24 de novembro de 2005

As muletas…

É interessante verificar o modo como a comunicação social e a propaganda política moldam os discursos do senso comum. E como todos somos senso comum numa multiplicidade de assuntos, não escapamos ao processo do “diz-que-diz”. Felizmente (riso), há especialistas em generalidades que aclaram o caminho quando nos encontramos na escuridão. E que jeito nos faz um António Barreto ou um Eduardo Coelho, e outros especialistas [basta procurar um residente num jornal diário]. É que mesmo os actores principais não escapam a esta avalanche mediática. Deixam-se apanhar pelo registo retórico que mais convém ao governo e reproduzem as mesmas frivolidades, só que de sinal oposto: Os professores não fazem nada… O quê? Eu trabalho 75 horas semanais, ou mais… Os alunos vão de mal a pior… Não é verdade. Reparem nas competências relativas às novas tecnologias… etc, etc.
Mas nós embarcamos. E só nos apercebemos quão distantes as opiniões destes especialistas se encontram do conhecimento circunstanciado quando eles tocam nos assuntos que mais nos ocupam. O clique estala quando as suas opiniões são dirigidas para uma área de conhecimento que julgamos dominar e não encontram eco na realidade por nós percebida.

Isto para dizer que, de um momento para o outro, a escola ficou reduzida às aulas de substituição e ao trabalho docente. Não, não retomarei o equívoco enfadonho gerado pelas aulas de substituição. Prefiro recolocar velhas questões que necessitam de outro olhar. Deixem-me então arrumar algumas ideias que ainda não perderam actualidade:
  • A escola insiste na sua tradição unidimensional quando ninguém ousa defender a “unidimensionalidade” da pessoa;
  • A escola é uma organização “imutável” [as palavras são do Rui Canário] e nenhum governo ousa apontar uma mudança de paradigma;
  • Os problemas da inclusão e da diversidade reclamam uma reentrada na agenda da escola;
  • O parque escolar continuará a servir as necessidades de organização de uma escola do passado;
  • A formação inicial de professores é um baldio de ideias onde poucos se atrevem a entrar;
  • A formação contínua de professores não incorpora a inovação;
  • O Ministério da Educação promete autonomia às escolas e reforça mecanismos de controlo;

Sem comentários: