30 de outubro de 2006

Dilemas...

O ECD em vigor e a proposta de revisão coerciva do ME apelam a um profissional reflexivo. O conteúdo funcional do professor requer um profissional que desenvolva competências pessoais, sociais e profissionais para conceber respostas inovadoras às novas sociedades do conhecimento; Reclama do professor uma fidelização às orientações de política educativa num quadro de formação integral do aluno. Exige responsabilidade profissional e autonomia técnico e científica, assente numa lógica de participação activa na comunidade escolar, na comunidade local e com outros parceiros educativos.
  • Com que direito o docente se pode opor a políticas de educação, quando é um assalariado, obrigado pelo estatuto [como referi atrás] a respeitar as orientações de política educativa, resistindo a reformas democraticamente decididas por um poder legítimo?
  • Em que medida o docente se pode considerar livre de se demitir do que se lhe requer, quando essa exigência lhe parece contrária aos seus valores ou que o que se lhe pede está para além das suas forças?
  • Qual é a fronteira entre uma perspectiva individualista, confundida muitas vezes com uma perspectiva estritamente sindical e que pode ser entendida, pela opinião pública e pelos próprios, como uma defesa de regalias e interesses meramente pessoais, e uma perspectiva altruísta, que visa defender a cultura, os interesses e a formação integral dos alunos, e o serviço público?

29 de outubro de 2006

28 de outubro de 2006

Sugestão de leitura

Olhe que vale a pena ler este texto do crack!

Adenda: As técnicas da nova propaganda (2) - Continuação do artigo de opinião da semana passada do Eduardo Cintra Torres.

É um projecto é!

Na página da DGIDC o destaque é o projecto é! Depois de ler a sinopse do projecto fiquei convencido de que se trata de mais uma iniciativa redundante do ME. "O Projecto é! é um projecto de acção global da escola de educação para o empreendedorismo. A Educação para o empreendedorismo é!: Educação transversal para a vida; centrada na acção; focalizada no processo e nos resultados; coerente e constante; integrada multidisciplinarmente; contextualizada; auto-construída pelos/as alunos/as."
O projecto é! é, a meu ver, mais um apelo à faceta utilitarista da escola. Depois da promoção dos cursos profissionalizantes que visam a mão-de-obra qualificada, era necessário promover as competências-chave e o espírito empreendedor para os gestores do futuro: “Autoconfiança/Assumpção de riscos; Iniciativa/ Energia; Resistência ao fracasso; Planeamento/Organização; Criatividade/Inovação; Relações interpessoais”.

A linearidade do pensamento dos decisores políticos é confrangedora: Penso num problema social, económico, ecológico, ético, estético,… crio uma comissão que engendra um projecto, nasce um plano para ser aplicado na escola - uma educação para…. , faço uma apresentação pública com mais ou menos pompa e circunstância, envio às escolas uns prospectos e informações com mais ou menos detalhe,… e espero pelos resultados… e como não tenho tempo para esperar porque sou uma pessoa muito ocupada e a minha função é de curto prazo, o melhor é regressar para o gabinete porque o mundo reclama a minha presença… e os meus projectos.

Que triste sina…

26 de outubro de 2006

Discursos da treta...

Adenda: A imagem que já se encontrou aqui, à esquerda, foi desviada para outra entrada...

25 de outubro de 2006

Conversa da treta…

Foi através do blogue Ensinar na Escola que li um excerto da entrevista do Nuno Crato (NC) ao www.educare.pt. Do diagnóstico dos problemas da Educação, NC destaca “o centralismo ministerial que retira às escolas a possibilidade de contratarem os melhores professores, arranjarem soluções adequadas às suas especificidades, etc.”
Não vou questionar o “modus operandi” da selecção de professores que NC advoga, nem o sistema de competição das escolas pelos “melhores professores”, nem tão-pouco me irei interrogar se há algum aluno que mereça ser contemplado com um mau professor [presumo que na hierarquia dos professores seleccionados alguém teria de ficar no fundo da tabela mesmo admitindo que muitos dos maus professores fossem excluídos do sistema].
O que me interessa destacar desta afirmação é uma incoerência de fundo que convém esclarecer, sob pena de NC poder ser acusado de adoptar o mesmo tipo de discurso que ele próprio repudia e que legitimou a edição do seu livro “Eduquês”:

É que o tipo de ideologia que produz situações de competitividade e de selecção entre escolas, professores [e na mesma linha, os alunos], resultam numa recentralização do poder de decisão sobre as escolas (político-administrativamente), ao invés da realização do tão proclamado princípio da descentralização e da autonomia.
O apelo a mais exames, mais avaliação, mais avaliação externa do tipo contábil, mais formas punitivas, mais vigilância, exige modelos positivistas e formas de organização universais que não admitem diversidade de processos e de referências contextuais. E neste sentido, onde está a autonomia?

