31 de janeiro de 2005

Caminho que se faz…

No Que Universidade encontramos uma discussão interessante. Ao destacar uma lista de sete princípios que “podem ajudar à criação de um estilo próprio de ensinar que se ajuste à diversidade dos alunos que cada um encontra”, MJMatos faz a apologia da diferença.
Um outro olhar transparece da tese de que o professor é um operário reprodutor da semelhança e da uniformidade. É um ponto de vista que até “dá jeito” se exigir menos trabalho. Lidar com a diferença será mais enfadonho. E, na verdade, até existem constrangimentos que legitimam a perda do entusiasmo, nomeadamente, os vários conflitos com a Administração e as resistências geradas por outros elementos da escola, pelos projectos que desaparecem pelo desgaste e pelos efeitos de conjunturas desfavoráveis.
Mas, não é por aqui que será feito caminho.

30 de janeiro de 2005

Acalmia

Após uma ronda pela blogoEsfera pude verificar alguma acalmia. Vi blogues por actualizar e outros a assumir a desistência.

Enquanto faço um compasso de espera aguardando por sinais de vitalidade debato-me com o argumento da falta de produtividade. É um argumento forte para emagrecer a barra lateral dos blogues. Saindo dois companheiros e entrando um novo para o seu lugar canalizo mais atenção pelos residentes.

Enfim, a lógica de merceeiro pode ser utilizada em qualquer reforma…

28 de janeiro de 2005

Ser Professor...

… - Um ofício em risco de extinção?
Será uma antevisão dos efeitos do projecto Escola Virtual?

Reflexão imediata...

O direito à educação é um preceito que assenta numa crença: A Educação pode melhorar a qualidade de vida, o desenvolvimento e compreensão do ser humano, o controlo da agressividade, o desenvolvimento económico, o domínio do destino através do progresso das ciências e da tecnologia fomentadas pela educação. É a crença de que o ser humano evolui para o progresso. A diversidade de formas e meios para fazer passar o sujeito a um estado superior de desenvolvimento faz emergir a questão da qualidade. E neste ponto que concordo com o(a)adkalendas: A educação só faz sentido se for de qualidade. Massificada ou de elite, todos os sujeitos têm o direito a uma educação de qualidade. Contudo, o carácter polissémico do termo – qualidade – permite esta panóplia de chavões: rigor/exigência, público/privado, etc., etc.
A questão que emergia da entrada anterior, embora utilizasse um desses chavões, desejava avançar[?] um pouco mais.
Sabendo que todos precisam de oportunidades para evoluir e que os pontos de partida para a caminhada são díspares, que modelo de escola serve melhor os interesses de todos e de cada um?

27 de janeiro de 2005

Reflexões intercaladas…

O Estado ao alargar, compulsivamente, a escolaridade obrigatória dos alunos ao ensino secundário realça o carácter funcional da escola como um espaço de custódia dos jovens. Uma das implicações desta medida coerciva será a tendencial desvalorização da educação secundária, essencialmente, pela incapacidade da Escola em responder e conciliar um duplo desafio: a educação massificada e a educação para as elites.

Serviço público.

O descrédito que se abate sobre algumas das instituições basilares no nosso país, nomeadamente sobre o edifício da justiça, da saúde e da educação, acentuado pela crise das finanças públicas e privadas, gera um sentimento de inquietude no cidadão que configura um doença - a depressão colectiva. É um diagnóstico badalado nos órgãos de comunicação social por analistas e especialistas de vários quadrantes do conhecimentos e que depressa foi incorporado nos discursos do senso comum.
Quem sou eu para refutar esta espécie de orgia colectiva da desgraça?
Curiosamente, ou talvez não, sempre que entro num cenário de crise de massas lembro-me do futebol e dos seus extraordinários efeitos de catarse social.

Para animar uma parte da malta [para aproximadamente seis milhões de lusitanos – reparem como os números reforçam a palavra], ontem um clube de futebol prestou um enorme serviço público à nação valente: Fez adiar a crise sentida.
Será este o nosso fado?


26 de janeiro de 2005

O que faltou…

… ao debate sobre o Estado da Educação?
Uma outra discussão com o seguinte enquadramento:
Os ventos de mudança chegaram ao campo educativo. A racionalidade epistemológica teve implicações negativas no terreno da educação, levando-o à desertificação axiológica.
Urge apresentar a educação como um projecto antropológico por natureza e condição, porque, fora deste quadro, não se reconhece qualquer sentido educativo ao ensino e à aprendizagem.

Seria demasiado teórico, pouco acessível, a negação do debate pronto a consumir.
Sem audiências!? Pois,…

Demagogia!

