21 de agosto de 2005

O patinho feio.

A IGE é, na perspectiva do professorado, o patinho feio dos serviços centrais do ME. A ausência de uma tradição da prestação de contas e a pretensa falta de flexibilidade nas actividades de acompanhamento dos inspectores [cf. comentários da entrada anterior], a ausência de informação sobre o teor das actividades e da sua utilidade, a ineficaz política de comunicação com os actores educativos, são alguns dos factores que concorrem para a degradação da imagem da IGE.
Nas escolas, os inspectores são “pessoas estranhas ao serviço”. A IGE é, efectivamente, o tentáculo mais activo do ME. É o “braço armado” [perdoem-me a expressão] do ME. E como ninguém gosta de se sentir controlado, a IGE constitui uma "ameaça" permanente, principalmente, quando se instala, quando assenta arraiais no conselho executivo de uma escola. As organizações educativas são complexas, geradoras de conflitos. Embora as actividades de provedoria e de acção disciplinar configurem a existência de conflitos [inevitáveis] e de eventuais queixas dos utentes e dos actores educativos, não deixam de ser actividades que visam a salvaguarda, a defesa e a promoção dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos e a equidade e justiça do Sistema Educativo. A actuação deste ou daquele inspector que manifesta uma postura autocrática e “pouco amigável” é reprovável, contudo, não deverá ser generalizável. Por outro lado, a acção da IGE não se circunscreve às actividades de provedoria e de procedimento disciplinar. A actividade da IGE prolonga-se nas actividades de aferição e de produção de materiais de apoio à gestão escolar que devem ser disponibilizadas às comunidades educativas para discussão intra-muros.
As actividades de aferição não se têm repercutido nos trabalhos das assembleias de escola e dos conselhos pedagógicos. E a meu ver, o apoio externo não deve ser encarado como um mal necessário ao desenvolvimento dos projectos educativos das escolas. Bem pelo contrário, o apoio externo deve ser aproveitado para desencadear mecanismos de participação alargada na construção de projectos educativos singulares. Daí que a interrogação da Isabel (IC) [num comentário à entrada anterior] não seja despicienda: “Não acham que "prioridades políticas" [referia-se às intervenções sistemáticas da IGE que decorrem das prioridades políticas estabelecidas para a Inspecção-Geral da Educação] deixa alguma apreensão? É que eu continuo a ver muita nebulosidade entre prioridades políticas e prioridades sérias e isentas quanto ao sistema educativo.”

Voltarei ao assunto.

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