3 de janeiro de 2008

Debate público é chão que não dá uvas...

O PGuinote desculpar-me-á o atrevimento de usar o seu pessoalíssimo guião de motivos que o lançaram no debate sobre a proposta do governo para a gestão escolar. Faço-o por preguiça [presumo que tal se deva a um passageiro – assim o espero – estado de letargia endémica] e por considerar que as suas perguntas servem para justificar uma presumível não adesão do professorado neste ou em qualquer outro debate público que seja lançado em terreno educativo.

Os meus colegas da blogosfera desculpar-me-ão a presunção de considerar possível generalizar e tipificar a atitude de um colectivo tão diverso e disfuncional como é a classe docente.

Porque [não] interessa este debate? O professor é um profissional de acção. Labora no terreno do fazer “a formação dos sujeitos” através do acto educativo. Cada vez mais entretido com a transmissão do saber e do saber-fazer constituídos, ao professor de hoje é cada vez menos exigido o saber integrador que articule os saberes científicos, práticos e técnicos. É cada vez menos requerido, no nosso sistema de ensino, um professor-homem-de-pensamento, como diria Manuel Ferreira Patrício. Só um professor insatisfeito com a função de mero técnico de ensino se predisporá a participar neste debate.

A quem [não] interessa este debate? Este debate interessa aos burocratas, aos professores de gabinete, aos sindicatos, aos gestores e profissionais da CONFAP, ao professor promotor e agente de cultura. O professor da turma, o professor que se preocupa apenas com a SUA sala de aula e com a SUA actividade estritamente curricular não tem tempo, nem vontade, para se lançar em “esoterismos”.

Como se deveria realizar idealmente este debate? Este debate [público] é dispensável quando observado pela lente pragmatista, utilitarista. Um professor que manifeste a sua dimensão política no debate intra-muros, nas lutas pelo espaço disciplinar, só se lançará na acção [micro]política quando sentir que esse espaço periga. A realizar-se, este debate deveria ocupar os mais “dotados” e interessados para as questões da gestão.

Por que razão no universo acho eu que tenho algo a dizer sobre o assunto? Não tenho nada a dizer sobre o assunto e tenho motivos para detestar quem se ache capaz de dizer algo de interessante sobre o assunto.

Adenda: Abriu o debate sobre esta matéria no Aragem.

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