A acção dos ministros que agarraram a pasta da educação tem sido titubeante. Atrevo-me a considerar que nenhuma batalha produzida no sector educativo poderia ter sido ganha sem que fosse suscitado o envolvimento profundo e generalizado dos actores envolvidos no acto educativo. Estimular os professores, alunos e encarregados de educação nas reformas induzidas no sistema é a chave do problema que todos os políticos asseguram conhecer mas que poucos se atreveram a concretizar. Talvez a breve experiência da Escola Cultural seja uma excepção. Alguns dirão que não será possível atender aos diversos interesses em jogo e outros dirão mesmo que esses interesses serão incompatíveis. Mesmo que fosse verdade, seria sempre um erro grave a adopção de qualquer estratégia [mesmo sob a batuta economicista] que viesse a denegrir a imagem do professor aos olhos da opinião pública de forma a facilitar a introdução de medidas restritivas, como por exemplo a redução da despesa pública. Não se trata de subestimar os factores económicos no sector educativo, nem tão-pouco, considerar que os professores serão um grupo de intocáveis. A meu ver, a questão central é esta: Será que um ministro da educação [ou uma equipa ministerial] servirá os desígnios da educação se não tiver a habilidade política de induzir, através das medidas legislativas e da sua acção negocial, a mudança nas escolas, corporações e grupos que gravitam no sistema educativo e, simultaneamente, preservar a imagem e a credibilidade dos actores responsáveis pelo processo educativo?
O sentido do acto educativo impõe a existência de um único lado na barricada. E a existência da barricada só é admissível porque do outro lado estarão os constrangimentos e os problemas comuns. Dizem os fazedores consagrados de opinião que os diagnósticos já estão feitos. Que de educação, tal como de futebol, todos percebemos um pouco. O que é preciso é agir. Na verdade, a educação é acção. O problema é que o praticismo domina a generalidade dos professores, técnicos, burocratas e investigadores. Há uma cultura da prática conceptualmente vazia [como diria Patrício apelando ao regresso da Filosofia da Educação].
O próximo governo e o novo ministro da educação não viverá dias fáceis. O estado a que chegou o Estado e o caos em que se encontra a Educação não tolera mais tempo perdido. E já agora, formulo um desejo: Que o próximo ministro da educação se aguente no cargo um mandato completo. Coisa rara nos tempos que correm.
Regressando à entrevista da ministra, subscrevo as opiniões do Manuel, do Gustavo e do Carlos. Se tivesse reagido atempadamente, não me teria afastado das seguintes interrogações:
Porque é que a continuidade dos cursos tecnológicos depende [se este governo prosseguisse a sua acção governativa] da taxa de sucesso dos alunos? A ministra julga que a taxa de insucesso ultrapassa os 70%, logo…. [Lembro que os cursos tecnológicos têm apenas dois meses de vida]
Uma vez mais, continuamos a actuar nas consequências em vez de atacarmos as causas dos problemas.
Como denunciara em textos anteriores, os exames têm sido utilizados, perversa e ineficazmente, como um meio controlo do desempenho docente. Como reconhece a ministra: “Os exames são uma medida frágil do desempenho dos docentes, mas útil. Se, ano após ano, um professor tem maus resultados e outro da mesma escola tem bons, alguma conclusão há a tirar.”
Conhecem forma mais enviesada de abordar o desempenho docente?
1 de dezembro de 2004
O estado da educação.
Li a entrevista que a ministra da educação [a prazo, a muito curto prazo] deu ao DN na passada 2ª feira. Confesso que fiquei preocupado com o alcance de algumas afirmações proferidas e não fui capaz de escrever nada sobre o assunto. Preferi ponderar sobre o alcance das declarações e, agora que fui ultrapassado pelos acontecimentos [dissolução do parlamento], procuro concentrar-me no rumo da coisa educativa. A coligação de partidos que governa o país deu sinais de desorientação desde o primeiro momento em que foi criada. A política educativa de cariz neoliberal e neoconservadora não foi capaz de induzir a mudança no sistema como prometera, demonstrando a inutilidade dos chavões “rigor” e “exigência” em organizações complexas como são as Escolas.
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