28 de agosto de 2006

Paixões… identidades… e fauna

Entro ao serviço no dia 4 de Setembro. Eu sei que me sobram os motivos para alterar os velhos hábitos [não tenho memória de um ano lectivo tão fértil em matéria de despeito como foi o anterior…], e como ainda não cedi aos ataques deste ME, transformarei a última semana de férias numa verdadeira pré-época lectiva: releio programas; recupero leituras complementares; organizo materiais...

Enquanto releio alguns desses textos recupero o ritmo de trabalho e acabo situado na profissão. Foi numa dessas passagens que estabeleci uma conexão entre duas formas de identidade profissional e uma das intenções deste ME [recordam-se de um artigo da proposta de alteração do ECD – o Artº 41?]: que a avaliação dos professores favoreceria o trabalho colaborativo dos docentes.
Para além de estabelecer uma conexão [proponho-vos um desafio: descobrir os contornos dessa relação ;)] complemento uma parte deste comentário da Isabel [anexo à entrada anterior] e por fim, deixo escapar, sub-reptícia e ironicamente, uma achega à fauna existente nas salas de professores…

"Sachs (2003) reconhece duas formas antagónicas de identidade profissional. A primeira é a empresarial, que a autora associa a professores eficientes, responsáveis e responsabilizáveis, que demonstram submissão aos imperativos políticos impostos externamente e que possuem um ensino de elevada qualidade, avaliado com base num conjunto externo de indicadores de competência. Esta identidade poderá caracterizar-se como sendo individualista, competitiva, controladora e reguladora, definida externamente e orientada por standards.
A segunda perspectiva é a activista, que é guiada por uma crença na importância da mobilização dos professores no sentido de melhorar as condições de aprendizagem dos alunos. Neste tipo de identidade, os professores preocupar-se-ão, em primeiro lugar, com a criação e o desenvolvimento de standards e de processos de ensino que possam proporcionar aos estudantes experiências democráticas (Sachs, 2003) segundo a autora, a primeira é o produto desejado pelas agendas gerencialistas e de performatividade, enquanto que a segunda parece esta orientada para a investigação, para salas de aula colaborativas e para escolas onde o ensino está intimamente ligado a amplos valores e ideais da sociedade e onde os propósitos do ensino e da aprendizagem transcendem o instrumentalismo limitado dos programas de reforma actuais.
No entanto, mesmo para considerar a ideia de uma agenda activista, é necessário que haja coragem, confiança e uma compreensão clara e apaixonada do comprometimento com um conjunto de propósitos morais. Ser um professor activista apaixonado é afastar-se do ensino isolado e demasiado individualista, descrito por Bottery e Wright do seguinte modo:
... não só serve fins políticos e económicos controversos, como é também limitado na sua capacidade para desenvolver uma geração que possa responder, de forma adequada, às exigências complexas e em constante mudança de um contexto mais global, assim como para proporcionar destrezas e atitudes necessárias para a criação de uma cidadania mais emancipadora e participativa. (Bottery e Wright, 2000, p. 100)
Judyth Sachs concorda com esta asserção, sugerindo que o que é necessário neste momento são profissionais que possam resistir à tentação de aceitar uma "rotina monótona" e uma "homogeneidade da prática" (Sachs, 2003, p. 15). Estes profissionais não permitem que os contextos de ensino exigentes, tanto a nível físico como emocional, diminuam a paixão e a esperança que são essenciais para o ensino de elevada qualidade.” [Day, 2004, pp.89-90]

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