8 de julho de 2005

Enquadrando a questão da qualidade.

Da conversa mantida com o Luís no Memória Flutuante emergem as seguintes considerações:
  • A qualidade não tem sido um imperativo ético.
  • Os actores educativos não sentem uma vontade intrínseca de qualidade.
A reinvenção do sistema educativo não é obra da superestrutura da sociedade. Não é nada que nos caia por decreto. Não é nada que, por magia ou milagre, se inscreva na agenda política das maiorias. Pelo contrário, vejo-a como um movimento que se harmoniza com a concepção de globalização que defendo. Não é um movimento de cima para baixo, nem de fora para dentro. Um movimento assim é o que caracteriza a actual globalização hegemónica. De cima para baixo e de fora para dentro: esmaga-nos. Defendo o movimento contrário. Um movimento de baixo para cima e de dentro para fora.
Este excerto de um texto do João Paulo Serralheiro [merece ser lido devagar] vem a atalho de foice porque encerra uma visão da qualidade assente na ideologia: “ [...] De cada um segundo as suas capacidades e a cada um segundo as suas necessidades. Dou o que tenho e, em compensação, recebo o que preciso. Se tenho mais capacidade é natural que dê mais. Se tenho menos capacidade é natural que dê menos e receba mais”. A linha desta utopia é importante porque acolhe e promove a diversidade de talentos dentro da sala de aula e nos locais de trabalho. Impulsiona para um nível mais elevado o que cada um é capaz de fazer. As pessoas são todas iguais quanto aos direitos políticos e sociais e têm direito a oportunidades iguais. Contudo, nem toda a gente utiliza o seu potencial intelectual do mesmo modo. Nem toda a gente tira convenientemente proveitos iguais dessas oportunidades iguais e não obtêm as recompensas iguais pelas suas realizações.

Dito isto, como é que retomamos o sentido ético da qualidade? E como é que se exorta nos actores educativos uma alteração das suas capacidades volitivas?

As teorias que se inserem na perspectiva cognitivista, consideram que o comportamento é orientado para objectivos, sendo o comportamento escolhido, assim como o esforço e a persistência, desenvolvidos em função do valor desses objectivos e da expectativa de que esse comportamento poderá alcançar. Nesta perspectiva são previsíveis elevados níveis de motivação quando a pessoa tem elevadas expectativas de que o seu esforço numa dada tarefa permita a sua realização e que esta leva a obtenção de resultados que, para si, são valorizados.

Uma vez mais se reforça a necessidade de iniciar o movimento de baixo para cima e de dentro para fora.

[Voltarei ao assunto.]

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