Adenda: O ECD da Sra. Ministra - versão apressada

Ufffa...

... 35 horas? Pois...

Tal e qual como cá!!!!

Educación difunde una campaña para reconocer y prestigiar socialmente la profesión docente
GINÉS DONAIRE - Jaén

La Consejería de Educación pone en marcha desde hoy martes en prensa, radio y televisión una campaña de apoyo al profesorado con el objetivo primordial de "reconocer, valorar y prestigiar socialmente la profesión docente", según dijo ayer en Jaén la consejera Cándida Martínez. La campaña, que va dirigida a los 112.000 profesores que ejercen en la comunidad, lleva el lema Gracias profesorado, sin vosotros no sería posible, porque, a juicio de la consejera de Educación, el profesorado "es el elemento central del sistema educativo". Por eso, añadió, otro de los objetivos que se persiguen es "agradecer en nombre de toda la sociedad el trabajo que cada día realizan estos docentes en los colegios y en los institutos".

Martínez desvinculó la puesta en marcha de esta campaña con las agresiones a profesores y la conflictividad en las aulas durante el último curso. Tras recordar que hace algunos años ya se hizo otra campaña similar, la consejera precisó que se trata de dar cumplimiento a uno de los acuerdos suscritos en el llamado Acuerdo por la Educación en Andalucía, que la Junta rubricó con los sindicatos CC OO, UGT y la Confederación de Empresarios de Andalucía, un pacto que también trajo consigo el plan de salud laboral en el que se recogen medidas específicas orientadas a aquellos profesores que puedan tener algún problema en el aula.

Ahora bien, Cándida Martínez admitió que "se tiene que valorar más a los profesores" y se mostró satisfecha si esta campaña "sirve para aumentar la autoestima" de los docentes. La consejera destacó el interés de la Junta por "poner soluciones para erradicar la violencia en las aulas", para lo que demandó "la implicación de las familias y de toda la comunidad educativa en su conjunto".

En relación a las denuncias de los docentes por agresiones, Martínez aseguró que la Consejería de Educación "es la única que está registrando las incidencias que se producen en los centros escolares andaluces" -lo hace a través del programa Séneca- y destacó las medidas de apoyo jurídico al profesorado en el caso de que puedan ser objeto de agresiones en el ejercicio de su actividad docente.

La consejera sintonizó con la opinión de la ministra de Educación, Mercedes Cabrera, que, este domingo, en una entrevista en El PAÍS, decía que tendrá "mano dura" contra la violencia escolar. Cándida Martínez destacó las iniciativas puestas en marcha en este sentido por la Junta, como el decreto de derechos y deberes del alumnado, el Plan de Cultura de Paz, medidas de apoyo al profesorado, así como el incremento de 34 nuevos mediadores y orientadores sociales "para mejorar la convivencia en lo centros escolares", dijo.

In: EL PAÍS - 10-10-2006

24 de outubro de 2006

Abaixo-Assinado

PLATAFORMA DE SINDICATOS DE PROFESSORESExcelentíssimos Senhores
Presidente da República
Presidente da Assembleia da República
Procurador-Geral da República
Primeiro-Ministro
Ministra da Educação

NÃO À CHANTAGEM, SIM À NEGOCIAÇÃO!

Os professores e educadores abaixo-assinados consideram que a proposta entregue pelo ME à Plataforma Sindical que congrega as organizações representativas dos docentes, não só não introduz alterações significativas em nenhum dos domínios que têm conduzido à luta esta classe profissional, como constitui uma intolerável intromissão na livre capacidade de organização e funcionamento das suas estruturas sindicais.
Condicionar ligeiras alterações das suas propostas - sob a ameaça de retomar posições anteriores - ao compromisso dos sindicatos travarem a conflitualidade e a luta, de que as propostas do ME têm responsabilidade exclusiva, é uma inqualificável atitude de chantagem sobre os docentes e uma ingerência directa e arrogante na própria vida sindical. Esta é uma atitude imprópria do Portugal democrático em que vivemos e não se coaduna com o sentido de Estado exigível a qualquer governante, pelo que merece não só a repulsa como a denúncia activa de todos os educadores e professores portugueses.


