14 de março de 2006

Enredado na própria teia II

Da obra referida em baixo, Nuno Crato elege como conclusões:
  1. "(...) o ensino não precisa de reformulações drásticas nem de reviravoltas pedagógicas revolucionárias. (…) é necessário consolidar métodos provados e adoptar mudanças apenas para o que a experiência mostrar poder funcionar. [...]
  2. É preciso centrar forças nos aspectos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica dos professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento, da disciplina e do esforço."

As ideias defendidas enfermam de dois equívocos:

  1. Porque se centram, em exclusivo, nas questões do ensino como se fossem independentes das questões da aprendizagem. Isto é, assenta no pressuposto de que a aprendizagem é exterior ao sujeito que aprende e que é subordinada, basicamente, ao método - de ensino, de avaliação, de trabalho do professor. Trata-se, no meu entender, de um apelo à forma escolar baseada na revelação e na cumulatividade, como se a forma escolar fosse independente da organização e da instituição escolar.
  2. Porque reduzem os problemas do ensino à função de difusão e incremento do conhecimento e da cultura em geral. Isto é, o autor lança um olhar que torna despiciendos os inúmeros desafios que se colocam à escola, nomeadamente, a fundamentação da democracia, o estímulo ao desenvolvimento da personalidade do sujeito, a inserção dos sujeitos no mundo e a custódia dos mais jovens [sublimada pela acção do actual governo].

Nuno Crato defende a manutenção do actual sistema escolar. Divirjo desta opinião porque não defendo um sistema escolar que se tem revelado ineficiente para as funções reclamadas à escola. E basta observar os discursos políticos hegemónicos, as medidas adoptadas [não precisarei de recuar mais do que 20 anos] e os mesmos chavões de sempre [o rigor e exigência] para se perceber que é reclamado MAIS DO MESMO, embora a estratégia passe por fazer crer que o sistema de ensino tem sido governado por fantasmas dogmáticos construtivistas e românticos rousseaunianos.
E a grande ironia de tudo isto é verificar, dos principais responsáveis pelas políticas educativas dos últimos vinte anos, a anuência pelas teses defendidas por Nuno Crato.

Mas, desenganem-se se pensam que discordo de tudo o que li. Gostei, particularmente, do epílogo: “Os bons professores sabem o que se deve fazer e tentam fazê-lo. Se muitas vezes não fazem mais e melhor, essa limitação não se lhes deve. Deve-se sim às imposições avulsas do Ministério, aos currículos desconexos, aos maus manuais escolares, a um ambiente de desrespeito pela cultura e pela educação.

Fica-lhe muito bem reconhecer o esforço dos professores que ainda são capazes de tolerar os devaneios do poder político!

Por quanto tempo?...

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