Acto um
Vacilei antes de publicar este texto. É verdade que me sinto desconfortável a escrever, ou melhor, a publicar algo que se relacione com as minhas práticas ou projectos de trabalho. Talvez por pudor [ou por algum tipo de recalcamento (risos)], deixo este tipo de escrita guardada na secção dos rascunhos. A meu ver, é possível reflectir sobre as práticas sem necessitar de personalizar e de escancarar os contextos onde elas se concretizam. O risco de reduzir a realidade é enorme quando o olhar se limita a descrever factos e as situações do quotidiano sem a preocupação de desconstruir e reconfigurar essa mesma realidade. A realidade não existe no seu estado puro. É sempre uma reconstrução e uma reconceptualização. Por esse motivo, gorarão fracassadas aquelas tentativas de procurar um clone da realidade a partir destes textos. Como se diz em cinema: só por mera coincidência é que esta história se assemelha à realidade. Por isso, é uma perda de tempo procurar os actores locais até porque neste filme, a existirem, serão sempre meros figurantes.
Acto dois
O Atlas Desportivo Concelhio foi a actividade de referência para os alunos de um Curso Tecnológico. As matérias de ensino das disciplinas de formação tecnológica convergiram para a consecução da actividade da qual resultou um produto: Uma página da Internet/CD-ROM. Não é a avaliação do produto que me interessa relevar. Não estou, obviamente, a minimizar os resultados escolares, a desprezar os processos de prestação de contas ou relativizar as actividades que suscitam a expressão de competências. O produto serve para tudo isso e muito mais. Favorece a valorização da instituição escola na comunidade local, testa sistemas de comunicação internos, cria oportunidades de estágio aos alunos no 12º ano.
Estou mais interessado em reflectir sobre os processos de mobilização de vontades. Estou interessado em analisar: o efeito deste tipo de actividades na participação dos alunos, as dificuldades que se colocam ao trabalho de projecto, a desconexão entre a agenda escolar e a agenda comunitária [encarregados de educação, agentes económicos e recreativos]. Interessa-me, fundamentalmente, buscar na escola situada a essência da colaboração.
Acto três
O trabalho decorreu ao longo de dois períodos lectivos e foi uma consequência de um emaranhado de práticas colaborativas. Houve uma interdependência entre vários actores, no interior [docentes e alunos] e no exterior da escola [no município e nas colectividades desportivas]. Ao sair da escola, as iniciativas reclamam a conciliação de agendas de trabalho o que inviabilizou o cumprimento estrito do horário e espaço escolar. Garantido o respeito pelo crédito horário mínimo previsto para cada uma das disciplinas do curso, foi necessário tratar o espartilho legal com criatividade para que a rigidez normativa não dificultasse o trabalho cooperativo [cf. textos anteriores].
Foram definidos perfis de liderança para os diversos sub-projectos e criadas as condições para que a actividade se desenvolvesse em piloto automático. Como? Através do apelo ao envolvimento e à colaboração voluntária de vários colegas [é bom relembrar que a escola é uma organização riquíssima já que congrega nos seus quadros uma diversidade de licenciados dispersos por vários grupos disciplinares e que viabilizam a escola pluridimensional]. Ao procurar o cerne da cooperação não é fácil destacar um ou dois aspectos decisivos. Creio que não estarei muito longe da verdade se assinalar a persistência das várias lideranças e a confiança nas pessoas e nos processos.
Alargando o foco: Lideranças e confiança!...
Não se favorecem as lideranças com cotas de acesso! Não se conquista a confiança dos docentes desqualificando-os em praça pública!
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