Assinar online
__________________

Assinatura (formato papel):
Nas escolas dos 2º/3º ciclo e Secundárias, sugiro que o abaixo-assinado circule por grupo/departamento. Para que ninguém fique esquecido [inclusivamente, os mais distraídos… ;)], bastará um ou dois colegas entusiastas e um colaborador em cada grupo/departamento.

...

Lembro uma passada incerta que mal disfarçava o desassossego. Queimava os cigarros sofregamente. E foram muitos. Não se pode falar de um parto fácil até porque o planeado não fora cumprido integralmente… Eis que a tomei nas mãos, e vi a imagem mais bonita que a minha memória inscreveu.
Quando regressares da escola, dar-te-ei um abraço ainda mais demorado.
Parabéns princesa.

23 de outubro de 2006

Equidade ou a falta dela

O problema da repetição do exame à aluna que entregou uma providência cautelar depois de a tutela ter permitido que os alunos pudessem repetir as provas de Química e Física na segunda fase de exames devido aos maus resultados registados na primeira fase, não se resolverá apenas com a repetição dos exames aos restantes alunos que correram atrás de providências cautelares por todo o país.
E os outros alunos cujos encarregados de educação não tiveram as mesmas condições de acesso à justiça? Quem é que os defende?

22 de outubro de 2006

Spam político…

"A primeira técnica da nova propaganda é criar uma central. Santana Lopes caiu no erro, felizmente, de anunciar a sua criação. O Governo de Sócrates não caiu no erro de anunciar - e criou-a. Os seus principais responsáveis estão nos gabinetes, mas mantêm-se na sombra. Como referiu António Barreto (PÚBLICO, 15.10), Sócrates tem "ao seu serviço (...) uma imbatível organização de comunicação" e "a organização da propaganda e das relações públicas, servida por centenas de profissionais, tem-se revelado impecável".
[…]
A segunda técnica da nova propaganda é a do encharcamento dos media com informação. O Governo produz diariamente "agenda" que ocupa tempo dos jornalistas - não lhes permitindo investigar outras coisas - e espaço e tempo nos conteúdos mediáticos. Para conseguir a eficácia deste agendamento - isto é, o controle da importância hierárquica das notícias - o Governo necessita de controlar a marcação da cobertura e atenção mediáticas. Noutro Governo, Jorge Coelho fazia-o através da TSF. Agora, a Lusa é, neste domínio, de capital importância. Controlar a agenda pela Lusa pode significar a inundação dos outros media com informação governamental, deixando de fora acontecimentos previstos que não interessa ao executivo noticiar.
[…]
Uma terceira técnica da nova propaganda visa "tapar" notícias que desagradem ao Governo. A oposição tem previsto fazer isto ou aquilo? O Governo anuncia uma medida qualquer, mesmo que fora do tempo. Os sindicatos fazem greve de grande impacto? Arranja-se uma manchete importante para esse dia, de forma a encher os noticiários e a esvaziar da agenda outros órgãos do Estado, a oposição ou a sociedade civil. Dado que o Governo não pode evitar a atenção dos media às outras instituições e partidos, usa a técnica do abafamento dos outros no espaço público. "

Eduardo Cintra Torres In: Público (22/10/2006)
Espero que mantenham a vigilância não depreciando o súbito aparecimento de spam político [uma metamorfose do publicitário] na blogosfera… ;)

21 de outubro de 2006

Ranking...

Bluff II

“[…] As candidaturas ao Programa (expressas nas fichas de candidatura anexas) são realizadas em duas fases. A primeira tem como objecto a Medida 1 (actividade interna) e as candidaturas foram apresentadas, junto das DRE pelos Estabelecimentos de Ensino até ao dia 16 de Outubro.

A Fase 2 de candidaturas, a decorrer em período a anunciar, contemplará as candidaturas à Medida 2 (actividade externa) e novas actividades a integrar na Medida 1 com vista ao total aproveitamento dos recursos disponíveis.

As candidaturas a cada uma das medidas são apreciadas pelas DRE e negociadas caso a caso com os estabelecimentos de ensino, após o que serão submetidas a aprovação por parte da Comissão de Acompanhamento do PDE06/07.” In: Programa do Desporto Escolar
É o Simplex!

