Recuperei do Público um texto interessante. É um olhar lançado a partir da escola situada - espaço onde se manifestam todos os problemas e aferidas as soluções. É um texto que nos conduz aos problemas concretos que marcam o dia-a-dia das escolas exigindo dos professores competências que o saber técnico parece ignorar.
"Respostas da escola
Na escola do primeiro ciclo de Carrazeda detectaram-se dois irmãos, de 6 a 8 anos pejados de piolhos.(...) Esta situação, se não fosse resolvida, para além dos inconvenientes para as duas crianças, traria um problema de higiene pública para toda a comunidade escolar implicada. (...)
Num tempo de novos paradigmas familiares, de surtos migratórios que condicionam as relações sociais, de discriminação social e de criação de fossos sociais cada vez mais definidos, por falta de modelos de referência para os jovens, de aumentos da criminalidade e delinquência juvenis, num tempo em que os antigos meios de socialização vêem a sua influência cada vez mais reduzida (família, Igreja, clubes, partidos, movimentos associativos), exige-se à instituição escolar a responsabilidade de dar resposta a todos os problemas da sociedade.
É à escola que todos apontam o dedo, no sentido de resolver os problemas que eles mesmos, pais, instituições e poder político, não o sabem ou podem fazer. Não é difícil criar uma lista das responsabilidades a ela atribuídas: transmite conhecimentos, certifica saberes, gera valores humanos, estrutura aprendizagens, desenvolve aptidões, incrementa paradigmas, molda comportamentos, integra socialmente, prepara para a cidadania, ensina a democracia, substitui o encarregado de educação na transmissão de valores disciplinares e de exigência...
O fardo parece tornar-se insuportável para esta instituição social. É fácil atribuir ao sistema escolar a responsabilidade por qualquer falha de um cidadão ou de um grupo (...). Os condutores têm acidentes porque a escola não lhes soube ensinar as regras de trânsito. Os jovens metem-se na droga e enveredam pela delinquência porque o professor não lhes soube transmitir os valores da cidadania...
Voltando ao caso com que iniciámos este escrito, conseguiu-se com as boas graças do presidente da junta comprar um champô desparasitante e, recorrendo aos balneários da EB 2, 3 e à boa vontade de um professor e de um funcionário, desparasitar as cabeças dos alunos referidos. Foi esta a resposta que se deu e à primeira vista a mais acertada. Porém, se reflectirmos um pouco mais não estará também a instituição, ao resolver problemas que não tem de solucionar, a contribuir para uma cultura da irresponsabilidade de outros organismos sociais?"
José Alegre Mesquita
Carrazeda de Ansiães
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