Decidi afastar-me do local do blogger para acompanhar, com o distanciamento possível, o debate sobre o Estado da Educação na RTP.
Não esperava uma discussão fértil e elucidativa. O formato do programa hipotecou a exequibilidade do mesmo devido ao elevado número de intervenientes, à abrangência dos temas em análise e à redução das mensagens [prontas a consumir].
Defino o debate com uma só palavra: demagogia.

25 de janeiro de 2005

Voltando à entrada anterior.

Adenda 3:
“Na escola obrigatória todos devem progredir, todos devem “crescer” sem qualquer exclusão” (p. 51).
Será assim tão provocadora a afirmação de Sacristán?

24 de janeiro de 2005

Ambição 1: Estender a escolaridade obrigatória.

O alargamento da educação fundamental de 9 para 12 anos é uma ambição legítima para qualquer país que recuse o sub-desenvolvimento.
A questão não será saber se estamos de acordo que o nível cultural dos jovens possa atingir patamares superiores de desenvolvimento.
A questão central é saber se estamos em condições de satisfazer essa ambição na próxima legislatura.
Não será assim?

Adenda 1: A escolarização obrigatória tem que ser multifuncional. É um princípio antropológico que sustenta esta afirmação. Se a educação é obrigatória é porque a consideramos básica, logo a própria designação de secundária [do 10º ano ao 12º ano] é incongruente com os fins que lhe estão reservados. Creio que este problema ultrapassa a questão semântica. Será uma questão substantiva que tem a ver com a especialização educativa das escolas.

Adenda 2: Neste novo figurino o ensino superior será secundário…

23 de janeiro de 2005

Intencionalidades pré-eleitorais.

Apressadamente e sem grande entusiasmo li na diagonal os programas eleitorais do PSD e do BE. A previsibilidade do desfecho eleitoral fez com que aguardasse com maior expectativa o manifesto eleitoral do PS. Importava perceber as prioridades da política educativa e detectar continuidades e roturas com o passado. Da primeira leitura do documento [tenciono regressar com outro olhar, mais cuidado e orientado] destaco as cinco ambições para a legislatura:
. Alargar a escolaridade obrigatória até ao 12º ano ou 18 anos de idade;
. Alargar progressivamente a educação pré-escolar a todas as crianças até aos 5 anos de idade;
. Activar os programas de educação e formação para adultos;
. Desconcentrar competências para a administração regional, autarquias e escolas, mantendo o ME as funções de financiamento, regulação do sistema, desenho e desenvolvimento curricular, avaliação e inspecção;
. Enraizar em todo o sistema a cultura e a prática da avaliação e de prestação de contas.

Dois aspectos instrumentais, nomeadamente, a valorização do serviço público da educação e o reforço da autonomia das escolas, enfatizam uma concepção de educação inclusiva e de igualdade de oportunidades.

No manifesto eleitoral não vi qualquer referência [declarada] às implicações do processo de Bolonha no ensino não superior. Será que a aproximação do ensino secundário ao ensino profissional é o sinal do tal choque tecnológico anunciado para o sector?
Ou será que no entendimento dos responsáveis pela elaboração do manifesto eleitoral o processo de Bolonha se circunscreve ao ensino superior?

21 de janeiro de 2005

Tempo de preparação.

A intensificação do trabalho docente [e não só] vai fazendo as suas vítimas, paulatinamente. Adoptando ou não sentimentos de culpa, procurando ou não o isolamento, e desenvolvendo ou não um conjunto de patologias associadas à baixa auto-estima, os professores sempre demonstraram incapacidade para lidar com os problemas da intensificação.

Será oportuno [numa altura em que se aguardam pelas novas[?] políticas para o sector] olhar para o potencial que o tempo de preparação [ou tempo de “não-contacto” com o aluno] encerra no sentido de atenuar os efeitos da intensificação?

20 de janeiro de 2005

:o(

Permitam-me um pequeno desabafo:
Estou esgotado!!

19 de janeiro de 2005

Ideias.

Aguardo pelos programas de governo. Confesso que remexo unicamente o que diz respeito à coisa educativa. A comunicação social, a blogoEsfera, as conversas mantidas com os colegas e amigos entusiastas, encarregar-se-ão de filtrar as restantes políticas.

Sabendo que há um mundo que separa as intenções das práticas, as políticas decretadas das políticas realizadas, às vezes pergunto-me se ainda valerá a pena esperar.

18 de janeiro de 2005

O capital humano.

Os que sabem e querem.
Os que não sabem e querem.
Os que sabem e não querem.
Os que não sabem nem querem.