Mas nem todas as culpas podem ser imputadas à tutela por não ter realizado atempadamente o trabalho de casa. É certo que antes do brilharete do anúncio público das medidas ou reformas, os responsáveis políticos devem garantir que a estrutura de apoio às escolas está operacional. E não foi isso que aconteceu. Por essa razão, tem pairado a indefinição do sentido das mudanças, o que fomentou a indecisão nos conselhos executivos, alguns dos quais ainda aguardam informações precisas da tutela para autorizarem o início das actividades.

É verdade que muitos conselhos executivos também ajudaram à festa. Por falta de audácia ou receio do “fantasma” da inspecção, não souberam aproveitar uma brecha no programa que diz claramente que “Sempre que os estabelecimentos e ensino reúnam as condições necessárias, as actividades e as modalidades propostas devem ter início a partir do primeiro dia de aulas, devendo, pelos mais diversos meios (ordem de serviço interna, informação às turmas, cartazes, etc.), ser feita uma alargada divulgação das actividades e horários de funcionamento.

O programa do desporto escolar leva cerca de duas décadas de execução. A reforma do programa é, a meu ver, inevitável e urgente, mas não pelas razões que levaram o governo a intervir. Os motivos de ordem conceptual deviam ter colocado as razões de natureza economicista em 2º plano. Exige-se um desporto escolar verdadeiramente inclusivo sem equívocos e ambiguidades organizacionais. O sistema piramidal é exclusivo e, apesar de se evocar a actividade interna como a bandeira do DE, esta nova versão privilegia as actividades externas. E não precisamos de grande acuidade analítica para confirmar esta tese. Basta observar a redução horária dos professores com actividade externa e interna para percebermos o que é verdadeiramente importante para o ME.

20 de outubro de 2006

Bluff

O desporto escolar ainda não chegou a todas as escolas… mas isso interessa alguma coisa? Já foi anunciado e as pessoas já se esqueceram!

Em Julho dava alvíssaras a quem encontrasse o programa do desporto escolar. Ninguém as reclamou. Em Outubro, lá o encontrei… os alunos é que ainda não, ou melhor, os alunos é que continuam à espera, não do programa mas das actividades! É porquê? Porque há escolas que esperam a autorização da tutela para conceder a creditação horária aos professores. E, por enquanto, sem professores não existe desporto escolar.
Como presumira na altura, o programa do desporto escolar anunciado com pompa e circunstância pelo secretário de estado ainda antes das férias fora, afinal, um bluff.

Uma rotura anunciada?…

Neste momento, as organizações que integram a plataforma de sindicatos de professores respondem, em conferência de imprensa, à 4ª proposta de revisão do ECD e às declarações do Secretário de Estado Adjunto e da Educação, em que subjazem diversas ameaças quanto ao futuro do processo negocial de revisão do ECD.
Como não acompanho em directo a conferência de imprensa e não tenho nas mãos o baralho todo, a meu ver, a plataforma sindical não terá outra alternativa para prosseguir na “negociação” a não ser exigir a eliminação da obtusa condição de condicionar um compromisso com o termo da conflitualidade que se tem desenvolvido em torno das propostas do ME e da actuação dos seus dirigentes.

O ME continua a defender que a 3ª proposta de revisão do ECD é aquela que melhor defende o interesse público, que melhor serve o objectivo de promover a qualificação dos portugueses e que mais contribui para um bom desempenho do sistema educativo. Mas não tem sido nada fácil camuflar os verdadeiros objectivos da mudança: a redução da despesa pública tomando de assalto os vencimentos dos professores [e disso, o ME não está disposto a abrir mão].
Esta 4ª proposta visa, apenas, criar a ilusão de um recuo do governo fazendo passar para a opinião pública a ideia de que se encontra de boa-fé no processo negocial e que, a existir uma rotura negocial, a responsabilidade não lhe poderá ser imputada. E creio mesmo que este documento pretendeu acelerar essa rotura negocial. E porquê? Porque desse modo desobstruirá o caminho ao processo da mudança legislativa e garantirá o cumprimento dos prazos do combate à redução do défice; porque não poderá ceder na questão da divisão da carreira e a margem de manobra negocial está próxima do limite; porque não acredito na tese de ingenuidade política para explicar uma redacção do documento que deixa perpassar uma chantagem à acção sindical.

É uma pena que os que se excluem do dispositivo negocial ou o utilizam de maneira oportunista não assumam a sua auto-exclusão.

Aprender a negociar a mudança…

… porque nunca é tarde para aprender!

