4 de junho de 2006

Uma questão de fé…

A proposta do ME foi reduzida a uma proposta de avaliação do desempenho pela comunicação social e pelos sindicatos de professores, por razões diversas e que não vou aqui aprofundar. O que está em jogo com uma proposta deste tipo é muito mais do que isso: É uma ideia de escola que está implícita neste documento e que não foi ampla e suficientemente debatida. A meu ver, a metodologia adoptada pelo ME para introduzir este debate é errada na medida em que não se pode escolher o perfil de professor para uma escola que não se conhece. Mas, não é só uma questão metodológica que me faz divergir da acção do ME. Desagrada-me a ambiguidade do discurso dos actuais inquilinos do ME, que fazem passar para a opinião pública a ideia de que são necessárias novas missões para a escola sem que se defina uma estratégia global [envolvendo outros ministérios] para atacar de forma integrada os diversos problemas educativos. As novas missões são remetidas à escola como quem endereça postais de Natal [cf. discurso de António Nóvoa no parlamento]. Pena é que a bondade destes discursos acabe por promover o afastamento da escola real da escola publicitada.
Mas, quem é que define e gere este quadro de missões? É o governo? É a força política que circunstancialmente chega ao poder? Será compreensível deixar os professores à margem desta discussão? Será exequível alargar o conteúdo funcional do professor sem atender à tipologia das missões/singularidade das escolas? Como é que estas mudanças são recebidas na escola? Alguém acredita ser viável a mudança das escolas sem provocar mudanças substantivas nos actores que as promovem? Qual a influência das mudanças legislativas nas práticas dos professores?

A ministra tem afirmado, insistentemente, que o documento que agora foi divulgado é apenas uma proposta e, como tal, é susceptível de ser alterada. Todos os ministros fazem afirmações deste tipo antes de se sentarem à mesa de negociações.
Teremos razões para acreditar na boa-fé negocial? É que esta questão tem de ser respondida antes de nos metermos a caminho para, em conjunto, encontrarmos soluções.

1 comentário:

IC disse...

Miguel, deixa-me acrescentar (depois de ter lido o comentário que me deixaste, a que respondi)que, a haver falta de boa fé negocial, isso não impede que os professores recusem e não deixem passar este ECD se quiserem lutar a sério e em massa (e com contrapropostas, claro).