E você?

17 de janeiro de 2005

Será prudente...

...antecipar o resultado da 2ª volta?

14 de janeiro de 2005

Extra e intra-escolar

É consensual que os professores, a comunidade educativa ou a sociedade, devem ser responsabilizados pelo rumo do sistema educativo. No entanto, não teremos a mesma cota de responsabilidade pelo facto de assumirmos diferentes papéis, tanto mais que nos posicionamos distintamente no interior da organização. O professorado, como corpo colectivo, é um dos pilares fundamentais neste sistema educativo embora o seu contributo possa ser prescindível em determinados contextos [nomeadamente, o ensino doméstico a que se refere Apple]. Não é este o caso. E neste sentido, concordo com o comentário [à entrada anterior] do Paulo quando considera que os professores não estarão isentos de culpa pelo que de mau for imputado ao “sistema”. Claro que a passividade, a escassa intervenção cívica em torno dos problemas que nos dizem directamente respeito e a falta de envolvimento na orientação das políticas educativas, remete-nos para o “lugar do morto”. Obviamente que neste quadro, alguém decidirá por nós. Nessa medida, seremos responsáveis pelo estado do nosso sistema educativo.
Na verdade, o problema é muito mais complexo e não se circunscreve à identificação dos actores que não se assumem como autores. Os professores podem muito mas não podem tudo, nomeadamente, a definição das macro-prioridades do sistema educativo, das políticas mais ajustadas para os desafios com que está confrontado o sistema, etc., etc.
Voltando ao comentário do Paulo. “Como que se assume/permite que, na própria escola, o que é "extra" possa ser mais interessante para os miúdos, do que aquilo que é "intra"? Em primeiro lugar, convém esclarecer que o currículo entendido num sentido restrito [o conjunto de actividades lectivas] será menos atraente do que o extra-currículo porque estas actividades auto determinadas serão mais do agrado dos alunos. O termo currículo, utilizado no sentido lato, coincide com o conjunto de actividades lectivas e não-lectivas programadas pelas Escola, e ambas terão grande interesse educativo. Ou será que abdicamos do princípio da autodeterminação educativa, aquele que fornece uma orientação geral para apoiar o crescimento gradual da liberdade do educando?

O comentário da colega Saltapocinhas visa a problemática da educação obrigatória e abre outra frente de discussão.
Talvez regresse ao assunto.

13 de janeiro de 2005

Será apenas um caso?

O C. tem 16 anos e frequenta o 8º ano de escolaridade. Para ser mais correcto, e de um ponto de vista administrativo, o C. frequentava o 8º ano. O aluno deixou de ser aluno, isto é, o sistema educativo não reconhece o C. como aluno. Parece confuso, mas nada que se compare à grande confusão em que se tornou a sua vida [e que grande conversa daria a sua vida]. O C. em três meses ultrapassou o limite de faltas tendo sido excluído das actividades lectivas embora continuasse a participar assiduamente num projecto extra-curricular que C. considerou atraente [com a permissão do órgão de gestão e dos pais].
Casos como este são frequentes e expõem uma face da escola exclusiva. A partir deste caso podemos olhar a escola e questionar a sua identidade. Este caso retrata uma dos paradoxos da escola actual: a escola deixou-se reduzir à sua dimensão lectiva e continua a afirmar-se como uma escola pluridimensional.

Assessoria técnica.

Constatei a perda de uma parte dos comentários, dos mais alongados. O espaço do haloscan é insuficiente?
O que é que sugerem?

10 de janeiro de 2005

Partilha de experiências pessoais.

Dizia numa entrada já esquecida [foi escrita em Novembro] que o delineamento das estratégias que “seguram” a atenção dos alunos para a actividade escolar consome uma boa parte do meu tempo de preparação.
Aproveitando um comentário que sugeria a exemplificação e a tipificação [se bem entendi] das actividades e as estratégias utilizadas para o efeito, refugiei-me na especificidade e natureza da minha disciplina para expor algumas das minhas preocupações relativas ao processo de ensino. Creio que o pudor e a ausência de coragem suscitou uma fuga ao cerne da questão. Não mudei muito desde então. Continuo com dificuldades em partilhar as minhas experiências de ensino em público pelas razões que enunciei anteriormente. No entanto, e aqui concordo com MJMatos, perante a ausência de processos de divulgação e partilha das experiências pessoais, os professores terão de evitar o isolamento a bem da sua sanidade e desenvolvimento profissional [estas últimas palavras já são minhas]. Por outro lado, se reivindico o abandono da escola tradicional porque não serve os interesses do aluno, então terei o dever de propor alternativas [quando as vislumbro] se verificar uma brecha na escola bolorenta.