Perrenoud(1) formula a velha questão retórica «A quem pertence a escola?» para responder de forma pragmática: a escola pertence aos que trabalham para lhe dar coerência e pertinência. O autor reconhece que não há uma resposta clara e definitiva e que esta pergunta ressurgirá em todos os momentos de crise da negociação, retirando-se então uns com o direito que lhes confere o estatuto, os outros com a força que lhes dá o número e a mobilização dos seus aderentes.
“[…] Que ninguém seja excluído do dispositivo. E os que se excluem ou o utilizam de maneira oportunista assumam a sua auto-exclusão.”

(1) Perrenoud, P. (2002). Aprender a negociar a mudança em educação – Novas estratégias de inovação.Asa. Porto.

19 de outubro de 2006

Sinais…

Vários bloggers têm assinalado mudanças, mais ou menos pronunciadas, no discurso nos fazedores de opinião assalariados, no diferendo entre o ME e os professores. Parece ter chegado ao fim uma fase marcada pela exaltação da ministra [diria por tudo – pelas medidas anunciadas - e por nada – pela simples aparência] e emerge uma nova fase que posso designar de reprovação [em alguns casos ainda envergonhada] das suas competências de comunicação. Mas não são apenas as competências individuais da ministra e da sua equipa que têm merecido reparos pouco abonatórios dos distintos comentadores. É questionada a eficácia da estratégia [de confronto] e a eficiência dos processos negociais. O caminho, a meu ver, parece irreversível. Se ainda é cedo para aferir o alcance dos danos colaterais deste diferendo [e estou a pensar no que significa uma perda de credibilidade da equipa ministerial], é tempo de desmontar a retórica perniciosa [e que bem que esse trabalho está a ser feito pelo Paulo e pelo Henrique na blogosfera] que assenta num discurso da “crise”, que foi muito bem retratado pelo historiador Rui Tavares. É tempo de conservar uma atitude pró-activa, de vigilância e de abnegação. É tempo de lermos a 4ª versão da proposta de revisão do ECD...

Adenda: Enquanto folheava a pseudo 4ª proposta, não me saía da cabeça aquela música dos Trabalhadores do Comércio “TAQUETINHO OU LEBAS NO FUCINHO”…

16 de outubro de 2006

Professor em greve.

Regresso na 5ª feira!

Adenda: 3ª feira (manhã) – 60%; 3ª feira (tarde) - 88%

Adenda II: Alguém viu o Prós e Contras desta 2ª feira? É que fartei-me de rir com a peixeirada…

Adenda III (ou agenda ;)): 4ª feira (manhã) - 66% - turno único

Serviço público: Divulga os dados da tua escola, aqui ou no teu espaço!

15 de outubro de 2006

Não façam só alguma coisa, fiquem parados

“Os debates sobre a escola (…) e a confusão que frequentemente os marca, mais do que a complexidade da “crise da escola”, exprime uma crise do modo de pensar a escola.” (Canário, R.)
A Teresa descobriu o blogue do historiador Rui Tavares para destacar este belíssimo texto - Não façam só alguma coisa, fiquem parados.
É de enaltecer a extrema lucidez do historiador... Vale a pena ler até ao fim!

13 de outubro de 2006

Vagueando pelo relatório das Taipas *

III – Domínios chave do desempenho educativo - Síntese e classificação
1. Resultados
A escola define como objectivo central a aproximação entre os resultados nos exames nacionais e as classificações internas e vários interlocutores enfatizaram o facto de ser “a melhor do ranking no concelho de Guimarães”. In: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO EXTERNA - ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS (p.3).

Três breves comentários:
1. Um dos grandes problemas que se colocam às escolas que estabelecem os seus objectivos orientados para os resultados dos alunos nos exames nacionais é o perigo de se começarem a delinear estratégias defensivas que lhes possam assegurar um lugar no ranking, nomeadamente: “convidar” os alunos a desistirem [“sugerindo” anulações de matrículas] não os levando a exame; e a adopção de critérios “apertados” para que muitos alunos não acedam aos exames…

2. Que lugar ocupam as disciplinas que não entram nesta grande competição nacional?

3. Finalmente, este objectivo deixa de fora uma multidimensionalidade de problemas que não são traduzíveis em provas de exame.

* Nota: Porquê esta incursão pelo relatório das Taipas? Ao contrário do que possa parecer, este destaque não se deve ao desempenho do seu presidente na aparição pública no programa do Prós. Foi o critério de proximidade geográfica que ditou a minha escolha.

12 de outubro de 2006

Avaliação externa das escolas...

