais preparados e investir sobretudo no desempenho destes, nomeada e principalmente no ensino secundário. Todavia, e por outro lado, os professores, e a sociedade portuguesa em geral, ainda não interiorizaram a "escola para todos", falando muitos professores acerca de níveis de exigência, de atitudes e de comportamentos que, sendo os dos seus filhos e dos filhos dos outros professores, não são de modo nenhum os dos alunos que realmente têm.
A massificação do ensino é o contexto desta miopia pedagógica: pensar o processo de ensino-aprendizagem para alunos que não são aqueles com que efectivamente se defrontam nas salas de aula. Desse modo, no próprio seio dos professores, lança-se a primeira pedra da sua desqualificação: "assim não é possível ensinar", "o nível baixa", "não sei o que é que hei-de fazer...", "de ano para ano é cada vez pior...", etc. É neste senso comum que discursos como o de Filomena Mónica encontram eco, começando a desqualificação dos professores, pois, quando estes, nos seus discursos profissionais, desqualificam os seus alunos.” *[Magalhães, Stoer, 1998, pp. 37-39] [O sublinhado é meu]
[cont.]
Sem comentários:
Enviar um comentário