A escola situada é um estabelecimento de ensino [tradicional] com a seguinte organização do espaço: as salas de aula [também elas tradicionais] são os espaços nobres, os recreios, o bloco administrativo, e o pavilhão gimnodesportivo os espaços subalternos [implícitos]. Também existe uma biblioteca, um centro de recursos multimédia, um auditório e inúmeras salas de informática. A organização do tempo escolar mantém a aula de noventa minutos como unidade de base. Os alunos encontram-se agrupados em turmas de, aproximadamente, vinte e sete alunos. Disponho dos programas e dos manuais escolares.
As características deste modelo de organização que traduzem determinadas formas de relação com o saber e com o poder associam-se à natureza da informação e ao tratamento dessa informação. É a lógica da repetição das informações [oriundas do exterior através dos programas, manuais e do professor] pelo aluno enquanto processo de aprendizagem e forma de provar ao professor que aprendeu [processo de avaliação]. Parece-me claro que esta forma de relação com o saber desvaloriza os saberes, as experiências e os interesses dos alunos e as características dos contextos de aprendizagem. O sistema busca a uniformidade que está associada à lógica da repetição da informação.
O que é que foi proposto ao órgão de gestão?
A utilização do centro de recursos como principal fonte de informação [as salas de informática como alternativa]. Havia que relativizar a utilização dos manuais e o protagonismo do professor como fontes exclusivas de informação.
A colocação das disciplinas da área tecnológica do curso de forma sequencial [uma tarde ou uma manhã] para facilitar a alteração da grelha horária. Havia que respeitar a lógica do trabalho de projecto que marca o curso e assegurar que a realização de algumas das situações de aprendizagem no exterior da escola não comprometessem a presença dos alunos às restantes disciplinas que fazem parte do plano de estudos.
Como pretendia alternar os momentos de informação em plenário com os momentos de trabalho individual e de pequenos grupos, a turma foi reconfigurada embora se mantivesse inalterada como “figura” administrativa.

Bom, e as estratégias?
É neste processo, centrado numa lógica de pesquisa em que aquele que aprende caminha [de forma autónoma] em direcção ao conhecimento, que me perco e que entrego grande parte do meu tempo de preparação.

9 de janeiro de 2005

Cavar de novo…

Através do Professorices tomei conhecimento de uma intenção do candidato a futuro primeiro ministro. José Sócrates declarou que, se vier a formar governo, a sua prioridade educativa será o secundário. [Ainda bem que a blogoEsfera tem dado um ajuda preciosa. Atendendo ao frenesim em que me meti, acabo por receber as novidades filtradas e reconfiguradas.]

Antes de nos metermos pelos atalhos do sistema educativo, não seria preferível determinar o sentido da caminhada? É que eu ainda não sei qual é a Escola que estes senhores defendem.
A sensação que eu tenho é que nos encontramos num buraco e que, na ânsia de sair de lá, escavamos ainda com mais intensidade.

8 de janeiro de 2005

Cantinho do adepto(II)

Encerro este breve apontamento de entusiasta pelo fenómeno desportivo para reconhecer que a equipa do Benfica foi menos [equipa] do que o Sporting. Parabéns aos jogadores do Sporting e, obviamente, aos jogadores profissionais do Benfica.

7 de janeiro de 2005

Cantinho do adepto.

Evocação prévia das…
"…Três razões para se ser benfiquista:
- A razão natural: a mulher dá à Luz, não dá às Antas nem a Alvalade.
- A razão bíblica: há uma passagem na bíblia que diz: " dominarei os leões e os dragões e voarei para o céu sobre as asas de uma águia".
- A razão teológica: Jesus Cristo encarnou, não azulou ou esverdeou.Percebem agora porque somos 6 milhões?!!
"

E esta?

O último foguete.

Não fora este post do Gustavo, o meu olhar para a actualidade política continuaria desprendido e distante.
Ocorre-me questionar o seguinte:
O que é que passou pela cabeça do responsável pela entrada no governo da titular da pasta da Educação? Estaria convencido que leccionar/investigar no Ensino Superior era uma condição necessária para tomar o pulso ao Ministério da Educação?
Obrigado Dra. Seabra. Nem imagina o contributo que deu para desmistificar esta tese.