"Além da observação directa e da análise documental realizada pela equipa externa, a Escola procedeu à sua própria apresentação de acordo com um guião previamente definido (Anexo 2). Em sequência, foram entrevistados e ouvidos em sucessivos painéis, as estruturas de direcção, gestão e administração bem como as de orientação pedagógica da escola, representantes dos serviços de orientação e apoios educativos, dos alunos, dos funcionários não docentes e de pais e encarregados de educação. "
In: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO EXTERNA - ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS.
Preciso de mais tempo para analisar os relatórios de avaliação às escolas e agrupamentos, o que me obriga a suster os comentários.
Procurei nos documentos de suporte ao piloto de avaliação externa, sem sucesso, informação detalhada sobre os critérios de escolha e constituição dos painéis das entrevistas.

Hummm… gato escaldado…

Adenda: Ofício dirigido ao Secretário de Estado e a versão integral da contraproposta sindical para o ECD [a contraposta foi rejeitada pelo ME].

O importante é chegar a professora titular. *

Foi com este pensamento que tracei a rigor o meu destino, há tantos anos atrás. Filhos, tê-los-ei aos quarenta, antes nem pensar pois quatro meses de licença de maternidade lançar-me-iam irremediavelmente no nível Regular impedindo-me a tão desejada progressão na carreira.
E assim foi. Tudo me correu lindamente até ao décimo sétimo ano de leccionação. E ao longo desses anos aprendi a agradar a todos, aos alunos, aos pais e ao executivo da escola.
Porque chegar a professora titular implicava uma escolha entre outros muitos candidatos, a quem tudo tinha corrido igualmente bem.
Cheguei, inclusivamente, a ter alunos que passavam o fim-de-semana comigo e com a minha família. E eu até lhes passava as t-shirts a ferro e fazia trancinhas no cabelo das meninas.
E um dia a televisão bateu-me à porta para fazer uma reportagem, assim inesperadamente. Era eu de avental a servir-lhes a sopinha, a dar-lhes conselhos e a fazer-lhes festinhas na cabeça.
E o jornalista até me perguntou se também lhes cantava canções de embalar e eu disse-lhe logo que sim, que até lhes lia os "Versos de fazer ó-ó" do José Jorge Letria e que depois de adormecerem aproveitava para lhes ir lendo o "Memorial do Convento".
E expliquei-lhes que a leitura durante o sono era um método totalmente inovador em que tudo se apreende de forma suave e que assim não havia o trauma de o livro ser grande ou de os jovens não perceberem as palavras e terem de ir ao dicionário, que isso dá muito trabalho, coitadinhos!
Tudo me corria às mil maravilhas até ao dia em que uma apendicite aguda me levou à cirurgia. Oh, maldita apendicite!
E voltei à escola ainda com os pontos fresquinhos, a pensar que só tinha dado cinco faltas. Mas enganara-me nas contas com a história da anestesia. Afinal eram seis as faltas, seis! E já não teria Bom na avaliação, somente um Regular. E já não passaria a professora titular.
Foram mais seis anos de espera.
Deixa, aos quarenta e seis ainda vou a tempo de ser mãe. É uma gravidez de risco mas isso que tem, se há já quem tenha os filhos aos cinquenta, aos sessenta e qualquer dia aos cem!
Mas aos quarenta e cinco foi a hérnia discal. Oh, maldita hérnia discal!
Ainda pensei em ir de cadeira de rodas ou se necessário fosse, de maca, mas o médico chamou-me louca e reteve-me dez longos dias no hospital.
E foi assim que somente aos cinquenta e dois cheguei a professora titular. Era tarde demais para ser mãe.
Mas, meu Deus! Eu era professora titular!
Fiquei tão radiante que até me lembrei de bordar em todos os lençóis de renda, em arabescos graciosos, "professora titular", "professora titular" e em toalhas e em quadros de ponto cruz, "professora titular", "professora titular" e depois mandei gravar em todas as minhas canetas e no estojo dos lápis, "professora titular", "professora titular" e na porta do meu carro e no guarda-chuva e no guarda-sol porque, faça sol ou faça chuva, eu sou professora titular!
Agora que sou professora titular tenho, além das aulas, muitos e variados cargos que me dão tanto que fazer.
Mas ainda vou arranjando um tempinho para ir aconselhando os novos e vou-lhes ensinando como se chega a titular e como é importante ir ao médico todas as semanas e levar todas as vacinas possíveis e imagináveis e como é totalmente recomendável andar com um triplo airbag no carro.
E digo-lhes e repito-lhes: " professor prevenido vale por dois". Mas apesar de todos os meus conselhos e avisos ainda há os que, desprezando-os, se vêem de repente em maus lençóis.
Foi o caso de um brilhante ex-aluno meu, brilhante universitário, brilhante estagiário, brilhante professor que tendo passado com distinção o Exame de Estado e tendo obtido aprovação na entrevista, não conteve os seus impulsos mais genuínos e românticos durante o ano probatório, fruto da sua juventude e inexperiência e não se cansou de defender o indefensável, a exigência, o rigor, a disciplina, criticando com excessivo entusiasmo o facilitismo reinante e não se cansou de duvidar e de contestar.
E eu que lhe dizia: " Meu filho, tem tento na língua, como queres tu chegar a professor titular? Vá aprende comigo e diz "Ámen"! "Ámen"! Mas ele que não me ouviu. E deu-se o caso, vá lá saber-se porquê, de o jovem brilhante professor obter, no final do ano probatório, a infeliz classificação de 6.8 quando precisava apenas de 6.9 para integrar o quadro. E foi assim exonerado da profissão.
E teve de arranjar logo umas tabuinhas para se ir juntar aos outros muitos professores, desempregados e exonerados, lá debaixo da ponte Vasco da Gama porque ele me dizia que preferia a terra firme, senão tinha arranjado um botezinho como os outros fazem.
E certa manhã ajudei-o a levar as tabuinhas e a construir a cabaninha debaixo da ponte.
Era um dia brilhante, de cores perfeitas, em que o sol resplandecia sobre o rio azul e o sapal era verde marinho e gracioso, salpicado de aves pernaltas. Mas lá estavam as centenas de cabaninhas e os milhares de botes pacientemente amontoados. E ali tudo era cinzento e triste.
E foi nesse momento que caí em mim e vi a injustiça daquilo tudo. A minha luta para chegar a professora titular parecia-me agora absolutamente vazia e sem sentido.

