6 de junho de 2005

Desejo de avaliação presencial.

[Depois do sufoco que foi o meu dia de trabalho, recupero este texto que escrevi há muito tempo. O protesto mantêm-se actual.]

A temperatura no termómetro assinalava 38ºC. Eram 14.20h quando entrei no pavilhão gimnodesportivo. Ao entrar senti um baque ainda maior do que aquele que sentira quando saí do carro. Tudo leva a crer que a temperatura dentro do pavilhão seria ainda mais alta. Os alunos, a funcionária de serviço e eu, estoicamente, lá cumprimos o nosso dever com determinação.
Sinto-me indignado quando me confronto com os ataques sistemáticos dirigidos à Escola e aos seus profissionais. É uma ofensiva proveniente dos gabinetes ministeriais e de alguns fazedores da opinião pública. Creio que esta cruzada visa desacreditar a Escola Pública pretensamente “despesista”, com má qualidade e que não consegue agarrar os seus alunos (as últimas notícias diziam respeito à elevada taxa de abandono escolar).
Não me movo por impulsos corporativos e não me parece que as Escolas sejam diferentes de outros sectores de actividade onde os bons e maus profissionais vivem lado a lado. Separar o trigo do joio é um problema que urge resolver sem demagogia, sem tentarmos a manipulação da opinião pública. Todos viveríamos melhor se se aclarasse a qualidade e a falta dela. Na Escola, na política como na vida. Emergem as soluções fáceis acopladas à hipocrisia. Dizem-me que o problema na Escola se resolve com a figura do gestor. Eu não acredito. Prefiro acreditar nos estudos internacionais e nos exemplos de outros países que adoptaram soluções análogas arraigadas pela mesma crença com resultados que ninguém quer avaliar.
Não é usual que os professores se entretenham a transferir o ónus da culpa dos desacertos que grassam no sistema educativo. Motivos não nos faltam. Quem ainda não se sentiu enxovalhado pela indiferença governativa, pelos burocratas que se preocupam, fundamentalmente, com a demonstração da sua imprescindibilidade no sistema e pelos jornalistas que olham para a Escola usando a mesma lente que se utiliza na avaliação da fruta no mercado? Quem é não poderia alegar, legitimamente, a falta de condições mínimas e dignas de um trabalho cuja relevância social é inquestionável?
Apesar de tudo, os 38ºC que suportamos na Primavera atípica ou os -2ºC que aguentamos no Inverno têm sido melhor tolerados do que as explicações levianas e gastas dos gabinetes ministeriais que encontram na conjuntura internacional um bom abrigo para esconder a sua inaptidão para resolver os problemas dos cidadãos.

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