5 de janeiro de 2005

Sinais…

Creio que todos nós, que temos o hábito de reflectir sobre a profissão, paramos [não sei quantas vezes por dia] o relógio da azáfama para balanço. Aguardamos pelos sinais do tempo para compor o ramalhete e escolher a cor do rótulo. Sinais que disfarçam problemas, emoções, rupturas, sensações.
Hoje escolhi o vermelho [ou o negro?] para carimbar o dia. Talvez fosse dispensável a confirmação dos factos para reafirmar que esta Escola não serve os alunos porque não se preocupa com o aluno. E não adianta carpir as mágoas esperando por um impulso vertiginoso [externo e de preferência demasiado distante] que coloque a escola na rota transformadora. Mais do que um problema societal é um problema de organização com alcance nacional. Há que incrementar a competência jurídico-administrativa e sócio-organizacional das escolas. Há que deixar os diversos actores que interagem na escola, com as suas possibilidades de escolha, alterarem ou criarem novas regras. Tudo isto, para não termos de assistir estupefactos à metamorfose do aluno que deixou de o ser só[?] porque a escola se deixou subjugar pela ditadura da dimensão lectiva.

4 de janeiro de 2005

Repensar

Pensar radicalmente a escola é uma expressão polissémica. Daí que não tenha ficado surpreendido com os comentários que o texto anterior suscitou.
Foram vários olhares que reflectem inquietações, constrangimentos, verdades, formas singulares de sentir a escola. E volto ao assunto para revolver a discussão:
As disciplinas, os programas, e as orientações metodológicas superiormente estabelecidas reflectem o poder da sociedade sobre a actividade educativa da dimensão lectiva [o espaço pedagógico apropriado para a transmissão, para uns, e a recepção, por outros, do saber constituído]. A sociedade evolui, as aprendizagens significativas também. Neste quadro de mudança, continuará a fazer sentido que a escola realize a função pessoal, social, cívica, profissional, cultural, de suplência da família? A unilateralidade da oferta da dimensão lectiva não ameaçará a eficácia das funções da escola?

3 de janeiro de 2005

O berço de uma escola radicalmente diferente.

“Os professores, os que hoje estão nas escolas, seriam como que uma espécie de consultores que promoveriam nas crianças o gosto pela pesquisa, pela leitura, pela informação, pela cidadania. Muitos, muitos mesmo, teriam de despir a sua toga de transmissores de conhecimentos e vestirem a roupagem quotidiana de professores, mas o esforço valeria a pena.” É verdade, Carlos: Uma escola sem disciplinas, sem turmas, obrigaria a pensar radicalmente a escola. É longo o caminho que falta percorrer, especialmente, neste tempo em que o trabalho cooperativo ainda não deixou de ser uma miragem na [quase] totalidade das nossas escolas.
Se para cumprir este desiderato fosse necessário começar do zero, onde é que radicaria o ponto de corte? Afinal, onde é que se encontra o berço da formação de professores? E o que é que as instituições que formam professores têm a dizer sobre esta matéria?

Meta-blog.

O Meta-blog do ensino superior ultrapassou a barreira das intenções. “O meta-blog é uma espécie de índice ou "central de notícias", onde os leitores podem mais facilmente encontrar as ligações ao que os autores vão publicando nos seus próprios blogues”, como referia JVC no post de abertura. Como apoiante da iniciativa e colaborador [esporádico?], não rejeitarei um olhar para esse nível de ensino, desde que as temáticas induzam o desafio.
Espero que a ideia despolete novos projectos na blogoEsfera, caso se reúnam vontades, interesses comuns, e pretensões em alargar a visibilidade da discussão.

2 de janeiro de 2005

Construção de sentido...

... para as situações escolares.

"Cada ser humano está, desde que nasce, «condenado» a aprender, ou seja, a atribuir sentido à realidade complexa em que se insere, fazendo-o a partir da sua história cognitiva, afectiva e social. Este processo de atribuição de sentido corresponde à construção de uma visão do mundo, isto é, de si próprio, da sua relação com os outros e da sua relação com o mundo. Esta perspectiva da centralidade da construção do sentido e da problemática da relação com o saber está omissa, e tende a ser contrariada, pela tentativa de querer resolver os problemas da escola a partir de um acréscimo de eficácia nos procedimentos de ensino. Esta perspectiva da eficácia do ensino coloca a tónica na «motivação» dos alunos que é a antítese da mobilização e do investimento pessoal que um processo de aprendizagem, como processo de autoprodução, implica.
Se somos intrinsecamente curiosos e estamos condenados a conhecer porque estaria o trabalho escolar condenado a ser penoso?"

Ao ler este texto do Rui Canário recordei uma discussão passada aqui na blogoEsfera relativa à motivação. É um texto com sentido.

[Continuar a ler...]