Eu deveria ter lutado sim mas contra o "novo" estatuto da carreira docente de 2006!!

Por isso, como era urgente recuperar o atraso de trinta anos, transformei-me em gigante Adamastor e peguei nos milhares de professores e respectivas famílias que viviam nos botezinhos e nas cabaninhas e levei-os para o Ministério da Educação.
Todo o edifício estremeceu à nossa chegada porque nós trazíamos uma tempestade de mil dias.
Mas o "novo" estatuto depressa sucumbiu, de medo e de vergonha, porque muitas tinham sido as injustiças que criara.
Adeus "novo" estatuto! Vai e não voltes nunca mais porque nós queremos mudança mas não queremos injustiça!

*
Cristina Neves

10 de outubro de 2006

...


Adenda:
Para memória futura…


Esta entrada é um hino e um tributo à dimensão estética que radica em cada um de nós. A busca da perfeição é algo que nos transcende desafiando-nos à descoberta permanente do que somos. A música e um corpo humano podem ser a expressão dessa perfectibilidade e constituir, simultaneamente, um triunfo sobre a insensibilidade e a incompreensão…
Um bem haja...

9 de outubro de 2006

Banalidades…

Ontem ouvi o Professor Marcelo na RTP1 e li a crónica do Vasco Pulido Valente no Público. Ambos os comentadores deixaram algumas notas sobre o ECD e um deles confessou mesmo ter lido o documento, o que não deixa de ser fantástico.

O primeiro disse que a ministra tem razão na substância da “reforma”, nomeadamente, a utilização de um sistema de cotas para limitar o acesso dos professores ao topo da carreira. Não disse, contudo, o porquê [presumo que não teria argumentos ali à mão]. Condena a ministra pela forma áspera e rápida como pretende impor as mudanças sem contar com a colaboração dos actores. Desse modo comprometerá o sucesso das mesmas.

O segundo disse que os professores não têm razão porque rejeitam a avaliação e o “ano à experiência” o que, continuando a citar o autor, “não seria útil nem sensato acabar com ele”. Diz também que há um ponto em que a fúria dos professores se compreende: “A tentativa de regular e dirigir um sistema tão extenso, pesado e complexo de um prédio da 5 de Outubro deu, e dará sempre, um péssimo resultado”. Ora, o que devia vir por aí era um”mercado de ensino” porque “ […] o mercado, embora imperfeito e limitado, ajudaria a devolver alguma responsabilidade ao sistema: aos pais porque pagariam, aos filhos porque a violência, a indisciplina e a preguiça custariam caro, e aos professores porque a concorrência lhes traria uma autoridade real.”

E assim se faz a opinião neste país… banal q.b.

Nota: Ah… o professor Marcelo lembra os professores que as greves são a pior forma de ganhar a opinião pública porque terão os alunos e os pais contra eles. Pela parte que me toca agradeço o aviso, caro professor. Evidentemente farei greve!

8 de outubro de 2006

Autismo…

Os reitores portugueses não foram informados sobre o acordo entre Governo e a universidade norte-americana Massachusetts Institute of Technology (MIT), que prevê projectos de formação e investigação em engenharia e gestão em sete universidades e 26 centros de investigação.

"Há algo indispensável para este tipo de projecto ser eficaz: as pessoas serem postas a falar umas com as outras. E os reitores deviam ter sido informados também", lamenta o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), José Lopes da Silva, acrescentando desconhecer os critérios da escolha das universidades envolvidas. "Fui sabendo pelos colaboradores da minha universidade", refere.

A notícia é apenas mais um exemplo de uma governação autista. Este governo PS parece ter regressado à sua adolescência política. É como se pretendesse viver as mudanças típicas desta fase da ontogénese, como se buscasse uma nova identidade: ora apela à herança genética socialista que sempre foi dialogante e de proximidade; como cede aos caprichos de um tempo marcadamente individualista, hostil, pouco solidário. Parece fugir da sua natureza a troco de uma popularidade fácil e de uma governação a qualquer preço.
Dir-me-ão que este comportamento denota a influência das novas amizades… Até aqui tudo bem, não fora a delapidação do capital de confiança acumulado na primeira juventude!...

Adenda 1: Este texto do MJMatos [um bom companheiro de viagem :)] é intemporal!

6 de outubro de 2006

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner
“No Tempo Dividido e Mar Novo”, Edições Salamandra, 1985, p. 79

4 de outubro de 2006

Desfaçatez!…

Será possível manter os níveis salariais?
“É possível desde que haja o Bom como princípio para a progressão e o exame de mérito. Os professores podem até chegar muito cedo ao topo. Aqueles que tenham avaliações consistentes de Muito Bom e Excelente e façam o doutoramento, chegam ao topo da carreira em 12 anos e não em 18 (período normal mínimo para candidatura a titular). Aqueles que cumprem o mínimo não têm direito a desenvolver carreira e poderão perder dinheiro.” (Jorge Pedreira in: JN)
Adenda 1: Resisto à chalaça com o nome do personagem...

Adenda 2: ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE - ALTERAÇÕES À PROPOSTA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NO ÂMBITO DO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO COLECTIVA (4/10/2006)

Adenda 3: Vou participar na marcha nacional… evidentemente!

3 de outubro de 2006

Ambíguo, eu?…

No quadro da política educativa encontramos ambiguidades significativas: Nos discursos, nas medidas legislativas, nas práticas, nas reformas, nas contra-reformas, etc.
É evidente que essas ambiguidades geram expectativas contraditórias ou mesmo equívocos, alguns dos quais promovem a descrença nas virtudes do sistema. Sendo a hipocrisia algo de condenável, a organização exposta a conflitos “insanáveis” que não se consegue comportar de forma hipócrita sentirá mais dificuldades em relação a outra organização que esteja habituada a usar essas estratégias. Agora que a escola pisca o olho à gestão e organização empresariais, há que começar a perceber o comportamento organizacional que sobrevaloriza o resultado escolar. E quanto mais a escola se preocupar em justificar a qualidade dos seus produtos [venham lá esses exames… ;)] mais ficará vulnerável aos ataques externos de outras organizações cujos resultados são contáveis. Diria que quanto mais a escola se preocupar em satisfazer as exigências externas da (ir)racionalidade empresarial mais se afastará da sua vocação. E se entenderem do que disse que defendo a balcanização escolar, isso só pode significar que o meu discurso já está inquinado…
Que grande nóia!

2 de outubro de 2006

Dou alvíssaras…

… a quem esclarecer o que se passa com o Desporto Escolar (DE). Há escolas que suspenderam as actividades internas e externas do DE só porque ainda não receberem autorização da tutela para distribuir o crédito horário pelos professores. Que sentido é que isto faz?
É que ainda não esqueci o pomposo anúncio do reforço de verbas para o DE realizado pelo secretário de estado da educação antes das férias…

[O assunto da entrada anterior será retomado brevemente…]